quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Kurt Cobain: A Lenda que não morreu! 23ª Parte


COMO HAMLET

Seattle, Washington
Março de 1994

"[..] como Hamlet, eu tenho de escolher entre a vida e a morte. "
Do bilhete de suicídio em Roma.

QUANDO KURT SE SENTOU PARA REDIGIR o bilhete de suicídio
no hotel Excelsior, ele pensou em Shakespeare e no príncipe da Dinamarca.
Dois meses antes, durante a tentativa de recuperar-se do vicio em Canyon
Ranch, seu medico o advertiu de que ele tinha de decidir se continuava com
o vicio — que, em última instância, significaria a morte — ou se procurava
ficar sóbrio, e que sua resposta determinaria sua própria existência. Kurt
respondeu: "Você quer dizer, como Hamlet?" No bilhete de suicídio, Kurt
citou o personagem mais famoso de Shakespeare: "O dr. Baker diz que,
como Hamlet, eu tenho de escolher entre a vida e a morte. Estou escolhendo
a morte". O resto do bilhete mencionava o quanto ele estava enjoado de
viajar e que Courtney "não o amava mais".
Este argumento final era reforçado acusando a esposa de dormir
com billy Corgan, de quem ele sempre tivera ciúme Em uma das suas
conversas naquela semana, ela havia mencionado que Corgan a convidara
para sair de férias com ele. Ela se recusou, mas kurt ouviu isto como uma
ameaça e sua imaginação fértil enlouqueceu. "Eu prefiro morrer do que
passar por outro divórcio", escreveu ele, referindo-se á separação de seus
pais.
Ao descobrir o corpo inanimado de Kurt, Courtney chamou a
portaria e Kurt foi levado ás pressas para o Hospital policlínicas Umberto 1.
Courtney havia encontrado duas cartelas vazias de Rohypnol ao lado de Kurt
— ele tinha ingerido sessenta pílulas do tamanho de uma aspirina, retirando
cada uma de seu invólucro individual nas cartelas. O Rohypnol tem dez
vezes a potência de um Valium, e o efeito conjugado era suficiente para
deixá-lo bem próximo da morte. "Ele estava morto, legalmente morto",
informou Courtney depois.
Entretanto, depois que seu estômago foi drenado, Kurt tinha uma
leve pulsação, mas estava em coma. Os médicos disseram a Courtney que
era uma questão de probabilidade; ele poderia se recuperar ileso, poderia ter
uma lesão cerebral ou poderia morrer. Durante um intervalo em sua vigília,
ela tomou um táxi para o Vaticano, comprou mais rosários, ajoelhou-se e
rezou. Ela ligou para a família dele em Grays Harbor e eles também rezaram
por ele, embora sua meia-irmã Brianne, com oito anos de idade, não
conseguisse entender por que Kurt estava "em Tacoma".
Mais tarde naquele dia, a Cable News Network interrompia uma
transmissão para informar que Kurt havia morrido de uma overdose. Krist e
Shelli atenderam o telefone e ouviram um representante da Golden
Mountain com a mesma triste noticia. A maioria das reportagens iniciais
sobre a morte de Kurt havia partido do escritório de David Geffen — uma
mulher que se identificou como Courtney havia deixado uma mensagem na
gravadora dizendo que Kurt estava morto. Depois de uma hora de pânico e
aflição, descobriu-se que o telefonema havia sido dado por uma impostora.
Enquanto seus amigos nos Estados Unidos eram informados de
que ele estava morto, Kurt mostrava os primeiros sinais de vida em vinte
horas. Havia tubos em sua boca e por isso Courtney lhe deu um lápis e um
bloco de anotações e ele rabiscou rapidamente; "Vai se danar", seguido de
"Tire essas porcarias de tubos do meu nariz". Quando finalmente pôde falar,
ele pediu um milk-shake de morango. Assim que seu estado tinha sido
considerado estável, Courtney havia feito com que ele fosse transferido, onde
julgou que ele seria mais bem cuidado.
No dia seguinte, o dr. Osvaldo Galleta concedeu uma entrevista
coletiva e anunciou: "Kurt Cobain está melhorando de modo claro e rápido.
Ontem, ele foi hospitalizado no American Hospital de Roma em
estado de coma e falência respiratória. hoje, ele esta se recuperando de um
coma farmacológico, não devido a narcóticos, mas do efeito combinado de
álcool e tranqüilizantes que haviam sido receitados por um médico".
Courtney disse aos repórteres que Kurt não ia "escapar" dela assim tão
facilmente. "Eu o seguirei até o inferno", disse ela.
Quando kurt despertou, estava de volta a seu pequeno pedaço de
inferno. Em sua cabeça, nada havia mudado; todos os seus problemas ainda
estavam com ele, mas agora eram acentuados pelo embaraço de um extrema
publicidade á sua má conduta.
Ele sempre receara ser preso, mas o fato de ter sido declarado
morto pela CNN após aquela overdose era quase a única coisa que poderia
ser pior e apesar de uma experiência de proximidade com a morte, e de vinte
horas em coma, ele ainda ansiava por opiatos. Mas tarde, ele se gabaria de
que um traficante o visitara em seu quarto no hospital e bombeara heroína
pelo frasco da intravenosa; ele também ligara para Seattle e tomara
providências para que um grama de heroína fosse deixado nos arbustos de
sua casa.
Em Aberdeen, Wendy ficou muito aliviada ao saber que Kurt estava
melhor. Wendy disse ao Aberdeen Daily World que seu filho estava "numa
profissão na qual não tinha energia para estar". Ela contou ao repórter
Claude Iosso que havia suportado bem a noticia até que olhou para a
parede; "Dei uma olhada no retrato de meu filho e vi os olhos dele, e não
agüentei.
Eu não queria meu filho morto". Wendy estava ás voltas com sua
própria saúde naquele ano ela estava lutando com um câncer de mama.
Kurt saiu do hospital no dia 8 de março e quatro dias depois
tomava um vôo para Seattle. No avião, ele pediu a Courtney um Rohypnol,
em voz tão alta que os outros passageiros o ouviram. Ela lhe disse que o
medicamento tinha acabado.
"Quando chegaram ao aeroporto de Sea-Tac, Kur foi tirado do avião
numa cadeira de rodas, "com um aspecto horrível", de acordo com Travis
Myers, agente da alfândega. Entretanto, quando Muers pediu um autógrafo,
Kurt o concedeu, escrevendo: "Ei, Travis, sem cannabis". Nos Estados
Unidos, a inquirição que ele receava, em sua maior parte, não aconteceu,
porque a declaração oficial da Golden Mountain era de uma overdose
acidental em Roma — poucos sabiam que ele havia tomado sessenta pílulas
ou que deixara um bilhete. Kurt não contou nem a seu melhor amigo, Dylan.
"Eu pensei que fosse uma overdose acidental, que já era o tradicional e digno
de crédito", lembra Dylan. Mesmo Novoselic e Grohl haviam sido informados
de que era uma overdose acidental. Todos na organização já haviam visto
antes as overdoses de Kurt; muitos já haviam se conformado com a idéia de
que seu consumo de drogas um dia lhe custar a vida.
A turnê européia tinha sido adiada, mas a banda e a equipe
haviam recebido instruções para que se preparassem para Lollapalooza. Kurt
jamais quisera tocar no festival e ainda tinha de assinar o contrato, mas a
administração supunha que ele concordaria. "O Nirvana havia confirmado
que compareceria ao Festival Lollapalooza de 1994", disse Marc Geiger,
promotor do evento. "naquele momento não havia nada por escrito, mas eles
estavam totalmente confirmados e estávamos trabalhando para finalizar os
contratos."
Kurt achava que a oferta não era kusta, ele não queria tocar em
um ambiente de festival e simplesmente não queria viajar. Courtney achava
que ele deveria aceitar o dinheiro, argumentando que o Nirvana precisava
daquele impulso na carreira. "Ele estava sendo ameaçado de ser processado
pelos shows que não realizou na Europa", lembra Dylan. "E eu penso que ele
achava que iria ficar arruinado financeiramente." Rosemary Carroll se
lembra de Kurt ter anunciado enfaticamente que não queria tocar no
festival. "Todos ao seu redor, tanto em sua vida pessoal como na
profissional, basicamente lhe diziam que el tinha de tocar no festival", disse
ela. Kurt lidou com esta situação como lidava com a maioria dos conflitos;
ele a evitou e, ao ser evasivo, matou a transação, "Ele estava se abstendo,
não das drogas, mas de lidar com as pessoas", lembra Carroll. "Foi um
momento tão difícil que eu acho que as pessoas exageravam e culpavam o
seu uso de drogas quando não estavam conseguindo dele o que queriam." No
entanto, as drogas estavam presentes, em quantidades maiores do que
nunca.
Courtney tinha esperança de que Roma assustasse Kurt — ela
ficara apavorada — assim como seu descuidado abuso a alarmara. "Eu
pirei", contou ela a David Fricke. Ela decidiu estabelecer uma regra de ferro
que, segundo esperava, manteria Kurt, Cali e ela mesma longe das drogas;
ela insistiu que não se tomaria nenhuma droga dentro da casa. A resposta
de Kurt foi simples e típica; ele deixaria sua mansão de 1 milhão e 130 mil
dólares e iria para motéis de dezoito dólares o pernoite na decadente avenida
aurora. Ao longo dos piores períodos de Vico, freqüentemente ele tinha se
retirado para esses locais sinistros, sem querer de dar ao trabalho, na
maioria dos casos, de se registrar sob um nome falso. Ele freqüentava o
Seattle Inn, o Crest, o Close-In, o A — 1 e o marco pólo, sempre pagando em
dinheiro — e, na privacidade do seu quarto, ele apagava durante horas. Ele
preferia estabelecimentos ao norte de Seattle: embora fossem menos
convenientes em relação a sua casa, ficavam perto de uma de seus
traficantes favoritos. Nas noites em que não voltava para casa, Courtney
entrava em pânico, receando que ele tivesse tomado uma overdose. Ela
rapidamente desistiu de sua política. "Eu gostaria de apenas poder ficar do
jeito que sempre era, apenas tolerando aquilo", contou ela depois a Fricke.
Mas não foi apenas Courtney que desanimou de controlar kurt — algo estava
diferente nele depois de Roma. Novoselic se perguntava se o coma realmente
não o havia deixado com uma lesão cerebral. "Ele não escutava mais
ninguém, lembra krist. "Ele estava tão ferrado." Dylan também notava uma
mudança: "Ele não parecia muito vivo. Antes, el tinha mais energia; depois
parecia monocromático". uma semana depois de Roma, o pai de Kurt ligou e
eles tiveram uma conversa agradável, porém curta. Ele convidou o pai para
uma visita, mas ninguém estava em casa quando Don chegou. Kurt se
desculpou no dia seguinte pelo telefone, alegando que estivera muito
ocupado. No entanto quando seu pai voltou, dois dias depois, Cali o
informou de que Kurt novamente tinha saído. A verdade era que Kurt estava
em casa, mas estava drogado e não queria que o pai o visse nesse estado. Na
próxima vez que se falaram, Kurt prometeu ligar assim que conseguisse uma
folga em sua agitada carreira.
Aquela carreira — pelo menos quando se tratava do Nirvana —
estava basicamente encerrada por volta da segunda semana de março. A
decisão de Kurt de cancelar a excursão, desistir de Lollapalooza e se recusar
a ensaiar finalmente confirmava o que Novoselic e Grohl vinham suspeitando
havia algum tempo. "A banda estava dissolvida", lembra Krist. O único
projeto musical que Kurt planejava era com Michael Stipe, do R.E.M. Stipe
chego a enviar passagens de avião para Kurt ir até Atlanta para uma sessão
de gravação que eles haviam programado em meados de março. No último
minuto, Kurt cancelou. No dia 12 de março, a policia de Seattle foi
despachada para a casa do Lago Washington depois que alguém ligou para o
911, mas desligou. Courtney atendeu a porta, desculpou-se pela chamada e
explicou que tinha havido uma briga, mas que agora estava tudo sob
controle. Kurt disse ao policial que "havia muita tensão" em seu casamento.
Disse que eles deveriam "fazer terapia".
No dia 18 de março, Kurt mais uma vez ameaçou suicidar-se,
trancando-se no quarto. Courtney chutou a porta, mas foi incapaz de
arrombá-la. Ele acabou abrindo-a voluntariamente e ela viu diversas armas
no chão. Ela apanhou um revólver calibre .38 e o apontou para sua própria
cabeça. "Eu vou puxar [o gatilho] agora mesmo ", ameaçou ela. "Eu não
posso ver você morrer novamente." Era o mesmo jogo de roleta-russa que
eles haviam jogado no hospital Cedars-Sinai em 1992. Kurt gritou; "Está
sem trava de segurança! Você não entende, não tem trava de segurança. Ele
vai detonar!". Ele tirou a arma dela. Mas, minutos depois, ele a trancou do
lado de fora novamente e voltara a ameaçar suicidar-se.
Courtney ligou para o 911 e dois policiais chegaram em questão de
minutos. O policial Edwards escreveu em seu relatório que Kurt afirmava
que "não [era] suicida e não queria se ferir. [...] Ele declarou que tinha se
trancado no quarto para se afastar de Courtney". Depois que a policia
chegou, Courtney tentou minimizar o episódio para que Kurt não fosse
detido. Só para se garantir, ela aponto para as armas dele e a policia
apreendeu três pistolas e o rifle semi-automático de assalto AR-15 do
incidente no verão anterior — as armas haviam sido devolvidas a Kurt um
mês depois da prisão original por violência domestica. A policia também
recolheu 25 caixas de munição e uma frasco de "pílulas brancas" — mais
tarde verificou-se serem de klonopin, uma benzodiazepina usada
principalmente para controle de convulsões. Kurt estava tomando grandes
quantidades desse tranqüilizante, achando que isto o ajudaria com a
abstinência o klonopin o deixava paranóico, maníaco e delirante. O remédio
não tinha sido receitado — ele o estava comprando na rua.
Os policiais levaram Kurt para a delegacia mas não o ficharam
formalmente. Ian Dickson estava passando pela rua Pine naquela noite e
deparou com Kurt numa esquina. Quando Dickson perguntou o que o amigo
estava aprontando, Kurt disse; "Courtney mandou me prender. Eu acabei de
sair da cadeia". Ele descreveu a briga, minimizando a questão das armas.
"Ele disse que era uma rusga entre namorados", lembra Dickson, "e que ele
estava deprimido porque realmente amava Courtney." Eles caminharam até
a pizzaria Piecora, onde Kurt se queixou de que estava tudo duro. "Ele me
pediu cem dólares emprestados e me perguntou se podia ficar na minha
casa", lembra Dickson. "Ele estava falando que ia pedir para sua mãe lhe
enviar algum dinheiro." Subitamente Kurt saiu dizendo que tinha de dar um
telefonema.
Quatro dias depois, Kur e Courtney estavam brigando quando
tomaram um táxi até o pátio de venda de carros American Dream. Courtney
insistia que Kurt considerasse outro Lexus, mas ele tinha outras idéias:
comprou um Dodge Dart 1965 azul-celeste por 2,5 mil dólares. Depois
colocou uma placa de "vende-se" em seu fiel Valiant. Na verdade, ele não
precisava do carro, porque passara a maior parte daquele mês de março
drogado demais para dirigir. à medida que seu abuso das drogas aumentava,
seus fornecedores habituais se recusavam a vender para ele: ninguém queria
o problema de ter um drogado famoso morrendo na escada do prédio. Ele
descobriu uma nova traficante chamada Caitlin moore, que morava no
cruzamento da Décima primeira com a Denny Way: e ela lhe vendeu uma
"speedballs", uma mistura de heroína e cocaína. Esta não era a preferência
de Kurt, mas Moore permitia que seus clientes roqueiros tomassem a droga
em seu apartamento, o que era essencial — kurt já não se sentia bem-vindo
em casa.
Quando não estava na casa de Moore ou no Taco Time na Madison
— seu lugar favorito para comprar um taco —, muitas vezes ele podia ser
encontrado no Granada Apartments, na casa de Jennifer Adamson,
namorada de Cali. Jennifer se viu aterrorizada, observando o astro do rock
mais famoso do mundo sentado em seu sofá, na maioria das vezes tomando
drogas, em outras ocasiões, só matando tempo.
"Ele se sentava em minha sala de estar com o boné de orelha e lia
revista", disse ela. "As pessoas chegavam e saiam: sempre havia muita coisa
acontecendo. Ninguém sabia que ele estava ali ou não reconheciam." No
mundo da cultura junkie, Kurt encontrava certo anonimato que lhe fazia
falta em outros lugares.
No entanto, quando Jennifer passou a conhecê-lo melhor, ficou
intrigada pelo quanto ele parecia solidário. Ele disse a Jennifer e Cali:
"Caras, vocês são meus únicos amigos".
Courtney estava incerta sobre o que fazer para segurá-lo em casa e
a maioria das discussões se transformava em brigas. "Eles começaram a
brigar muito", observa Jennifer. "Era evidente que Kurt não a estava
procurando no momento em que mais desesperadamente ele necessitava,
como, alias, não estava procurando ninguém mais." À medida que Kurt se
afastou de Courtney, passou a preferir Dylan, no mínimo porque Dylan
jamais lhe fazia sermões para que ele melhorasse sua conduta.
Certa noite, naquela primavera, os dois cimentaram sua relação
fazendo ligação direta num carro e o abandonando na propriedade de Kurt
em Carnation. "Eu tinha aquele marido milionário", lembra Courtney, "e ele
saia roubando carros." Depois de Roma, até os parceiros de droga de Kurt
notaram um desespero crescente em seu consumo. "A maioria das pessoas,
quando está tomando um pico de heroína, presta atenção á quantidade",
observa Jennifer. "Elas pensam; "vamos ter certeza de que isto não é muito.
Kurt nunca pensava nisso, nunca havia nenhuma hesitação nele. Ele
realmente não se preocupava se aquilo o matasse; as coisas eram tratadas
dessa maneira." Jennifer começou a temer que Kurt tivesse uma overdose
em seu apartamento; "Eu me espantava com quanto uma pessoa tão
pequena e tão magra como ele podia tomar. não havia quantidade suficiente
que você pudesse colocar na seringa para ele".
Na terceira semana de março, ela o criticou severamente pelo modo
como ele estava colocando sua vida em perigo, mas a resposta de Kurt a
deixou ainda mais assustada; "Ele me disse que ia dar um tiro na cabeça.
Ele disse, meio em tom de brincadeira: "È assim que eu vou morrer".
Na terceira semana de março, como seu adorado Hamlet no quinto
ato, Kurt era um homem mudado e estava num frenesi que não evidenciava
nenhum sinal de que iria diminuir. As drogas, combinadas com o que
muitos ao seu redor descreviam como uma depressão não diagnostica de
uma vida inteira, o envolveram na loucura. Até mesmo a heroína o havia
traído: ele dizia que ela não era mais tão eficaz como analgésico: seu
estômago ainda doía. Courtney e os empresários de Kurt decidiram obrigá-lo
a um tratamento. No caso de Kurt, todos sabiam que este, na melhor das
hipóteses, era um recurso final, com poucas chances de mudá-lo — ele havia
passado anteriormente por várias intervenções e não era provável que se
surpreendesse com esta. Ele já havia estado em meia dúzia de unidades de
tratamento de drogas e nenhuma havia funcionado por mais do que umas
poucas semanas. Mas, no modo de ver de Courtney, pelo menos um
intervenção era algo que eles podiam fazer, uma ação física. Tal como
acontece com muitas famílias onde há um viciado ativo, os que estavam ao
redor de Kurt cada vez mais nutriam menos esperanças.
Danny Goldberg contatou Steven Chatoff, do centro de recuperação
Steps. "Comecei a manter conversas telefônicas com Kurt, nas quais ele se
mostrava muito, mas muito carregado", lembra Chatoff. "Ele estava usando
muita heroína, e alguns outros analgésicos. Mas também discutimos,
durante alguns de seus momentos mais coerentes, quando ele não estava
seriamente afetado, sobre alguns de seus problemas de infância e alguns
problemas de sua família original não resolvidos, e sobre a dor que ele
sentia. Ele tinha muita dor de estômago e a estava medicando com os
opiatos." Chatoff percebeu que sob o vicio de Kurt havia "uma forma de
distúrbio por tensão pós-traumática ou alguma forma de distúrbio
depressivo". Ele recomendou um programa de tratamento por internação.
Chatoff descreveu os tratamentos de reabilitação anteriores de Kurt como
"desintoxicação, limpeza e polimento", sugerindo que eles se destinavam a
deixar Kurt sóbrio, mas não lidavam com os problemas subjacentes. Chatoff
achou Kurt surpreendente cooperativo, pelo menos no principio; "Ele
concordou que precisava [do tratamento como paciente internado]: que ele
precisava trabalhar sua "dor psíquica", conforme ele disse". Mas uma coisa
que Kurt não admitia — e na época a administração não contara a Chatoff —
era o que o episódio em Roma havia sido uma tentativa de suicídio; "Chatoff
acreditava naquilo que havia que havia lido nos jornais, que havia sido uma
overdose acidental.
Kurt manifestou sérias dúvidas a Dylan se a reabilitação o
ajudaria. Tendo tentado tratamento antes em meia dúzia de ocasiões, Kurt
sabia as chances eram menores para pacientes que estavam repetido o
tratamento. Embora houvesse breves momentos nos quais ele afirmaria
estar disposto a passar pela dor da abstinência, a maior parte do tempo ele
simplesmente não queria parar: Jackie Farry se lembra de ter apanhado
Kurt de carro numa clinica de reabilitação de 2 mil dólares por dia, só para
levá-lo até uma casa que ela desconfiava fosse a de seu traficante. Suas
outras viagens até clinicas de reabilitação haviam sido todas decorrentes de
ultimatos de seus empresários, esposa ou tribunal, e todas tiveram o mesmo
resultado final; ele voltava a usar drogas novamente. Chatoff marcou a
internação para terça-feira, 21 de março, mas antes que os envolvido
pudessem ao menos se reunir, Kurt recebeu uma deixa para pular fora e a
intervenção foi cancelada. Novoselic confessou que havia dado a deixa para
Kurt, achando que a idéia sairia pela culatra e que Kurt fugiria. "Eu me
sentia tão mal por ele", lembra Krist.. "Ele parecia tão desnorteado. Eu sabia
que ele não daria atenção aquilo." Krist viu Kurt pela primeira vez depois de
Roma naquela semana no motel Marco Pólo, na avenida Aurora. "Ele estava
acampado lá.
Estava delirante. Foi tão esquisito. Ele dizia coisas do tipo: "Krist,
onde é que eu posso comprar uma moto?" E eu dizia; "Porra, do que é que
você está falando? Você não quer comprar uma moto. Você precisava é dar o
fora daqui." Krist convidou Kurt para sair de férias, só os dois, conversar
sobre as coisas, mas Kurt se recusou. "Ele estava realmente calado.
Simplesmente estava alheio a todas as suas relações. Não estava se
conectando com ninguém." Kurt se queixou de que estava com fome; Krist se
ofereceu para lhe pagar um jantar num restaurante fino; Kurt insistiu que
queria comer um hambúrguer no Jack in the Box. Quando Novoselic dirigiu
o carro para a lanchonete próxima ao distrito aniversário, Kurt protestou;
"Esses hambúrgueres são gordurosos demais.
Vamos para aquele de Capitol Hill — a comida de lá é melhor". Só
quando chegaram a Capitol Hill foi que Novoselic percebeu que Kurt não
queria hambúrguer nenhum; ele estava usando seu velho amigo
simplesmente para pegar uma carona para transar drogas. "O traficante dele
estava logo ali. Ele só queria se drogar até se esquecer. Não havia nada a
conversar com ele. Ele só queria fugir. Queria morrer, era isto o que ele
queria fazer." Os dois começaram a gritar um com o outro e Kurt saiu
correndo do carro.
Um novo conselheiro chamado David Burr foi contratado e mais
uma intervenção foi marcada para outro dia naquela semana. Danny
Goldberg se lembra de Courtney pedindo ao telefone; "Você precisa vir. Eu
tenho medo de que ele se mate ou machuque alguém". A intervenção de Burr
aconteceu na sexta-feira, 25 de março. Só para garantir que Kurt não
fugisse, Courtney furou os pneus da Volvo e do Dart — os pneus do Valiant
estavam tão carecas que ela imaginou que Kurt não se arriscaria a dirigi-lo.
Esta intervenção pegou Kurt de surpresa, embora sua
oportunidade, em última análise, fosse infeliz: Kurt e Dylan haviam acabado
de se drogar. "Eu e Kurt tínhamos passado toda a noite zoando", explica
Dylan. "E tanto eu como ele tínhamos acabado de acordar e tomado um pico
de despertar e descemos a escada e aquele mar de pessoas estava lá para
enfrentá-lo." Kurt ficou furioso, mostrando a raiva de uma fera
recém,enjaulada. Sua primeira reação foi agarrar uma lixeira e atirá-la em
Dylan, por achar que ele o havia enganado. Dylan disse a Kurt que não tinha
nada a ver com aquilo e insistiu para que Kurt fosse embora. Mas Kurt ficou
e enfrentou uma sala cheia de empresários, amigos e parceiros de banda.
Era como se ele estivesse sendo julgado e, como um criminoso
arrependido em um processo de pena capital, manteve os olhos baixos
durante toda ação. Na sala estavam, juntos com Courtney, Danny Goldberg,
John Silva e Janet Billig, da Gold Mountain; Mark Kates e gary gersh, da
gravadora; Pat Smear, da banda, e Cali, o babá, além do conselheiro David
Burr. A mãe de Kurt não estava presente porque estava em Aberdeen
cuidando de Frances.
Muitos dos participantes haviam tomado vôos noturnos para
chegar a Seattle em cima da hora. Uma a uma, cada pessoa relatou uma
lista de motivos por que Kurt deveria entrar em tratamento. Cada orador
terminava com uma ameaça, a conseqüência que Kurt podia esperar caso
não consentisse no tratamento. Danny, John e Janet disseram que não
trabalhariam mais com ele; Gary Gersh disse que Geffen largaria o Nirvana:
Smear disse que o Nirvana seria dissolvido e Courtney disse que se
divorciaria dele. Kurt ficou calado durante essas advertências; ele já tinha
previsto essas conclusões e, em cada um dos casos, já havia se aventurado a
cortar ele mesmo essas ligações. embora Burr dissesse a todos que eles
"tinham de se contrapor a Kurt", poucos dos presentes foram capazes disso.
"Todos estavam muito assustados com Kurt", observa Golberg. "Ele tinha
uma aura ao seu redor, onde mesmo eu me sentia como se estivesse pisando
em ovos, e eu não queria dizer a coisa errada. Ele era um energia tão forte
que as outras pessoas, com todo o respeito, literalmente não falaram com
ele. Apenas meio que se reuniram e ficaram espreitando dos bastidores."
Quem falou mais foi burr, que estava tentando dirigir profissionalmente uma
intervenção, mas, neste caso, o paciente era Kurt Cobain, que não estava
ouvindo: seu vicio era um escudo excessivamente forte e arraigado para que
esses golpes o quebrassem. O verdadeiro drama começou quando Courtney
falou. Sem dúvida, ela foi, de longe, a mais direta dos que estavam na sala,
embora fosse ela quem mais tivesse a perder. Courtney pediu para que Kurt
fizesse o tratamento, implorando: "isto tem que terminar![..] Você precisa ser
um bom pai!" E então ela lançou a ameaça que sabia que mais o feriria; se
eles se divorciassem, e ele continuasse com o vicio, seu acesso a Frances
seria limitado.
Depois que todos, exceto Kurt, haviam falado, houve um breve
momento de silêncio, como aquele que precede uma batalha maior num
filme de John wayne. Os olhos de Kurt lentamente se ergueram e,
carregados de hostilidade, passaram de uma pessoa a outra, até que ele
venceu cada uma das disputas de olhar. Quando finalmente falou, cuspiu
palavras de fúria. "Que merda são vocês para me dizer isto?", berrou ele. E
fez seu próprio inventário de todos que estavam na sala, descrevendo, com
detalhes explícitos, exemplos de uso de drogas que ele havia testemunhado
sobre os presentes. Danny Goldberg respondeu dizendo a Kurt que era com
a saúde dele que todos estavam preocupados, não com a de ninguém mais.
"Como podemos ao menos ter uma conversa se você está drogado/",
implorou Goldberg.
"Portanto, fique um pouco de cara limpa e então você poderá
conversar sobre isso." Kurt ficou mais e mais furioso e, como o habilidoso
manobrista verbal que era, começou a dissecar todos na sala, desferindo em
cada um uma agressão que ele sabia que atingiria sua fraqueza central.
Chamou Janet Billig de "Porca Gorda" e chamou a todos na sala de
hipócritas. Ele apanhou freneticamente um exemplar das páginas Amarelas
e abriu na seção de psiquiatrias. "Eu não confio em ninguém que esta aqui",
declarou ele. "Eu vou achar um psiquiatra das Páginas Amarelas em quem
eu possa confiar."
Sua maior raiva estava reservada para Courtney. "Seu grande
triunfo era que Courtney estava mais doente do que ele", lembra Goldberg. O
ataque de Kurt a Courtney se esvaziou quando lhe foi dito que ela estava
viajando de avião para Los Angeles para se tratar. Insistiram para que ele a
acompanhasse. Ele se recusou e continuou a discar para psiquiatras,
conseguindo apenas repostas de secretárias eletrônicas. Courtney estava
arrasada — a intervenção e as últimas três semanas em que diariamente ela
ficava á espera de ouvir noticias de que ele tivera uma overdose haviam
cobrado seu preço.
Tiveram de ajudá-la a entrar num carro e ofereceram a Kurt mais
uma chance para que ele a acompanhasse. Kurt se recusou, e enquanto o
carro dela se afastava, ele ficou folheando freneticamente as Páginas
Amarelas. "Eu nem sequer dei um beijo nem consegui me despedir do meu
marido", disse Courtney mais tarde a David Fricke.
Kurt insistiu que ninguém na sala tinha direito algum de julgá-lo.
Ele se retirou para o porão com Smear, dizendo que tudo o que queria fazer
era tocar um pouco de guitarra. Os presentes começaram lentamente a sair;
a maioria tinha de pegar vôos de volta para Los Angeles ou Nova York.
Quando a noite chegou, até Burr e Smear haviam partido, e Kurt foi deixado
com o mesmo vazio que sentia na maioria dos dias. Ele passou o resto da
noite na casa de sua traficante reclamando da intervenção. A traficante mais
tarde contou a um jornal que Kurt havia lhe perguntado: "Onde estão meus
amigos quando eu preciso deles? Por que meus amigos estão contra mim?".
No dia seguinte, Jackie Farry voltou a trabalhar para os Cobain e
levou Frances para Los Angeles, para ficar perto de Courtney. A mãe e a
irmã de Kurt se dirigiam para Seatle, por insistência de Courtney, para
tentar conversar com ele. O confronto não foi nada melhor do que a
intervenção e deixou todos os participantes com uma sensação maior ainda
de preocupação e perda. Kurt obviamente estava drogado e Wendy e Kim
ficaram angustiadas por vê-lo em tamanho sofrimento emocional. Ele não
lhes daria ouvidos: havia chegado um ponto em que não se podia conversar
sobre nada. Quando a mãe e a irmã estavam partindo — ambas aos prantos
—, Kim, sendo a mais direta da família, fez ao irmão mais uma pergunta
enquanto estava parada na porta: "Você realmente nos odeia tanto assim?".
Ao dizer isso ela estava chorando, o que deve ter parecido extraordinário a
Kurt: Kim era sempre a durona, a que nunca chorava. E ali estava ela, na
porta da casa dele, e era ele quem a estava fazendo chorar. "Ah, sim",
replicou ele. "Eu realmente odeio vocês. Eu odeio vocês". Kim não conseguiu
dizer nada - teve de partir.
Em Los Angeles, Courtney se registrou no Hotel Península para
começar um controvertido plano de tratamento chamado "desintoxicação em
hotel". Ela deveria se entrevistar várias vezes por dia com um conselheiro
sobre drogas em uma suíte do hotel, evitando a exposição de um centro de
tratamento mais público. Ela tentou ligar para a casa de Seattle, mas não
obteve nenhuma resposta.
Kurt, conforme ela suspeitou, estava fora tomando drogas. Ele
agora ficava sozinho na casa, apenas com Cali. Mais tarde, naquele dia, Kurt
apareceu na casa de um traficante local, mas tinha comprado e tomado
tanta heroína que o traficante se recusou a lhe vender mais: eles faziam isso
tanto por uma fingida preocupação com a saúde dele como por recearem que
uma overdose poderia trazer a policia até suas casas. "Ele estava totalmente
intoxicado", relata Rob Morfitt, que conhecia várias pessoas que
encontraram Kurt naquele fim de semana. "Ele estava perambulando e
extremamente confuso." A falta de cuidado normal de Kurt foi substituído
por um desejo de morte que me assustava até os drogados mais maduros e
cínicos. Nos últimos meses, ele vinha temerariamente compartilhado
agulhas com outros usuários, ignorando as advertências da saúde pública
sobre o HIV e a hepatite. A heroína preta freqüentemente provocava acessos
pelas impurezas utilizadas para diluí-la. Em março, os braços de Kurt
tinham crostas e abscessos que eram um risco potencial á saúde.
Ainda naquele dia, Kurt subornou outros usuários para transarem
heroína para ele, prometendo dar-lhes droga em troca. Quando a droga foi
repartida e cozida no apartamento deles, Kurt preparou uma seringa com a
heroína preta como carvão — ele não havia usado água suficiente para diluila.
Seus companheiros olharam horrorizados quando ele, ao se injetar,
começou imediatamente a sofrer as conseqüências de uma overdose. O
pânico tomou conta do apartamento quando Kurt começou a bufar para
inspirar — ar; se ele morresse ali, a policia seria inevitavelmente envolvida.
Os moradores do apartamento ordenaram que Kurt fosse embora, e quando
ele se sentiu incapaz de se locomover, eles o arrastaram para fora. Seu
Valiant estava estacionado na rua e eles o colocaram no assento traseiro.
Uma pessoa se ofereceu para chamar o 911, mas Kurt estava consciente o
bastante para ouvir e meneou a cabeça. Deixaram-nos a sós, imaginando
que, se ele queria morrer, ia fazer isso no seu próprio tempo.
Era este o resultado de tudo: o mais famoso astro do rock de sua
geração estava deitado no assento traseiro de um carro, incapaz de falar,
incapaz de se mover e mais uma vez chegando a poucos centímetros da
morte. Ele tinha passado muitas noites nesse carro — era um lar tão seguro
e confortável quanto todos que ele já tivera — e era um lugar tão bom para
morrer como qualquer outro. A placa "vende-se" na janela de trás, escrita em
um pedaço e de papelão, tinha o número do telefone de sua casa.
Kurt não morreu naquele fim de semana. Em mais uma proeza que
desafiava a ciência, sua constituição sobreviveu a mais uma dose de heroína
que teria matado a maioria das pessoas. Quando ele acordou no carro no dia
seguinte, sua dor emocional e física estava de volta: o que ele mais queria,
acima de qualquer outra coisa, era ficar livre de todas as dores. Nem mesmo
a heroína o estava ajudando agora.
Quando voltou para casa, havia diversas mensagens de Courtney,
além de mensagens de um novo psiquiatra chamado Steven Scappa, que
Buddy Arnold havia recomendado. Kurt retornou a ligação de Scappa e
começou a manter longas conversas com ele.
Ele parecia estar relaxando e se relacionando com Scappa de uma
forma que não ocorria com alguns dos outros médicos. Naquela segundafeira,
ele recebeu também um telefonema de Rosemary Carrol tentando
convencê-lo a fazer tratamento. "Você está facilitando", disse-lhe ela, "para
muitas pessoas que você deseja que parem de controlar sua vida, que elas
pintem um retrato completamente negativo a seu respeito: para que elas
basicamente mantenham o controle, por causa dos problemas da droga. Se
você fizer o tratamento, você os deixará menos armados, reduzira
radicalmente a munição deles. Pode não fazer nenhum sentido e pode não
estar fundado na lógica, mas é assim que as coisas são. Por isso, vá e lide
com isso, Ficará mais fácil a solução desses problemas quando você sair.
isto nos dará uma base em que nos apoiar." A resposta de Kurt foi: "Eu sei".
Ele disse a Caroll que tentaria o tratamento mais uma vez.
Naquela terça-feira, foram feitas reservas para Kurt num vôo para
Los Angeles, e Krist foi convocado para levá-lo ao aeroporto. Quando Kurt
chegou á casa de Krist, era óbvio que ele não queria ir. Enquanto faziam o
percurso de 25 minutos, Kurt tentou abrir a porta e saltar do carro em
movimento. Krist não conseguia acreditar que isso estivera acontecendo —
com seus longos braços, conseguiu agarrar Kurt enquanto dirigia, mesmo
com o carro dando uma guinada. Depois de alguns minutos, chegaram ao
aeroporto, mas Kurt não havia melhorado; krist teve de arrastá-lo pelo
colarinho, do modo como um professor escoltaria um delinqüente até o
gabinete do diretor. No terminal principal, Kurt deu um murro no rosto de
Krist e tentou fugir. Krist o agarrou e seguiu-se uma luta corporal.
Os dois velhos amigos brigaram no chão d abarrotado terminal,
xingando-se e esmurrando-se como dois bêbados em uma rixa de bar em
Aberdeen. Kurt se livrou do controle do amigo e correu pelo prédio gritando;
"Vai se foder!", enquanto os passageiros olhavam assustados. A última coisa
que Krist viu de Kurt foi seu esfregão louro virando num corredor do
terminal. krist voltou sozinho para Seattle, chorando. "Krist tinha um amor
muito grande por Kurt", lembra Shelli. "Nós dois tínhamos. Ele fazia parte da
nossa família.
Eu o havia conhecido durante quase metade da sua vida." Quando
adolescente, Shelli passava Big mac's gratuitos para Kurt por trás do balcão
do McDonald's de Aberdeen. Durante duas semanas em 1989, Kurt, Tracy,
Krist e Shelli haviam compartilhado a mesma cama de casal, dormindo em
rodízio. Kurt em certa época havia morado atrás da casa deles, e Shelli lhe
trazia cobertores para se certificar de que ele não morreria congelado. Krist e
Kurt haviam dirigido juntos alguma coisa em torno de 1 milhão e meio de
quilômetros e haviam dito um para o outro coisas que nunca haviam
contado a ninguém. Naquela noite de terça-feira, Krist contou a Shelli que
ele sabia, em seu coração, que não veria novamente Kurt vivo, e ele tinha
razão.
Mais tarde, naquela noite, Kurt falou diversas vezes ao telefone
com Scapp e também teve uma conversa com Courtney, da qual ela se
lembra como uma conversa agradável. Ele apagou durante a conversa, mas,
a despeito de suas ações mais cedo com Krist, estava concordando
novamente como o tratamento. Foram feito arranjos para que ele tomasse
um vôo no dia seguinte.
Tendo resignadamente concordado em ir, Kurt fez o que a maioria
dos viciados ativos fazem antes de se dirigir para tratamento: tentou tomar
tanta heroína que um pouco permaneceria em seu sistema durante aqueles
primeiros dias horríveis de abstinência. Na tarde seguinte, Kurt dirigiu até a
casa de Dylan para pedir um favor: ele queria comprar uma "para proteção e
por causa dos gatunos", já que a policia havia lhe tomado todas as outras
armas, e ele perguntou se Dylan poderia comprar uma para ele. Dylan
aceitou está lógica, embora não houvesse registro para porte de rifles no
estado de Washington. Eles foram de carro até a Stan Barker's Sports na
Lake City Way, 10.000. "Se Kurt era suicida", lembrou mais tarde Dylan,
"certamente ele escondia isto de mim." Dentro da loja, Kurt apontou para
uma espingarda Remington M-11, calibre. 20. Dylan comprou a espingarda e
uma caixa de cartuchos, pagando 308,37 dólares em dinheiro — dinheiro
que Kurt lhe pôs nas mãos. Tendo comprado a espingarda, Kurt foi para
casa. À noite, conforme o programado, harvey Ottinger, motorista de um
serviço de limusines de Seattle, chegou á casa do lago Washington, Esperou
durante uma hora e Kurt finalmente desceu carregando uma pequena bolsa.
A caminho do aeroporto, Kurt percebeu que havia deixado a caixa dos
cartuchos de espingarda dentro de sua bolsa e perguntou se Ottinger
poderia jogá-la fora. O motorista disse que sim e, enquanto estacionavam no
Sea-Tac, Kurt saiu do carro e se apressou para pegar o vôo para Los Angeles.


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