sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Kurt Cobain: A Lenda que não morreu! 2ª Parte



Odeio Mamãe, Odeio Papai

Aberdeen, Washington
Janeiro de 1974 - Junho de 1979

"Odeio Mamãe, Odeio Papai".
De um poema na parede do quarto de Kurt.

A TENSÃO NA FAMÍLIA AUMENTOU EM 1974, quando don cobain
decidiu mudar de emprego e entrar para o ramo madeireiro. Don não era um
homem corpulento e não tinha muito interesse em derrubar árvores de até
sessenta metros de altura. Por isso, assumiu um cargo de escritório na Mayr
Brothers.
Acabou sabendo que poderia ganhar mais com madeira do que
trabalhando no posto de serviço da Chevron; infelizmente, seu primeiro
cargo era no nível de ingresso na empresa, remunerado a 4, 10 dólares por
hora,menos até do que ganhava como mecânico.Ele ganhava dinheiro extra
fazendo inventário na usina nos fins de semana e freqüentemente levava
kurt consigo. "Ele ficava dando voltas no pátio com sua bicicletinha",
lembrava-se Don. Mais tarde, Kurt zombaria do trabalho, mas na ocasião ele
gostava muito de ser incluído na tarefa. Embora passasse toda a sua vida
adulta tentando afirmar o contrário, o reconhecimento e a atenção do pai
eram extremamente importante para kurt e ele queria mais, não menos.
Mais tarde admitiria que seus primeiros anos dentro da família nuclear eram
recordações felizes. "Tive uma infância realmente boa", disse ele á revista
Spin em 1992, mas não sem acrescentar: "até os nove anos de idade".
Don e Wendy muitas vezes tinham de pedir dinheiro emprestado
para pagar as contas, uma das principais causas de suas discussões. Leland
e Íris deixavam uma nota de vinte dólares na cozinha — brincavam que era
uma nota bumerangue, pois todo mês eles a emprestavam para Don
comprar mantimentos e, imediatamente depois de devolvê-la para eles, Don
a pedia emprestado outra vez. "Ele saia, pagava todas as contas e depois
vinha até nossa casa", lembrou-se Leland. "Ele nos pagava nossos vinte
dólares e então dizia: Droga, eu ganhei bastante esta semana. ainda me
restam 35 ou quarenta centavos". Leland, que jamais gostou de Wendy
porque a via agindo como se fosse "Melhor que os cobain", lembrava que a
jovem família ia depois para o drive in Blue na rua Boone gastar o troco em
hambúrgueres. Embora Don se desse bem com o sogro, Charles Fradenburg
— que operava uma niveladora de estrada para o condado —, Leland e
Wendy nunca estabeleciam boas relações.
A tensão entre os dois chegou ao máximo quando Leland ajudou a
reformar a casa na rua First. Ele construía pra Don e Wendy uma falsa
lareira na sala de estar e instalou novos tampos de balcões, mas no processo
ele e Wendy passaram progressivamente a se desentender. Leland finalmente
disse ao filho que fizesse Wendy para de importuna-lo ou ele iria embora e
deixaria o trabalho pela metade.
"Foi a primeira vez que ouvi Donnie responder para ela", lembrouse
Leland. "Ela ficava se queixando disto ou daquilo e finalmente ele disse
"Mantenha sua maldita boca fechada ou ele pegará as ferramentas e irá para
casa". E dessa vez ela fechou a boca."
Como seu pai antes dele, Don era severo com os filhos. Uma das
queixas de Wendy era que o marido esperava que as crianças sempre se
comportasse bem — um padrão impossível — e exigia que Kurt agisse como
um "homenzinho". As vezes, como toda as crianças, Kurt era um terror.
Muitas das suas artes eram insignificantes na época — escrever nas
paredes, bater a porta ou provocar a irmã. Esses comportamentos
geralmente resultavam numa surra, mas o castigo físico mais comum — e
quase diário — era bater com dois dedos na têmpora ou no peito de kurt. Só
doía um pouco, mas o dano psicológico era profundo — fazia o filho temer
maior dano físico e servia para reforçar o domínio de Don sobre ele. Kurt
começou a se abrigar dentro do armário do seu quarto. Os espaços reclusos,
confinado, que provocam ataques de pânico no demais, eram exatamente
aqueles que ele buscava como refúgio.
E havia coisas das quais valia a pena se esconder: ambos os pais
podiam ser sarcásticos e zombeteiros. Quando kurt era imaturo o bastante
para acreditar neles, Don e Wendy o advertiam de que ele ganharia uma
pedra de carvão de natal se não fosse bom, particularmente se brigasse com
sua irmã. De brincadeira, colocaram pedaços de carvão em sua meia. "Era
só uma peça", lembrou-se Don.
"Fazíamos isto todo ano. Ele ganhava presentes e tudo mais —
núncia deixamos de lhe dar presentes". Entretanto, não tinha mais graça
para kurt, pelo menos tal como ele contou a história mais tarde em sua vida.
Ele afirmou que certo ano haviam lhe prometido uma arma de brinquedo de
Starsky e Hutch, um presente que nunca veio. Em vez disso, segundo ele,
ganhou apenas um pedaço de carvão embrulhado com capricho.
O relato de kurt era um exagero, mas, em sua imaginação, ele
começara a distorcer sua própria visão sobre a família.
Ocasionalmente, Kim e kurt se davam bem, e ás vezes brincavam
juntos. Embora Kim não tivesse o talento de kurt — ela sempre sentia a
rivalidade de ter o resto da família prestando tanta atenção a ele —,
desenvolveu a habilidade de imitar vozes. Ela era particularmente boa nas
do Mickey e do pato Donald, e kurt se divertia muito com essas imitações. As
habilidades vocais de kim suscitavam uma nova fantasia para Wendy. "O
grande sonho de minha mãe", declarou Kim, "era que kurt e eu acabássemos
indo para a Disneylândia, nós dois trabalhando lá, ele desenhando e eu
fazendo vozes".
Março de 1975 foi um mês repleto de alegria para kurt, então com
oito anos de idade: ele Finalmente visitou a Disneylândia e fez sua primeira
viagem de avião. Leland tinha se aposentado em 1974 e ele e Íris foram
passar o inverno daquele ano no Arizona.Don e Wendy levaram Kurt de carro
até seattle, colocaram-no num avião e Leland apanhou o menino em Yuma,
antes de irem para sul da Califórnia. No período maluco de dois dias, eles
visitaram a Disneylândia, Knotts Berry foram e os estúdios da Universal.
Kurt ficou extasiado e insistiu que passassem três vezes pelo "Piratas do
Caribe" na Disneylândia. Em Knotts Berry Farm ele desafiou a gigantesca
montanha russa, mas quando o passeio começou, seu rosto ficou branco
como o de um fantasma. Quando Leland perguntou "Chega?", sua cor voltou
e ele fez o passeio ainda outra vez. Na excursão até os estúdios da Universal,
Kurt se inclinou para fora do trem diante do tubarão do filme de Spielberg,
levando um guarda a gritar para seus avós: "é melhor vocês puxarem de
volta esse loirinho ou a cabeça dele será arrancada fora". Kurt desafiou a
ordem e tirou uma foto da boca do tubarão quando ele chegou a poucos
centímetros de sua máquina fotográfica. Mais tarde naquele dia, no carro
que ia pela via expressa, Kurt dormiu no assento traseiro, único motivo pelo
qual seus avós conseguiram passar furtivamente pela Magic Mountain sem
que ele insistisse para que fossem visitá-la também.
De todos os seus parentes, Kurt era mais intimo da avó Íris; ambos
compartilhavam um interesse pela arte e, as vezes, uma certa tristeza. "Eles
se adoravam", lembra Kim. "Acho que intuitivamente ele sabia o inferno pelo
qual ela tinha passado". Tanto Íris como Leland foram criados com
dificuldade, ambos marcados pela pobreza e pelas mortes prematuras de
seus pais no trabalho. O pai de Íris morrera vítima de gases venenosos na
fábrica de celulose Rayonier; o pai de Leland, que era xerife de condado,
morreu por um disparo acidental de sua arma. Leland tinha quinze anos na
época da morte de seu pai. Ele se alistou na Marinha e foi enviado para
Guadalcanal, mas depois que agrediu um oficial foi encaminhado ao hospital
para uma avaliação psiquiátrica. Casou-se com Íris depois de dar baixa, mas
sofreu com problemas de bebida e raiva, particularmente depois que o
terceiro filho do casal, Michael, nasceu retardado e morreu em uma
instituição com a idade de seis anos. "Na sexta-feira á noite ele recebia o
salário e chegava bêbado em casa", contou Don. "Ele batia em minha mãe.
Batia em min. Bateu em minha avó e no namorado dela. Eram assim as
coisas naquele tempo".
Na época da adolescência de kurt, Leland havia amolecido e sua
arma mais perigosa era a linguagem obscena.
Quando Leland e Íris não estavam disponíveis, um dos vários
irmãos e irmãs Fradenburg tomavam conta de kurt — três tias de kurt
moravam num raio de quatro quarteirões da sua casa. Gary, irmão mais
novo de Don, também era encarregado de tomar conta de kurt alguma vezes,
e certa ocasião marcou a primeira ida de kurt ao hospital. "Quebrei o braço
direito dele", relembra gary. "Eu estava deitado de costas e ele estava em
meus pés, e eu o estava atirando para o ar com meus pés". Kurt era uma
criança muito ativa e, com toda a sua correria para lá e para cá, os parentes
se admiravam de que ele não quebrasse também outras partes do corpo.
O braço quebrado de kurt sarou e o ferimento não parecia impedilo
de praticar esportes. Don incentivou o filho a jogar beisebol assim que ele
começou a andar e lhe fornecia todas as bolas, tacos e luvas de que um
menino precisava. Quando garoto, kurt achava os tacos mais úteis como
instrumento de percussão, mas, com o tempo, começou a participar de
exercícios físicos, começando pelo bairro e, mais tarde, em jogos
organizados. Aos sete anos, ele estava em sua primeira equipe da liga Mirim.
Seu pai era o treinador. "Ele não era o melhor jogador do time, mas não era
ruim". conta Gary cobain. "Ele realmente não queria jogar, pensei. Acho que
jogava para agradar ao pai".
O beisebol foi um exemplo da busca de kurt pela aprovação de Don
"Kurt e meu pai se davam bem quando ele era criança", lembrou-se Kim,
"mas kurt não era nada parecido ao que papai pretendia que kurt se
tornasse".
Don e Wendy estavam enfrentando o conflito entre a criança
idealizada e a criança real. considerando que ambos tinham necessidades
insatisfeita trazidas de sua respectivas infâncias, o nascimento de kurt
revelou todas as expectativas com Leland, e pensou que a participação dos
dois em jogos esportivos propicia esse laço. Embora Kurt gostasse de
esportes, particularmente quando seu pai não estava por perto, ele associava
intuitivamente o amor de seu pai com esta atividade, algo que o marcaria
por toda a vida, sua reação era participar, mas fazê-lo sob protesto.
Quando kurt estava na segunda serie, seus pais e a professora
decidiram que sua incansável energia podia ter uma origem médica mais
ampla.O pediatra de kurt foi consultado e o corante alimentar vermelho foi
afastado da sua dieta. Quando não houve melhora nenhuma, seus pais
limitaram sua ingestão de açúcar. Finalmente o médico receitou Ritalin, que
kurt tomou por um período de três meses. "Ele era hiperativo", lembrou kim,
"Ficava saltando pelas paredes, principalmente se lhe fosse dado algum
açúcar.Outros parentes sugerem que Kurt pode ter sofrido de deficiência de
atenção por hiperatividade. Mari se lembrava de uma visita á casa dos
Cobain em que encontrou Kurt correndo pelo bairro, batendo num tambor
de parada e gritando a plenos pulmões. Mari entrou e perguntou a sua irmã:
"Mas que diabos ele está fazendo?" "Não sei" foi a resposta de Wendy. "não
sei o que fazer para conseguir que ele pare — já tentei de tudo." Na época,
Wendy supunha que era o modo de kurt queimar seu excesso de energia de
menino.
A decisão de dar Ritalin a kurt era, já em, 1974, uma decisão
controversa, com algum cientistas argumentando que isto cria uma resposta
pavloviana nas crianças e aumenta a probabilidade de comportamento de
dependência química mais tarde na vida; outros acreditam que se as
crianças não recebem tratamento pra a hiperatividade, podem mais tarde se
automedicar com drogas ilegais. Cada membro da família de Cobain tinha
uma opinião diferente sobre o diagnóstico de kurt e sobre se o breve curso
de tratamento o ajudou ou prejudicou, mas, na opinião do próprio kurt, tal
como ele mais tarde contou pra Courtney Love, a droga foi importante.
Courteney, a quem Ritalin também foi receitado na infância, disse
que os dois freqüentemente discutiam esta questão. "Quando você é criança
e toma esta droga que o faz sentir desse jeito, para onde mais você vai se
voltar quando adulto?", perguntou Courtney "Era uma euforia quando você
era criança — essa memória não vai ficar com você?".
Em fevereiro de 1976, apenas uma semana depois do nono
aniversário de kurt, Wendy informou Don de que ela queria o divórcio. Fez o
anúncio numa noite de um dia de semana e saiu em disparada com seu
camaro, deixando a Don a tarefa de explicar ás crianças, uma coisa na qual
ele não se esmerava. Embora os conflitos matrimoniais de Don e Wendy
tivessem aumentado durante a última metade de 1974, sua declaração
pegou Don de surpresa, tal como pegou o restante da família. Don entrou em
estado de rejeição e se recolheu para dentro de si mesmo, comportamento
que anos depois seria manifestado pelo filho em tempos de crise.
Wendy sempre fora uma personagem forte e propensa a acessos
ocasionais de raiva, mas mesmo assim Don ficou chocado por ela querer
romper a unidade familiar. Sua principal queixa era que o marido estava o
tempo todo envolvido com esportes — ele era árbitro e treinador, além de
jogar em duas equipes. "Na minha cabeça, não acreditei que isto ia
acontecer", lembra Don. "Divórcio não era assim tão comum na época. Eu
também não queria que isto acontecesse. Ela simplesmente quis terminar".
No dia 1º de março Don saiu de casa e alugou um quarto em
Hoquiam Esperava que a raiva de Wendy cedesse e o casamento
sobrevivesse e, por isso, ele alugou o quarto por uma semana. Para Don, a
família representava uma parte enorme de sua identidade e seu papel como
pai marcou em sua vida uma das primeiras vezes em que ele se sentia
necessário, "Ele ficou arrasado com a idéia do divórcio", lembrou-se Stan
Targus, o melhor amigo de Don, particularmente sua irmã Janis e o marido,
Clark, que moravam perto dos Cobain. Alguns irmãos de Wendy no fundo se
perguntavam como ela sobreviveria financeiramente sem Don.
No dia 29 de março, Don recebeu uma intimação judicial e uma
"Petição de Dissolução de matrimônio". Em seguida, uma enorme
quantidade de documentos legais, que Don freqüentemente deixava de
responder na vã esperança de que Wendy mudasse de idéia. No dia 9 de
julho ele foi julgado á revelia por não atender ás petições de Wendy. Naquele
mesmo dia, uma decisão final foi promulgada adjudicando a casa a Wendy. ,
mas dando a Don uma hipoteca de 6.500 dólares, a serem pagos no
momento em que a casa fosse vendida, que Wendy se casasse novamente ou
que Kim completasse dezoito anos. Don ficaria com seu furgão Ford 1965 de
meia tonelada; Wendy manteria o Camaro 1968 da família. A custódia das
crianças foi concedida a Wendy, mas caberia a Don pagar 150 dólares
mensais de sustento para cada um dos filhos, além de arcar com suas
despesas médicas e dentárias; também se concederam a Don direitos de
"visitação razoável". Por se tratar de um tribunal de cidade pequena dos
anos 70, essa visitação não era especificada e o arranjo era informal. Don se
mudou para o trailer de seus pais em Montesano. Ele continuava
esperançoso de que Wendy mudasse de idéia, mesmo depois que os
documentos finais foram assinados.
Wendy não faria nada disso. Quando acabava alguma coisa, aquilo
estava mesmo acabando para ela, e assim não poderia ter mais nada com
Don. logo se envolveu com Frank Franich, um estivador bonitão que
ganhava duas vezes mais que Don.
Franich também era inclinado á violência e á raiva, e para Wendy
não havia nada melhor do que ver essa maldade voltada para Don. Quando
uma nova carteira de motorista de Don foi acidentalmente enviada para a
casa de Wendy. "alguém" abriu o envelope, esfregou fezes na foto, fechou
novamente o envelope e o enviou para Don. Este não era um divórcio — era
uma guerra, cheia do ódio, despeito e vingança de uma rixa sangrenta.
Para kurt era um holocausto emocional — nenhum outro evento
isolado em sua vida teve mais efeito na conformação de sua personalidade.
Ele internizou o divórcio, como fazem muitas crianças. A profundidade dos
conflitos de seus pais lhe fora essencialmente ocultada e ele não conseguia
entender o motivo para a separação."Ele achou que era por sua causa e
assumiu grande parte da culpa", observou Mari "Foi traumático para Kurt
ver tudo em que ele confiava — sua segurança, sua família e seu próprio
sustento — desfazer-se diante de seus olhos". Em lugar de expressar
exteriormente sua angústia e pesar, Kurt se voltou para dentro "Odeio
mamãe, odeio papai. Papai odeia mamãe, mamãe odeia papai. Isto apenas
faz você querer fica muito triste". Este era o menino que em criança era tão
unido á sua família que lutava contra o sono, como Mari havia escrito em,
seu relatório de economia de economia doméstica sete anos antes, porque
"ele não que abandoná-los. Agora, sem que tenha feito nada errado, ele tinha
sido abandonado. Íris Cobain certa vez descreveu 1976 como "o ano de kurt
no purgatório".
Esse ano foi também difícil para Kurt em termos médicos. Mari
lembrou que o viu no hospital durante esse período: ela soubera por sua
mãe que ele estava lá em decorrência de não comer o bastante. "Eu me
lembro de Kurt no hospital por problemas de desnutrição quando ele estava
com dez anos", disse ela. Kurt contou a seus amigos que teve que beber
bário e tirar uma radiografia do estômago. É possível que aquilo que se
imaginava ser mentira mais tarde em sua vida. Sua mãe tinha sofrido do
estômago aos vinte anos de idade, pouco tempo depois do nascimento de
Kurt e, quando este começou a ter dores estomacais, supôs-se que sofria da
mesma irritação estomacal de Wendy. Por volta da época do divórcio, Kurt
também tinha uma contração involuntária nos olhos. A família supôs que
isto estivesse associado a tensão, o que provavelmente era verdade.
Enquanto seus pais estavam se divorciando, sua vida de préadolescente
contava, com todos os seus desafios internos. Prestes a entrar
na quarta série, ele começou a perceber as meninas como seres sexuais e a
se preocupar com status social. Naquele mês de julho, sua foto saiu no
Aberdeen Daily World, quando seu time de beisebol conquistou o primeiro
lugar na Liga Aberdee Timber depois de acumular um registro de catorze
vitórias e uma derrota. O outro destaque do verão foi sua adoção de um
gatinho preto que estivera vagando pelo bairro. Foi seu primeiro animal de
estimação e ele o chamou de Puff.
Três meses depois da conclusão do divórcio, Kurt manifestou
interesse em morar com o pai. Mudou-se para o reboque com Don, Leland e
Íris, mas no começo do outono pai e filho alugaram seu próprio trailer de
solteiro do outro lado da rua. Kurt visitava Wendy, Kim e Puff nos fins de
semana.
Morar com o pai resolveu algumas das necessidades emocionais de
Kurt — uma vez mais ele era o centro das atenções, um filho único. Don se
sentia tão mal com o divórcio que supercompensava-o com presentes
materiais, comprando para kurt uma minimoto Yamaha Enduro 80, que se
tornou uma atração no bairro. Lisa Rock, que morava a poucas quadras de
distância, conheceu Kurt naquele outono: "Ele era um menino quieto, muito
simpático. Sempre sorrindo. Era um pouco tímido. Havia um campo onde ia
andar com sua minimoto e eu ao lado dele com minha bicicleta".
A percepção de Lisa sobre kurt aos nove anos de idade como um
menino "quieto" fazia coro a uma palavra que seria reiteradamente
empregada para descrevê-lo na idade adulta. Ele era capaz de ficar sentado
em silêncio durante muito tempo sem sentir necessidade de jogar conversa
fora. Kurt e Lisa faziam aniversário no mesmo dia e, quando ambos
completaram dez anos, comemoraram com uma festa na casa de Lisa. Kurt
ficou contente por ser incluído, ainda que se sentisse desajeitado e
incomodado com a atenção. Ele fora destemido aos quatro anos de idade:
aos dez, era surpreendentemente medroso. Depois do divórcio, ele se
mantinha reservado, sempre esperando que a outra pessoa desse o primeiro
passo.
Depois do divórcio e com o despertar da puberdade de Kurt, seu
pai assumiu um papel de proporções elevadas.Depois da escola Kurt Ficava
no trailer dos avós, mas assim que Don voltava do trabalho, ficavam juntos o
resto do dia: e Kurt ficava contente de fazer tudo o que Don quisesse, mesmo
que isso significasse jogos esportivos. Depois das partidas de beisebol, os
dois ás vezes jantavam na cervejaria local. Era um laço que ambos
saborearam, mas nenhum dos dois deixava de sentir a perda da família —
era como se um membro do corpo tivesse sido decepado e, embora
passassem o dia inteiro sem ele, nunca conseguiam afastá-lo de seus
pensamentos. Seu amor recíproco naquele ano foi mais forte do que era
antes ou depois, mas pai e filho ainda estavam profundamente solitários.
Receoso de que poderia perder o pai, Kurt fez Don prometer que não se
casaria novamente. Don deu a seu filho esta garantia e disse que os dois
sempre estariam juntos.
Durante o inverno de 1976, Kurt se transferiu para a Beacon
Elementary School em Montesano. As escolas de Montesano eram menores
do que as de Aberdeen, e semanas depois da transferência encontrou a
popularidade que havia lhe escapado anteriormente e sua intrepidez parecia
querer regressar. Apesar de externamente confiante, ele se apegava a uma
amargura em relação a suas circunstâncias: "Dava para notar que ele estava
atormentado pelo divórcio dos pais", recordou o colega Darrin Neathery.
Quando começou a quinta serie, no outono de 1977, Kurt já fazia
parte integrante de "Monte" o nome que os habitantes usavam para a cidadetodo
aluno de pequena escola o conhecia w a maioria gostava dele. "Ele era
um menino muito bonito", lembrou John Fields, "Era inteligente e tudo saia
bem para ele" Com seus cabelos louros e seus olhos azuis, Kurt se tornou
um favorito das meninas, "não era nenhum exagero dizer que ele era um dos
meninos mais populares", observou Roni Toyra. "havia um grupo de cerca de
quinze meninos que saíram juntos e ele era uma parte importante desse
grupo. "Era realmente um gracinha, com seus cabelos louros, os grandes
olhos azuis e as sardas no nariz."
Esses atrativos externos escondiam uma luta em busca de
identidade que atingiu um novo patamar em outubro de 1977, quando Don
começou a namorar. Kurt detestou a primeira mulher que Don namorou e,
por isso, seu pai desistiu dela. Com o narcisismo dos seus dez anos, Kurt
não entendia o desejo do pai por companhia adulta ou o motivo por que Don
não estava feliz com apenas os dois juntos. No final do outono Don conheceu
uma mulher chamada Jenny Westby, Que também estava divorciada e tinha
dois filhos: Mindy, um namoro foi um caso de família e o primeiro encontro
deles foi uma caminhada com todos os filhos em volta do lago Sylvia. Kurt foi
amistoso com Jenny e os filhos dela e Don achou que encontrava seu par.
Ele e Jenny se casaram.
No principio Kurt gostou de Jenny — ela lhe dava a tenção
feminina que lhe faltava —, mas seus sentimentos positivos em relação á
nova madrasta eram anulados por um conflito interno: se ele tivesse afeição
por ela, estaria traindo seu amor pela mãe e por sua família "verdadeira".
Como o pai, Kurt tinha se aferrado á esperança de que o divórcio seria
apenas um revés temporário, um sonho que passaria. O segundo casamento
do pai e o trailer agora intensamente abarrotado destruíram aquela ilusão.
Don não era homem de muitas palavras e sua própria história dificultava a
expressão de seus sentimentos. "Você me disse que não ia se casar
novamente", reclamava Kurt a Don. "Bem, você sabe, Kurt, as coisas
mudam", respondia o pai.
Jenny tentou se aproximar dele, sem sucesso. "No começo, ele
tinha muito afeição para com todos", lembrou Jenny. Depois, Kurt
constantemente recorria á promessa de Don de não se casar de novo e voltou
a se retrair. Don e Jenny tentaram compensá-lo fazendo Kurt o centro das
atenções na casa — ele abria os presentes primeiro e era dispensado de
tarefas domesticas —, mas esse pequeno sacrifício só serviram para
aumentar seu retraimento emocional. Ele desfrutava dos meio-irmãos como
ocasionais parceiros para brincadeiras, mas também implicava com eles —
era impiedoso com Mindy por ela ser dentuça e imitava cruelmente sua voz
na presença dela.
As coisas melhoraram temporariamente quando a família se
mudou para uma casa própria na rua Fleet, 413, em Montesano. Kurt tinha
seu próprio quarto, que fora dotado de janelas redondas para parecer um
navio.Não muito tempo depois da mudança, jenny deu á luz outro filho,
Chad Cobain, em janeiro de 1979. Agora, duas outras crianças, uma
madrasta e um bebê estavam competindo pela atenção que outrora fora
apenas de Kurt.
Kurt tinha rédea solta nos parques, nas alamedas e nos campos de
Monte. Era uma cidade tão pequena que raramente era preciso transporte: o
campo de beisebol ficava a quatro quadras de distância, a escola era logo
adiante na rua e todos os seus amigo estavam por perto. Em contraste com
Aberdeen, Monte parecia saída de uma peça de Thornton Wilder, uma
América mais simples e mais amiga. Toda as noites de quarta-feira eram
consideradas "noite da família" na casa dos Cobain.
As atividades incluíram jogos de tabuleiro como gamão ou Banco
Imobiliário, e Kurt ficava mais animado do que ninguém com estas noites.
O dinheiro era curto e, por isso, a maioria das férias resultava em
viagens para acampar, mas kurt era o primeiro a entrar no carro quando
estavam se preparando para sair. Sua irmã Kim os acompanhava nas
viagens até que Don e Wendy se desentenderam sobre as férias significariam
um abatimento no sustento dos filhos; depois disso, Kim passou a ver menos
seu pai e irmão. Kurt continuou visitando a mãe nos fins de semana, mas,
em vez de reuniões calorosas, estas ocasiões em geral apenas irritavam a
velha ferida do divórcio; Wendy e Don dificilmente se entendiam e, com isso,
os passeios até Aberdeen significavam ter de assistir a briga dos pais em
torno da programação das visitas. Uma outra tristeza se abateu sobre ele
certo fim de semana: Puff, seu adorado gato, fugiu e nunca mais foi visto.
Como todas as crianças, Kurt era dominado pela rotina e gostava
da estrutura de coisas como a "noite da família" Mas até este pequeno
conforto o deixava em conflito: ele ansiava por proximidade e ao mesmo
tempo receava que a proximidade pudesse resultar em abandono mais
adiante. Ele alcançara o estágio da puberdade em que a maioria dos
adolescentes do sexo masculino começa a se diferencia dos pais e a
encontrar sua própria identidade. Entretanto, Kurt ainda lamentava a perda
do ninho familiar original e, por isso, libertar-se estava carregando de
necessidade e temor. Ele lidava com esses diversos sentimentos
contraditórios dissociando-se emocionalmente de Don e Wendy. Dizia a si
mesmo e aos amigos que os odiava e, nessa caustidade, conseguia justificar
seu próprio distanciamento.
Mas depois de uma tarde com os amigos falando sobre os pais
podres que tinha, ele ainda se veria mais uma vez participando da "noite da
família" e seria o único na casa a não querer que as festividades da noitada
terminassem.
Os feriados sempre eram um problema. O dia de Ação de Graças e
o Natal de 1978 significavam que Kurt faria uma via-sacra por meia dúzia de
casa diferentes. Se os seus sentimentos para com Jenny era uma mistura de
afeto, ciúme e traição, para com o namorado de Wendy, Frank Franich, eram
de pura raiva. Wendy também começara a pegar peado na bebida e a
embriaguez a deixava mais exacerbada. Certa noite, Franich quebrou o
braço de Wendy — Kim estava na casa e testemunhou o incidente — e ela foi
hospitalizada. Quando se recuperou, recusou-se a dar queixa. Chuck, seu
irmão, ameaçou Franich, mas havia pouca coisa que alguém pudesse fazer
para mudar o compromisso de Wendy com ele. Na ocasião, muitos achavam
que Wendy ficava com Franich por causa do apoio financeiro que ele
garantia. Ela havia começado a trabalhar depois do divórcio como balconista
da Pearson's, uma loja de departamentos de Aberdeen, mas era o salário de
estivador de Franich que lhe propiciava luxos como televisão a cabo. Antes
de Franich aparecer, Wendy teve tantas contas atrasadas que sua
eletricidade esteve preste a ser cortada.
Kurt tinha onze anos e era baixo e esquelético, mas nunca se
sentia mais importante ou fraco do que quando estava perto de Franich. Ele
se sentia desamparado para proteger sua mãe e a tensão de assistir a essas
brigas o fez temer pela vida dela e talvez pela sua. Tinha pena da mãe e a
odiava por ter de sentir pena dela. Seus pais tinham sido seus deuses
quando ele era mais novo — agora eram ídolos derrubados, faltosos deuses e
indignos de confiança.
Estes conflitos internos começaram a se evidenciar no
comportamento de Kurt. Ele respondia aos adultos, recusava-se a fazer
tarefas domésticas e, apesar de seu porte pequeno, começou a tiranizar
outro menino com tamanho poder que a vitima se recusou a ir a aula. Os
professores e os pais se envolveram a todos se perguntavam por que um
menino tão meigo se tornara tão desagradável. Ao se esgotarem as
alternativas, Don e Jenny finalmente levaram Kurt para um
aconselhamento. Houve uma tentativa de terapia familiar, mas Don e Wendy
jamais conseguiam chegar no mesmo horário. O terapeuta, porém, passou
duas sessões conversando com Kurt. Suas conclusões eram que Kurt
precisava de uma única família. "Fomos informados de que se Kurt fosse
ficar conosco, precisávamos obter custódia legal sobre ele, de forma que
soubesse que o estávamos aceitando como parte de nossa família", lembrou
Jenny. "Infelizmente, tudo isso iria gerar problemas entre Don e Wendy
quando discutissem a questão".
Don e Wendy estavam divorciados havia vários anos, mas a raiva
que um sentia pelo outro continuava e, na verdade, aumentou em razão dos
filhos. Tinha sido uma primavera difícil para Wendy — o pai dela, Charles
Fradenburg tinha morrido de um enfarte rependido dez dias depois de seu
aniversário de 61 anos. A mãe de Wendy, Peggy, sempre fora uma reclusa, e
Wendy ficou preocupada que isso aumentasse o isolamento da mãe. O
comportamento estranho de peggy pode ter resultado de um horrível
incidente da infância: quando ela tinha dez anos, seu pai esfaqueou o
próprio abdome na frente da família. James Irving sobreviveu á tentativa de
suicídio e foi encaminhado para o mesmo hospital de doenças mentais de
Washington que mais tarde aplicaria terapia de choque na atriz Frances
Farmer. Dois meses depois, ele morreu de seus ferimentos iniciais — quando
o pessoal do hospital não estava observando, ele rasgou as feridas de suas
punhaladas. Como muitas das tragédias da família, a doenças mental do
bisavô de kurt era discutida apenas em cochichos.
Mas mesmo os grandes empenhos da família Fradenburg
fracassaram em reunir Don e Wendy na aflição compartilhada. Suas
discussões sobre kurt terminaram, como todas as conversas que eles
tinham, com uma briga. Wendy finalmente assinou um documento que
dizia; "Donald Leland Cobain será responsável exclusivamente pelo cuidado,
apoio e sustento da referida criança". No dia 18 de junho de 1979, faltando
apenas três semanas para se completarem os três anos da data do divórcio
de Don e Wendy foi concedida a Don a custódia legal de Kurt.

Em baixo está inserido um vídeo da música Love Buzz no show Hollywood Rock no Brasil, 
não esqueçam de fazer um comentário sobre o texto e vídeo

Love Buzz

Em breve o terceiro capítulo, aguardem...