quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Kurt Cobain: A Lenda que não morreu! 21ª Parte


UMA RAZÃO PARA SORRIR

Seattle, Washington,
Agosto de 1993 - Novembro de 1993

"Porra, Jesus Cristo Todo-Foderoso, ame a mim, a mim, a mim,
podemos continuar a titulo de experiência, por favor, eu não me
importo se for fora-da-multidão, eu só preciso de uma platéia, uma
gangue, uma razão para sorrir."

De um registro de diário.
COMO QUALQUER OUTRA FAMÍLIA AMERICANA com o filho
pequeno, Kurt e Courtney compraram uma câmera de vídeo. Embora Kurt
fosse capaz de construir uma guitarra a partir de um bloco de madeira e
restos de arame, ele não conseguiu descobrir como instalar a bateria e, por
isso, a câmera só era usada quando estavam próximos de uma tomada. Uma
única fita de vídeo mapeou o período desde seu primeiro Natal juntos, em
dezembro de 1992, até as imagens de Frances já andando e brincando, em
março de 1994.
Algumas cenas na fita era de show do Nirvana ou tomadas da
banda se divertindo fora do palco. Um fragmento curto captou Kurt,
Courtney, Dave, Krist e Frances sentados no Pachyderm Studios ouvindo o
primeiro play-back de "All Apologies", parecendo todos exaustos da batalha
após uma semana no estúdio. Mas a maior parte da fita documentava o
desenvolvimento de Frances Bean e sua interação com os amigos do casal:
mostrava-a rastejando em volta de Mark lanegan e falando enquanto Mark
Arn cantava um acalanto para ela. Parte da fita era humorística, como
quando Kurt erguia o bumbum do bebe e fazia barulhos de peidos, ou as
tomadas em que ele a está acalmando com uma versão a capela de "Season
in the Sun".
Frances era uma criança beatifíca, tão fotogênica quanto aos pais,
com os olhos hipnóticos do pai e as maçãs do rosto saliente da mãe. Kurt a
adorava e o vídeo documenta um lado sentimental que o público raramente
via nele — o olhar que ele dirigia tanto a Frances como a Courtney durante
esses ternos momentos era um olhar de amor genuíno. Embora esta fosse a
família mais famosa do rock-and-roll, grande parte das tomadas poderia ter
sido de qualquer família americana com uma conta na Toys 'R' Us. mas um
segmento da fita se destaca de todos os demais e mostra o quanto esta
família era extraordinariamente diferente. Tomada por Courtney no banheiro
de sua casa em Carnation, a cena começa com Kurt dando banho em
Frances — ele está usando uma jaqueta doméstica de tom cinza-escuro e
parecendo um bonito proprietário rural. Quando ele ergue Frances como um
avião sobre a banheira, ela involuntariamente resfolega porque está se
divertindo muito. Kurt exibe o sorriso tipo orelha-a-orelha que nunca foi
captado por uma foto instantânea — o mais perto que um fotógrafo chegou
foi a foto de Kurt, Wendy, Don, e Kim dos tempos de Aberdeen. No vídeo,
Kurt parece ser exatamente o que é: um pai cuidadoso e apaixonado e
arrebatado por sua linda filha, sem querer mais nada na vida além fingir que
ela é um avião, planando sobre a banheira e bombardeando num mergulho
os patos de borracha amarelos. Ele fala com ela numa voz de Pato Donald —
exatamente como sua irmã Kim fazia quando ele estava crescendo —, e
Frances dá risada e tagarela, cheia daquela alegria que só uma criança de
oito meses pode transpirar.
A câmera depois se vira em direção á pia, num piscar de olhos, a
cena muda. à direita da pia, afixada a uns vinte centímetros acima na
parede, está um suporte para escovas de dentes — o mesmo tipo de suporte
branco de porcelana presente em 90% dos lares americanos. No entanto, o
que torna esse acessório tão notável é que ele não contém escovas de dentes:
contém uma seringa. È um objeto tão surpreendente e inesperado de se ver
num banheiro que a maioria dos espectadores não o notaria. Mas ele está lá,
solenemente pendurado, a ponta da agulha voltada para baixo, um lembrete
triste e trágico de que, não obstante o quanto exteriormente essa família
pareça comum, existem fantasmas que acompanham até os momentos de
ternura.
Em julho de 1993 o vicio de kurt se tornara rotineiro, fazia parte
da vida na casa dos Cobain e as coisas funcionavam ao redor dele. A
metádona freqüentemente para descrever o papel do alcoolismo numa
família — a de um elefante de mais de quatro toneladas no meio da sala de
estar — parecia tão óbvia que poucos se davam ao trabalho de enunciá-la. O
fato de que Kurt estaria drogado por pelo menos parte do dia havia se
tornado o statusquo — tão aceito quanto a chuva em Seattle. O nascimento
da filha e o tratamento determinado pelo tribunal haviam servido apenas
para distrai-lo temporariamente. Embora tivesse tomado metadona e
burprenorfina durante semanas seguidas, ele não esteve livre de opiatos por
tempo suficiente para se desintoxicar completamente nem por um ano
inteiro.
Na lógica louca que assume o controle das famílias apanhadas no
vicio, parecia quase melhor quando Kurt estava tomando drogas: em
compensação ele era impossível quando está sofrendo a dor física da
abstinência. Poucos chegavam a verbalizar de fato essa teoria — de que o
sistema que girava ao redor de Kurt era mais estável quando ele estava
usando drogas do que quando se abstinha delas —, mas o próprio Kurt a
professava. Em seu diário, argumentava que se fosse para sentir-se como
um drogado em abstinência, ele também poderia ser um na prática.
E Kurt tinha amigos que concordavam com ele: "A teoria toda de
"faze-lo parar de usar drogas" era absurda e, no final das contas, prejudicial
para Kurt", afirma Dylan Calson. "As drogas são um problema quando estão
prejudicando sua capacidade para, digamos, ter uma casa ou manter um
emprego. Até que se tornem um problema dessa natureza, você
simplesmente deixa a pessoa em paz e, por si mesma, ela chegará ao fundo
de seu próprio poço emocional — você não ode obrigá-la a chegar ao fundo.
[...] Ele não tinha nenhum motivo para não tomar drogas." no verão de 1993,
o vicio era uma lente ela qual tudo na vida de Kurt era distorcido. No
entanto, embora estivesse exteriormente mais contente tomando drogas, por
dentro, na contradição louca que é o vicio, ele estava cheio de remorso. Seus
diários eram marcados por lamentações sobre sua incapacidade de ficar
sóbrio. Ele se sentia julgado por todos ao seu redor e estava certo nessa
percepção: toda vez que seus parceiros de banda, família, empresários ou
equipe o encontravam, faziam uma rápida sondagem para determinar se ele
estava drogado ou não. Kurt experimentava esses dez segundos de
sondagem rápida dezenas de vezes por dia, e ficava furioso quando
supunham que ele estava chapado quando não estava. Via-se como um
viciado funcional — conseguia tomar drogas e tocar —, e por isso odiava
constante escrutínio e passou a ficar cada vez mais tempo com seus amigos
drogados — com os quais se sentia menos inspecionado. No entanto, em
1993, mesmo as drogas não estavam funcionando tão bem como antes.
Kurt descobriu que a realidade do vicio estava muito distante do
fascínio que ele certa vez imaginara ao ler os livros de William S. Burroughs,
e mesmo dentro da subcultura ilhada dos viciados se sentia um estranho.
um registro desse período em seu diário o mostra implorando
desesperadamente por amizade e, em última análise, pela salvação:
Amigos com quem eu possa conversar, sair e me divertir, tal como
eu sempre sonhei, poderíamos conversar sobre livros e política e poderíamos
fazer vandalismo á noite, que tal? Hein? Ei, eu não consigo deixar de
arrancar os cabelos! Por favor! Porra, Jesus Cristo todo-foderoso, ame a
mim, a mim, a mim, podemos continuar a titulo de experiências, por favor
eu não me importo se fora fora-da-multidão, eu só preciso de uma platéia,
uma gangue, uma razão para sorrir. Eu não o sufocarei, ah merda, merda,
por favor há alguém ai? Alguém, qualquer um, Deus me ajude, ajude-me por
favor. Eu quero ser aceito. Preciso ser aceito. usarei qualquer tipo de roupa
que você quiser! Estou tão cansado de chorar e sonhar, estou muito,
muuuito só. Não há ninguém ai? Por favor, ajude-me. AJUDE-ME!
Naquele verão, o médico de reabilitação de drogas de Kurt, Robert
Fresmont, sessenta anos, foi encontrado morto em seu consultório em
Beverly hills, curvado sobre sua escrivaninha. A causa de sua morte foi
definida como um ataque cardíaco, embora o filho de Fremont, Marc,
afirmasse que foi suicídio por overdose e que seu pai havia se viciado
novamente em drogas. Na época de sua morte. Fremont estava sendo
investigado pelo Conselho Médico da Califórnia, acusado de fragrantes
negligência e conduta antiprofissional por receitar doses exageradas de
burprenorfina em abundancia para seu cliente mais famoso — ele a fornecia
a kurt em caixas.
No dia 17 de julho de 1993, Nevermind finalmente saiu das
paradas da Billboard depois de estar presente por quase dois anos. Naquela
semana, a banda viajou para Nova York para fazer publicidade e para uma
apresentação de surpresa como parte do Seminário da Nova Música. Na
noite da véspera do show, Kurt reuniu-se com Jon Savage, autor de
England's Dreaming, para dar uma entrevista. talvez devido á sua admiração
pelo livro de Savage, Kurt estava particularmente aberto quanto a falar sobre
sua família, descrevendo o divórcio dos pais como algo que o fazia sentir-se
"envergonhado" e ansiando pelo que ele havia perdido: "Eu queria aquela
segurança". E quando Savage perguntou se Kurt conseguia entender o modo
como o grande distanciamento emocional poderia levar a violência, ele
respondeu afirmativamente; "Sim, definitivamente eu posso perceber como o
estado mental de uma pessoa pode deteriorar-se a ponto de ela fazer isso.
Cheguei a um ponto em que eu fantasiava sobre isso, mas estou certo de
que optaria por me matar primeiro". praticamente toda entrevista que Kurt
deu em 1993 fazia alguma referência a suicídio. quando lhe foi feita a
inevitável pergunta sobre heroína, Kurt contou a inevitável mentira; falou
usando verbos no passado, disse que tomara heroína "por cerca de um ano,
de vez em quando", e afirmou que apenas o fez por causa dos seus problema
de estômago, Kurt declarou que eles haviam terminado: "Eu acho que é uma
coisa psicossomática". Savage achou Kurt particularmente jovial nessa noite.
"Eu não me sinto otimista assim desde pouco antes do divórcio de meus
pais", explicou ele.
Doze horas depois, Kurt jazia no chão do banheiro do seu hotel,
tendo novamente tomado uma overdose. "Seus lábios estavam azuis e os
olhos haviam rolado inteiramente para dentro", recorda o publicitário Anton
Brookesm uma das pessoas que acudiram Kurt. "Ele estava desfalecido.
Ainda havia uma seringa cravada em seu braço." Brookes ficou chocado
quando viu Courtney e Cali entrarem em ação com tarimbados auxiliares
médicos — foram tão metódicos que ele ficou com a impressão de que faziam
aquilo regularmente. Enquanto Courtney checava os sinais vitais de kurt,
Cali o erguia e o esmurrava violentamente no plexo solar. "Ele bateu uma vez
e não obteve muita reação e, por isso, bateu novamente. Então Kurt
começou a voltar a si." Isto. mais água fria no rosto, devolveu-lhe a
respiração. Quando os seguranças do hotel chegaram, atraídos pelo barulho,
Brookes teve de suborná-lo para que não chamassem a policia. Brookes,
Courtney e Cali arrastaram o ainda grogue Kurt para fora do hotel.
"Começamos a fazê-lo andar", lembra Brookes, "mas a principio suas pernas
não obedeciam." Quando Kurt finalmente conseguia falar, insistiu que não
queria ir para o hospital.
Depois de comida e café, Kurt pareceu totalmente ressuscitado,
embora ainda muito intoxicado. Ele voltou ao hotel, onde havia marcado
hora para massagem em seu quarto. Enquanto Kurt recebia a massagem,
Brookes apanhou saquinhos de heroína que estavam no chão e os despejou
no banheiro, Kurt voltara a dar entrevistas negando que usava drogas. Na
passagem de som daquela noite, ele ainda estava muito intoxicado — talvez
devido a um papelote não encontrado por seus auxiliares. "Ele quase morreu
pouco antes daquele show", lembra o técnico de som Craig Montgomery.
Quando David Yow, da banda Jesus Lizard, que abriria o show, foi conversa
com ele, "Kurt não conseguiu falar. Ele só conseguia resmungar. Eu disse:
"Como você está?", e ele respondeu: "Buzzcolloddbed". Em um padrão que
estava se tornando muito conhecido — apesar de pouco antes estar
imprestável, no palco kurt parecia ótimo e o show em si foi uma maravilha.
A banda havia acrescentado Lori Goldston ao violoncelo e foi a primeira vez
que apresentou uma introdução acústica em seus números. O Nirvana
voltou a Seattle na semana seguinte e fez um show beneficente no dia 6 de
agosto para levantar fundos para a investigação do assassinato da cantora
local Mia Zapata. Naquela semana, Kurt, Courtney, Krist e Dave passaram
juntos uma rara noite fora assistindo ao Aerosmith no Coliseum.
Nos bastidores, Steven Syler do Aerosmith chamou Kurt para o
lado e lhe falou sobre sua experiência com grupos de recuperação dos 12
Passos. "Ele não estava pregando", lembra Krist, "só estava falando sobre
experiências similares por que havia passado. Ele tentou encorajá-lo." Dessa
vez, Kurt pareceu ouvir, embora pouco dissesse em resposta.
Naquela mesma semana, também no Seattle Center, Kurt deu uma
entrevista ao New York Times, realizada no topo da Space Needle. Kurt
escolheu o local porque nunca havia estado no marco mais famoso de
Seattle. Ele agora estava insistindo que um representante do departamento
de publicidade da DGC gravasse toda a entrevista — ele achava que isso
reduziria as citações errôneas. A conversa com Jon Pareles, como aconteceu
com todas as entrevista de Kurt em 1993, pareceu uma sessão de terapia, já
que Kurt falava sobre os pais, a esposa e o significado de suas letras. Ele se
abriu o bastante para que Paredes notasse judiciosamente as contradições;
"Cobain resvala entre opostos. Ele é precavido e descuidado, sincero e
sarcástico, tem pele fina e é insensível, é consciente de sua popularidade e
tenta ignorá-la".
Na primeira semana de setembro, Kurt e Courtney regressaram a
Los Angeles para um permanência de duas semanas, sua primeira visita
prolongada antes de se mudarem. Ele compareceram ao Vídeo Music Awards
de 1993 da MTV e o Nirvana ganhou o prêmio de Melhor Vídeo Alternativo
por "in Bloom". A banda não tocou nessa noite e houve poucas das
simulações da premiação do ano anterior. Muita coisa havia mudado no
ramo da musica durante o último ano e o Nirvana estivera perdendo a maior
parte dessas mudanças. Embora In Utero fosse aguardado com extrema
expectativas, a banda já não era mais a maior banda de rock do mundo, pelo
menos comercialmente; Pearl Jam agora detinha essa honra.
Naquela semana, Kurt e Courtney participaram de um show em
beneficio do "Rock Contra o Estupro" no Clube Lingerie de Hollywood.
Courtney estava programada para um apresentação solo, mais depois de
tocar "Doll Parts" e "Miss World", ela chamou "seu marido Yoko" e Kurt
subiu no palco. Juntos eles fizeram duetos de "Pennyroyal Tea" e a música
do Leadbelly "Whre Did You Sleep Last Night?". Esta seria a única vez que se
apresentariam juntos em público. In Utero foi finalmente lançado no dia 14
de setembro no Reino unido e em 21 de setembro nos Estados Unidos, onde
entrou nas paradas no primeiro lugar, vendendo 180 mil cópias só na
primeira semana. O disco alcançou essas cifras de venda apesar de não
estar no estoque do Wal-Mart ou do Kmart: ambas as cadeias haviam
rejeitado o título da canção "Rape me" e a colagem de fetos de bonecas feita
por Kurt para o verso da capa.
Quando seu empresário ligou para informá-lo a respeito, Kurt
concordou em fazer alterações para que o disco chegasse ás lojas. "Quando
eu era criança, eu só podia ir ao Wal-Mart", explicou Kurt a Danny Goldberg.
"Eu quero que as crianças possam comprar esse disco. Farei o que eles
quiserem." Goldberg ficou surpreso, mas preferiu aceitar a palavra de Kurt:
"naquela altura, ninguém sonharia em dizer não a ele. Ninguém o obrigava a
fazer nada".
No entanto, Kurt de fato bateu de frente com seus empresários
quanto a datas de concertos. Ele começou 1993 garantindo que não
pretendia excursionar. Embora sem deixar de ser ouvida, essa decisão
certamente teria reduzido as chances do novo disco chegar ao topo das
paradas. Nessa questão, Kurt enfrentou um trator de oposição: todos que
trabalhavam com ele — dos empresários ate a equipe e os parceiros de
banda — ganhavam o grosso de seu dinheiro com as turnês e insistiram
para que ele reconsiderasse. Quando discutiu o questão com sua advogada,
Romemary Caroll, ele pareceu inflexível. "Ele disse que não queria ir", lembra
ela. "E, francamente, el foi pressionado a ir."
A maior parte da pressão era da administração, mas uma parte
derivada de seu próprio medo da pobreza. Embora estivesse mais rico do que
jamais imaginara ser possível, uma excursão o deixaria ainda mais rico. Um
memorando que Danny Goldberg enviou a kurt em fevereiro de 1993 definia
detalhes de sua renda projetada para os próximos dezoito meses. "Até aqui,
o Nirvana recebeu pouco mais de 1,5 milhão de dólares", declara o
memorando sobre o item de receita derivada das composições. "Acredito que
mais 3 milhões de dólares estejam em via de serem pagos no curso dos
primeiros dois anos." Goldberg calculava que a renda de Kurt em 1993, após
os impostos, incluiria 1,4 milhão de dólares em direitos autorais de
composição, 200 mil dólares de venda esperada de 2 milhões de cópias de
merchandising e bilheteria dos concertos. mesmo essas cifras, escrevia
Goldberg, eram conservadoras: "Pessoalmente acredito que a [sua] renda
para os próximos dezoito meses será o dobro desta quantia ou mais, mas
para o planejamento familiar racional penso que seja seguro 2 milhões de
dólares, o que presumivelmente lhe dá margem para mobiliar muito bem sua
casa e saber que você terá um substancial pé-de-meia". Apesar de seus
protestos anteriores, Kurt concordou em excursionar.
No dia 25 de setembro, o Nirvana estava de volta a Nova York para
se apresentar novamente no Saturday Night Live. Eles tocaram "Heart-
Shaped Box" e "Rape Me", e embora o desempenho fosse vacilante, estava
livre da tensão de sua primeira participa Além do violoncelista Goldston,
haviam acrescentado o ex-guitarrista do Germs, Georg Ruthenberg,
conhecido pelo nome artístico de Pat Smear. Smear era oito anos mais velho
que Kurt e já havia por um longo drama de drogas com Darby Crash, seu
parceiro de banda no Germs. Ele dava a impressão de que havia
pouca coisa capaz de irritá-lo, seu senso de humor estranho
iluminava a banda e sua excursão segura ajudava Kurt a se afligir menos no
palco. Uma semana antes de começar a excursão de In Utero, Kurt voou
para Atlanta para visitar Courtney, que estava gravando o disco do Hole.
Quando passou pelo estúdio, os produtores Sean Slade e Paul Kolderie lhe
mostraram as canções do disco que estavam prontas. Kurt parecia orgulhoso
com o trabalho de Courtney e elogiou suas habilidades de letrista.
Mais tarde, naquele dia, Courtney pediu a Kurt que fizesse os
backing vocals para algumas músicas que faltavam. a principio el protestou,
mas depois concordou, Ficou evidente para Slade e Kolderie que Kurt não
estava familiarizado com grande parte do material. "Ela dizia coisas como
"Vamos lá, cante esta aqui", lembra Kolderie. ""Ele continuava a dizer: "Bem,
deixa eu ouvir primeiro. Como posso cantar se não ouvi?". E ela dizia; "É só
improvisar." Os resultados deixaram a desejar e os vocais de Kurt foram
usados apenas em uma canção na mixagem final. Mas Kurt se animou
bastante quando a sessão final oficial terminou e seguiu-se uma Jam,
sentou-se á bateris, Eric Erlandson e Courtney apanharam as guitarras e
Slade, um baixo. "Foi uma explosão", lembra Slade.
Kurt voltou a Seattle, só partindo uma semana depois para
Phoenix para ensaiar para a próxima excursão do Nirvana. Em um vôo com
escala em Los Angeles, a banda
Truly estava no avião e kurt teve um reencontro caloroso com seus
velhos amigos Robert Roth e Mark Pickerel. Pickerel acabou se sentando na
potrona ao lado de Kurt e Krist — Grohl estava sentado defronte á cabine —
e Pickerel se sentiu constrangido por estar com um exemplar da Details com
o Nirvana na capa, Kurt a apanhou e devorou o artigo. "Ele passou a ficar
agitado enquanto lia" lembra Pickerel. Kurt ficou descontente com as
declarações de Grolh. "ele ficou falando naquilo sem parar", disse Pickerel.
Após alguns minutos nessa ladainha, Kurt anunciou que para seu próximo
disco, "eu quero trazer outras pessoas só para criar um tipo diferente de
disco". Ele retornaria ao assunto diversas vezes naquele outono, ameaçando
demitir seus parceiros de banda.
A excursão de In Utero começo em Phoenix num auditório com 15
mil lugares, onde billy Ray Cyrus havia se apresentado na noite anterior. Era
a excursão de maior escala que o Nirvana empreendia e incluía um
repertório elaborado. Quando a MTV perguntou a kurt por que a banda
estava agora tocando apenas em grandes arenas, Kurt foi pragmático,
citando os maiores custos de produção do show: "Se fôssemos tocar em
clubes pequenos, estaríamos totalmente no buraco. Não somos tão ricos
como todo mundo pensa que somos". Quando o USA Today publicou uma
resenha negativa da estréia ("A anarquia criativa degenerou em arte
performática ruim", escrevia Edna Gunderson), Smear desarmou um acesso
de Kurt comentando: "Isso e maluquice — eles nos pegaram direitinho. Essa
é a coisa mais engraçada que eu já li em minha vida". até Kurt teve de rir.
Courtney pedia a Kurt para que ele não lesse as resenhas, mas ele
as procurava obsessivamente, chegando a consultar jornais de fora da
cidade. Ele se tornava cada vez mais paranóico em relação á mídia e agora
exigia examinar as matérias anteriores de um jornalista antes de aceitar
concerder-lhe uma entrevista.
Entretanto, em Davenport, Iowa, ao voltar para casa após um
show, Kurt acabou num carro com o relações-públicas Jim Merlis e um
redator da Rolling Stone. Kurt não estava sabendo que havia um jornalista
entre eles quando indicou a Merlis uma espelunca de tipo taco bell. O
restaurante fast-food. O restaurante fast-food estava apinhado de garotos
que haviam saído do concerto e todos arregalaram os olhos quando viram
Kurt Cobain na fila para comprar um taco. "Dia de taco era o meu dia
favorito na escola", disse ele a todos ao alcance de sua voz. è claro que a
história foi para na imprensa.
Durante esta primeira semana da excursão, Alex Mac Leod levou
Kurt de carro até Lawrence, Kansas, para conhecer William S. Burroughs.
No ano anterior, Kurt havia produzido um single com Burroughs intitulado
"The Priest They Called Him" ["Eles o Chamavam de O pregador"], na T/K
Records, mas ele haviam realizado a gravação simplesmente enviando e
recebendo de volta as fitas. "Conhecer William foi uma coisa sensacional
para ele", lembra MacLeod. "Era algo que ele jamais imaginou que
aconteceria." Eles conversaram durante várias horas, mas Burrougs depois
afirmou que o assunto das drogas não foi aventado. Quando Kurt partiu no
carro, Burroughs comentou com seu assistente: "Tem alguma coisa errada
com aquele menino; ele fica emburrado sem motivo nenhum".
Em Chicago, três dias depois, a banda encerrou um show sem
tocar "Smells Like Teen Spirit", e houve vaias. naquela noite, Kurt se sentou
com David Fricke da Rolling Stone e começou; "Estou contente por você ter
conseguido vir ao show mais nojento da excursão". A entrevista que Kurt
deu a Fricke foi tão cheia de referência a sua perturbação emocional que
poderia igualmente ter sido publicada em Psychology Today. Ele falou sobre
sua pressão, sua família, sua fama e seus problemas de estômago. "Depois
que se experimentar uma dor crônica durante cinco anos", disse ele a Fricke,
"no momento em que esse quinto ano termina, você está literalmente
maluco. [..] Eu estava esquizofrênico como um gato molhado que foi
ludibriado." Informou que seu estômago agora estava muito melhor e
confessou ter comido uma pizza inteira na noite anterior. Kurt declarou que
durante a pior de suas crises estomacais, "Todo dia eu queria me matar.
Muitas vezes cheguei bem perto". Quando falou de suas esperanças em
relação á filha, Kurt argumentou: "Eu não acho que Courtney e eu estejamos
tão ferrados assim.
Sofremos falta de amor durante a vida toda e precisamos tanto
disso que, se temos alguma meta, está é dar a Frances o máximo de amor
que pudermos, o Maximo de apoio que pudermos".
Depois de Chicago, os shows melhoraram, e com isso, o humor de
Kurt. "Estávamos na ascendente", lembra Novoselic. Todos gostavam de
tocar o material de In Utero e haviam acrescentado "Where Did You Sleep
Last Night?" E um número gospel intitulado "Jesus Wants Me for a
Sunbeam". Durante parte da excursão, Frances, com catorze meses de vida,
viajou com o pai, e Kurt se mostrava mais feliz quando ela estava por perto.
Ao final do mês de outubro, os Meat Pupperts abriram sete shows, unindo
Kurt a seus ídolos Curt e Cris Kirkwood.
Por algum tempo, o Nirvana estivera em negociações com a MTV
para fazer um programa Unplugged. Foi a excursionar com os Meat Puppets
que kurt finalmente aderiu á idéia, convidado os kirkwood para se juntar ao
show, imaginado que a presença adicional na banda iria ajudar. A idéia de
fazer um show despojado deixava Kurt nervoso, e ele se preocupou mais na
expectativa dessa apresentação em particular do que na de qualquer outra
desde a estréia da banda na cervejada de Raymond. "Kurt estava muito
nervoso, muito", Lembra Novoselic. Outros são mais direto: "Ele estava
apavorado", observando o gerente de produção Jeff Mason.
Chegaram a Nova York na segunda semana de novembro e
começaram a ensaiar em um estúdio de som de Nova Jersey. Mas, como
aconteceu com todas as interações que a banda teve com a MTV, mais tempo
foi gasto na negociações do que nos ensaios. Os Kirkwood se viram passando
a maior parte dos dias sentados, esperando, além disso, foram advertidos
pela administração do Nirvana para evitar fumar maconha perto de kurt. Ele
acharam isto particularmente irritante, já que Kurt constantemente chegava
atrasado para os ensaios e visivelmente drogado. "Ele surgia como se fosse
uma aparição de Jacob Marley", observa Curt Kirkwood, "todo enrolado em
flanela, com um boné de lenhador. Parecia um velhote do meio rural. Ele
achava que esse disfarce o deixaria entrosado com os habitantes de Nova
York." Embora Kurt tivesse concordado em fazer o show, el não queria o seu
Unplugged parecidos com os outros da série; a MTV tinha a intenção oposta
e debates se tornaram litigiosos. Na véspera da gravação, Kurt anunciou que
não iria tocar. Mas a MTV estava acostumada a esse truque. "Ele fazia isso
só para nos provocar", disse Amy Finnerty. "Ele desfrutava desse poder."
Na tarde do show, Kurt chegou, apesar de ameaças em contrário
mas estava nervoso e em abstinência. não havia nenhuma brincadeira,
nenhum sorriso, nenhuma graça por parte dele", admite Jeff Mason.
"Conseqüentemente, todos estavam muito preocupados com a
apresentação." Curt Kirkwood estava preocupado porque eles não haviam
ensaiado um conjunto inteiro de músicas: "Nós tocamos as canções inteiras
algumas vezes, mas nunca em conjunto ensaiado. Não chegou a haver um
exercício harmonizado". Finnerty estava preocupada porque Kurt estava
deitado num sofá reclamando do quanto estava se sentindo mal. Quando ele
disse que queria frango do Kentucky Fried Chicken, ela imediatamente
mandou alguém buscar alguns pedaços. Mas, na verdade, ele desejava mais
do que frango frito. Um membro da equipe do Nirvana contou a Finnerty que
Kurt estava vomitando e perguntou se ela poderia "conseguir algo" para
ajudá-lo. "Eles me disseram", lembra Finnerty, "que ele não vai conseguir
fazer o show se nós não o ajudarmos".
E eu estava tipo "eu nunca tomei heroína e não sei onde
encontrar". Sugeriu-se que Valium ajudaria a vencer sua abstinência e
Finnerty pediu a outro empregado da MTV que comprasse um estoque de
farmacêutico corrupto.
Quando Finnerty os entregou a Alex MacLeod, ele voltou para
informar. "Estes são muito fortes — ele precisa de um Valium 5 miligramas".
por fim, um outro mensageiro apareceu com um entrega que o Kurt havia
encomendado.
Kurt finalmente se sentou e fez um breve ensaio de verificação do
som e da disposição da banda no palco. Ele estava tateante no formato
acústico e cheio de receios. Seu maior temor era o de que entrasse em
pânico durante o show e arruinasse a gravação. "Você pode se certificar",
perguntou ele a Finnerty?" Finnerty remanejou a platéia de forma que Janet
Billig e alguns dos outros colegas de Kurt estivessem na fileira da frente.
Mas nem isso foi suficiente para acalmá-lo; ele interrompeu mais uma vez a
verificação do som e disse a Finnerty: "Eu estou assustado". Perguntou se a
platéia iria bater palmas mesmo que ele não tocasse bem. "Claro que sim,
nós vamos bater palmas para você", disse Finnerty. Kurt insistiu que ela se
sentasse para que ele pudesse vê-la. Pediu também para uma pessoas da
produção trazer um pouco de lubrificante de traste; ele nunca o usara
anteriormente, mas disse que tinha visto sua tia Mari aplicá-lo em seu violão
quando ele era garoto.
Nos bastidores, esperando o show começar, Kurt ainda parecia
transtornado. Para melhorar seu humor, Curt kirkwood contou uma piada
que havia sido corrente entre eles: kirkwoos raspava goma de mascar de sob
os tampos das mesas dos restaurantes e as mascava de novo. "Cara, você é
muito esquisito", declarou Kurt. Enquanto se preparavam para entrar no
palco, Kirkwood puxou uma bola de clichete da boca e ofereceu metade para
Kurt — essa brincadeira despertou o primeiro sorriso de kurt naquele dia.
Quando as câmeras começaram a filmar, fazia tempo que aquele sorriso se
fora. Kurt tinha a expressão de um papa-defuntos, um ar apropriado já que
o palco estava montado para uma macabra missa negra. Kurt havia sugerido
lírios roxos, velas pretas e um candelabro de cristal. Quando alex Coletti,
produtor do Unplugged, perguntou: "Você quer dizer... como num funeral?"
Kurt disse que era exatamente isso o que ele queria dizer. Ele tinha
selecionado um conjunto de catorze músicas que incluíam seis covers; cinco
das seis canções covers falavam em morte.
Embora com a expressão abatida e os olhos ligeiramente
vermelhos, mesmo assim Kurt parecia bonito. Usava seu suéter Mister
Rogers e ainda que seus cabelos não tivessem sido lavados fazia uma
semana, Ele transmitia um ar juvenil. Começou com "Abourt a Girl", que foi
apresentada com um arranjo sensivelmente diferente, reduzido seu volume
para enfatizar a melodia e a letra básica da música. Não era exatamente
"unplugged", já que o Nirvana usava amplificadores e bateria, embora com
abafadores e escovas. Um titulo mais preciso foi sugerido por Jeff Mason:
"Eles deveriam ter chamado o programa de "Nirvana em tom menor".
Mas o desempenho emocional de Kurt estava em tom maior. A
música seguinte foi "Come as You Are", e, depois, uma interpretação
assombrada de "Jesus Wants Me for a Sunbeam", com Novozelic no
acordeom. Só depois dessa terceira canção foi que Kurt falou com platéia.
"Garanto que vou estragar esta canção", anunciou ele antes de interpretar
"The Man Who Sold the World", de David Bowie. Ele não estragou e se sentiu
aliviado o bastante durante o intervalo seguinte para brincar que, se ele
tivesse estragado, "Bem, esse pessoal vai ter de esperar".
Quase dá para ouvir o suspiro coletivo de alivio da platéia. Pela
primeira vez naquela noite ele parecia presente, embora ainda tratasse a
platéia na terceira pessoa. A tensão de Kurt se refletiu na platéia: ela estava
reservada, antinatural e á espera de que ele disse uma deixa para relaxar
completamente. Essa deixa não veio, mas a tensão no ambiente — como a de
um jogo de final de campeonato — serviu para tornar o show mais
memorável. Quando chegou o momento de tocar "Pennyroyal Tea", kurt
perguntou ao resto da banda: "Eu vou fazer esta sozinho ou o quê?". A
banda não conseguira terminar nenhum ensaio da canção. "Faz você
sozinho", sugeriu Grohl. E Kurt fez, embora na metade da canção ele
parecesse empacar. Ele tomou um fôlego muito curto e, quando p exalou,
deixou a voz rachar — que ele encontrou a força para avançar rapidamente.
O efeito foi notável: era como assistir a um grande cantor de ópera, em luta
com uma doença, completar uma ária deixando que a emoção, e não
precisão das notas, vendesse a canção. Por diversas vezes, era como se o
peso da asa de um anjo pudesse fazê-lo fracassar, mas as canções o
ajudavam: as palavras e frases musicais eram parte tão integrante dele que
Kurt as poderia cantar semimorto e elas ainda seriam potentes. Foi o maior
momento isolado de Kurt no palco e, como todos os pontos altos de sua
carreira, vinha numa hora em que ele parecia fadado a fracassar.
Depois de "Pennyroyal Tea", o resto das canções importava pouco,
mas ele se tornava mais confiante após cada uma. Ele chegou até a sorrir
em determinado ponto, depois de um pedido da platéia para que tocasse
"Rape Me", gracejando: "Ah, eu acho que a MTV não nos deixaria tocar essa".
Depois de dez músicas, ele chamou os Kirkwood, apresentou-os como os
"brothers Meat", que o acompanharam enquanto ele interpretava três
músicas deles.
Os Kirkwood eram veneráveis desajustados, mas sua esquisitice se
casava perfeitamente á estética de Cobain. Para o bis do final, Kurt escolheu
"Where Did You Sleep last Night?" do Leadbelly. Antes de interpretar a
canção, ele contou o caso de como havia cogitado de comprar a guitarra do
Leadbelly, embora nessa versão o preço fosse inflado para 500 mil dólares,
dez vezes o que ele havia dito três meses antes.
Embora Kurt fosse propenso ao exagero ao contar um caso, sua
interpretação da canção era moderada, amortecida, etérea. Ele cantou a
música com os olhos fechado e quando dessa vez sua voz se tornou
dissonante, ele converteu o lamento em um grito primal que pareceu
prosseguir durante dias. Foi fascinante. Quando ele saiu do palco, houve
ainda outra discussão com os produtores da MTV — eles queriam um bis.
Kurt sabia que não conseguiria superar o que havia feito.
"Quando você vê o suspiro em sua expressão antes da última
nota", observa Finnerty, "é quase como se fosse o último suspiro de sua
vida." Nos bastidores, o resto da banda estava empolgada com a
apresentação, embora Kurt ainda parecesse inseguro. Krist disse a ele; "Você
fez um ótimo trabalho lá em cima, cara", e Janet Billig estava tão comovida
que chorou. "Eu disse a ele que era o seu bar mitzvah, um momento de
definição da carreira, tornando-se o homem de sua carreira", lembra billig.
Kurt gostou dessa metáfora, mas quando ela elogiou sua execução na
guitarra, isto pareceu ser uma extrapolação: ele a desancou, declarando que
era um "péssimo guitarrista" e pedindo que ela nunca o elogiasse
novamente.
Kurt saiu com Finnerty, evitando uma festa após o show. No
entanto, mesmo depois de um desempenho sublime, sua confiança não
parecia nem um pouco mais alta. Ele se queixou: "Ninguém gostou". Quando
Finnerty lhe falou que tinha sido incrível e que todos adoraram, Kurt
protestou que a platéia normalmente ficava dando pulos em seus shows.
"Eles só ficaram lá sentados, em silêncio", murmurou ele.
Finnerty já havia ouvido bastante. "Kurt, eles acham você é Jesus
Cristo", declarou ela. "A maioria dessas pessoas nunca teve a oportunidade
de ver você tão perto. Elas estavam totalmente tomadas por você". Diante
disso, ele amoleceu e disse que queria ligar para Courtney. Enquanto
entravam num dos elevadores do hotel, ele cutucou Finnerty e se vangloriou:
"Eu realmente estive demais esta noite, não estive?". Foi a única vez que ela
o ouviu admitir seu próprio talento.
Entretanto, um acontecimento que ocorrera dois dias antes da
gravação do unplugged era mais significativo do intimo de Kurt do que tudo
o mais na MTV. Na tarde de 17 de novembro, a banda se preparava para
deixar seu hotel em Nova York rumo ao ensaio para o Unplugged. Enquanto
Kurt caminhava pelo saguão do hotel, foi abordado por três fãs do sexo
masculino trazendo CDs pedindo autógrafos. Ele ignorou seus pedidos,
caminhando até a van que o aguardava com as mãos sobre o rosto, do modo
como fazem inúmeros criminosos para não serem fotografados ao sair do
tribunal. O trio parecia surpreso por ele ser tão indelicado, mas, como
lembra o violoncelista Lori Goldston, "havia algo na expressão deles que não
parecia ser inteiramente de desprazer. Embora eles não tivessem conseguido
um autógrafo, haviam tido uma conexão com Kurt, que era o que realmente
queriam". Até um "vai se foder" de seu herói enigmático era motivo para
celebração.
Enquanto a van se enchia com o resto do grupo, um membro da
equipe estava ligeiramente atrasado e, por isso, esperavam. Era evidente que
se a van tivesse de ficar ali parada por dias, esses fãs continuariam
esperando, simplesmente para olhar para Kurt, que não lhes devolvia o
olhar. Enquanto estavam esperando, Krist comentou com Kurt: "Ei, aquele
cara o chamou de panaca". Muito provavelmente Novoselic disse isto de
gozação — nenhum dos presentes se lembra de ter ouvido nada ofensivo. O
membro da equipe que estava faltando finalmente saltou para dentro da van
e o motorista acionou o carro. mas, no momento em que o veículo se pôs em
movimento, Kurt gritou "Pare!", com a mesma força que um homem gritaria
"Fogo!" á primeira visão de chamas. O motorista pisou no freio e Kurt baixou
o vidro do lado do passageiro. Os fãs na calçada estavam admirados por ele
estar reconhecendo sua presença e pensando, talvez, que finalmente ele ia
lhes conceder um precioso autógrafo. Em lugar de estender a mão pela
janela, Kurt estirou seu corpo comprido e magro para fora, mas não como
Leonardo di Caprio em Titanic. Uma vez completamente estendido, ele
arqueou o tronco para trás e lançou uma enorme placa de catarro do fundo
de seus pulmões. O catarro subiu e foi parando no ar, quase como em
câmera lenta, até que aterrissou chapado na testa de um homem que tinha
nas mãos uma das 8 milhões de cópias vendidas de Nevermind.

DRAIN YOU

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