quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Kurt Cobain: A Lenda que não morreu! 22ª Parte


A DOENÇA DE COBAIN

Seattle, Washington
Novembro de 1993 - Março de 1994

"E o titulo de nosso álbum duplo é "A doença de Cobain". Uma ópera
rock sobre vomitar suco gástrico."
De um registro de diário.

NO DIA DO UNPLUGGED, Kurt tinha um segredo que influenciava
seu humor: seus problemas de estômago estavam de volta e ele estava
vomitando bilis e sangue. Ele tinha voltado a roleta médica, consultando
múltiplos especialista na Costa Leste e na Costa Oeste, ou onde quer que a
excursão parasse.
Embora Kurt recebesse muitas opiniões diferentes sobre seus
males — alguns achavam que era síndrome de intestino irritado, mas o
diagnóstico era vago e ele fizera exames para a doença de Crohn obtendo
resultados negativos —, nenhum dos tratamentos lhe dava alivio. Kurt ainda
jurava que a heroína ajudava, mas era discutível se ele se absteve da heroína
por tempo suficiente para saber se ela era o problema ou a cura. Na manhã
do Unplugged, Kurt passou uma hora preenchendo o questionário de um
médico sobre seus hábitos alimentares. No questionário ele contou a história
de toda uma existência de privação, tanto física como espiritual. Escreveu
que seu sabor predileto era "framboesa-chocolate", e que o menos preferido
era "brócolis, espinafre e cogumelo", À pergunta de qual prato sua mãe fazia
que ele gostava mais, respondeu "carne assada, batatas, cenoura, pizza". à
pergunta "Qual comida você dava para o cachorro debaixo da mesa?", ele
respondeu: "comida da madrasta". Descreveu suas maiores preferências de
comida para viagem como a da Taco Bell e pizza de pimentão de crosta fina.
À única cozinha que ele confessava odiar era a indiana. Quando o
questionário perguntava sobre sua saúde geral, ele não mencionou seu vicio
na droga e simplesmente escreveu "dores de estômago". Em termos de
exercício, a única atividade física que informou foi "apresentação artística".
E á pergunta "Você gosta muito de vida ao ar livre?", ele deu uma
resposta de três palavras: "Ah, me poupe!" Ele registrava a evolução de seus
problemas gastrintestinais em seu diário, gastando páginas sobre detalhes
mínimos como a descrição de um endoscopia (procedimento por meio do
qual câmeras de vídeo minúsculas é inserida pelo tubo intestinal, algo que
ele havia feito três vezes). Seu estômago o atormentava e, ao mesmo tempo e
até certo ponto, o entretia. "Por favor, meu Deus", rogava ele num desses
registros, "que se danem os discos de sucesso, apenas permita que minha
doença rara e inexplicável de estômago recebe o meu nome, como "Doença
de Cobain". E o titulo de nosso álbum duplo e "Doença de Cobain". Uma
ópera-rock sobre vomitar suco gástrico e ser um anoréxico termina, Grungeboy
de Auschwitz, acompanhada de vídeo caseiro de endoscopia!".
Embora unplugged tivesse sido um ponto alto emocional, dez dias
depois, em Atlanta, ele chegou a uma baixa física, deitado no chão de um
camarim e comprimindo a barriga. O serviço de bufê da excursão havia
desconsiderado seu pedido de Kraft Macaroni and Cheese — em lugar disso,
prepararam um prato de macarrão de conchinhas, queijo e chilli. Courtney
levou o prato de macarrão para o empresário John Silva e exigiu; "Que droga
este chilli e este queijo vagabundo estão fazendo neste macarrão?".
Enquanto segurava o prato no ar como uma garçonete, exibia a comanda de
Kurt onde estava escrito em negrito: "apenas Kraft Macaroni and Cheese".
Para enfatizar o que dizia, atirou a comida no lixo. "Ela não se importava
com o que Silva pensava dela, só queria se certificar de que Kurt conseguisse
a comida que ele podia comer", lembra Jim Barber, que estava na sala. "Ela
disse a John: "Por que você simplesmente não deixa que o Kurt seja quem
ele é?". Para deixar ainda mais claro o que ela queria dizer, Courtney obrigou
Silva a examinar o vômito de Kurt, que continha sangue. Depois que
Courtney saiu da sala, Silva virou-se para barbear e disse: "Vê com o que eu
tenho de lidar?".
A relação entre Kurt e seus empresários havia se deteriorado até
chegar ao ponto em que a organização do Nirvana se assemelhava com a
própria família de Kurt, com seus parceiros de banda fazendo o papel de
meio-irmãos, enquanto os empresários eram os pais. "Kurt odiava John",
lembra um ex-funcionário da Gold Mountain, talvez porque silva lembrasse
um pouco seu pai. Ao final de 1993, a desconfiança de Kurt em relação á
Gold Mountain era tão grande que ele contratou Dylan Carlson para
examinar rotineiramente seus extratos financeiros porque achava que estava
sendo enganado, e Kurt tinha a maioria de seus contatos com Michael
Meisel, assistente de Silva. Por seu lado, silva descrevia abertamente seu
cliente mais famoso como "um drogado", o que era exato, ainda que, para
aqueles que ouviam, isso parecesse desleal. Também era verdade que Silva
— como todos na vida de Kurt, inclusive Courtney — simplesmente não
sabia o que fazer quanto ao vicio de Kurt. O amor exigente era melhor do que
a aceitação? Era melhor envergonhá-lo ou capacitá-lo? o outro empresário
de Kurt, Danny Goldberg, tinha trabalhado como assessor de imprensa para
o Led Zeppelin durante o auge da dissipação daquela banda: por
conseguinte, tarefas como localizar especialistas em reabilitação de drogados
geralmente cabiam a ele. Kurt passou a tratar Danny — a Gold Mountain —
o estava sacaneando. A relação pessoal entre eles era complicada por sua
relação profissional; a esposa de Goldberg, Rosemary Carroll, era advogada
de Kurt e Courtney. Era uma situação incestuosa que deixava as pessoas
intrigadas, "Eu não acho que isso fosse no melhor interesse de Kurt, e não
estou questionando as habilidades [de Carroll] como advogada", observa
Alan Mintz, o advogado anterior dos Cobain. no entanto, não havia como
negar que Kurt confiava em Romesary e Danny. Pouco tempo depois que
Frances nasceu, ele escreveu uma minuta de "Últimos desejos e testamento"
(que nunca foi assinado), declarando que se Courtney morresse, seu desejo
era que Danny e Rosemary fossem tutores de sua filha. Depois deles, ele
concedia o encargo a sua irmã Kim e, depois dela, el relacionava os tutores
subseqüentes: Janet Billig, Eric Erlandson, do Hole; Jackie Farry, a ex-babá,
e Nikki McClure, a velha vizinha de Kurt, com que ele não falava havia mais
de um ano. o nono na sucessão — que só se Eric, Jacie e Nikki estivessem
mortos — era Wendy O'Connor, mãe de Kurt.
Ele escreveu que sob nenhuma circunstância — nem mesmo se
cada um dos outros parentes de sua família estivessem mortos — Frances
seria deixada aos cuidados de seu pai ou de qualquer pessoa da família de
Courtney.
A etapa americana da excursão de in utero se arrastou por mais
um mês depois do Unplugged, chegando a St. Paul, Minnesota, no dia 10 de
dezembro. O Nirvana tinha outra filmagem na MTV ao final daquela semana
e kurt decidiu fazer as pazes com a rede; convidou Finnerty e Kurt Loder
para entrevistá-lo. Na gravação, os integrantes da banda se embebedaram,
mostraram um sobre o outro até que derrubaram a câmera. "Nuca foi para o
ar", lembra Finnerty, "porque todos, inclusive Kurt Loder, estavam tão
embriagados de vinho tinto que o vídeo ficou inutilizável." Depois, Loder e
Novoselic destruíram um quarto de hotel, despedaçando o televisor e
arrastando peças da mobília para o saguão de entrada.
Mas tarde, o hotel moveu sem sucesso uma ação judicial para
cobrar o que eles alegavam ter sido 11.79 dólares em danos. Três dias
depois, a banda gravou Live and Loud da MTV em Seattle. A rede filmou a
apresentação do Nirvana diante de uma platéia pequena, usando objetos de
cena para fazer parecer que era véspera de Ano-novo, quando o programa
seria transmitido. Depois da apresentação, Kurt convidou a fotógrafa Alice
Wheeler para ir até o hotel Four Seasons para conversar Ele encomendou
bife do serviço de quarto, explicando que "a MTV está pagando". Ele insistiu
para que Wheeler fosse visitá-lo na casa nova que ele e Courtney estavam
comprando, mas não conseguiu lembrar do endereço. Disse a ela, como
agora dizia para a maioria de seus amigos, para contatá-lo através da Gold
Mountain. Distribuir o número de sua administração teve o resultado
imprevisto de isolar Kurt ainda mais; Muitos amigos antigos afirmaram ter
ligado para a Gold Mountain sem nunca obter resposta, e acabaram
perdendo contato. Uma semana depois, quando a excursão chegou a Denver,
Kurt se reuniu com Jonh Robinson do Fluid. Quando Robinson revelou que
a banda havia se separado, Kurt quis saber todos os detalhes; ele deu a
impressão de estar procurando deixas.
Robinson mencionou que havia começado a compor canções no
piano e queria fazer um álbum de luxo usando cordas e metais. "Uau!", disse
Kurt. "É exatamente o que eu quero fazer!" Ele declarou Robinson para
colaborar com os dois depois que terminasse a prolongada excursão. Ele
também estivera conversando sobre um trabalho com Michael Stipe do
R.E.M.
A excursão finalmente fez uma pausa no Natal e Kurt e Courtney
voaram para o Arizona para passar quatro dias no Spa exclusivo Canyon
Ranch, nas proximidades de Tucson. Como presente de Natal, ela lhe deu
uma cópia em vídeo da série de Ken Burns, The Civil War, que fascinava
Kurt. Ainda no spa, Kurt tentou sua própria desintoxicação autopoliciada, e
todo dia visitava o dr. Daniel Baker, o conselheiro residente no local. o
terapeuta apresentou um parecer que acompanhou Kurt bem depois do fim
da semana prolongado: ele o advertiu de que seu vicio tinha chegado a um
ponto em que tinha de ficar sóbrio; caso contrário, morreria muitos outros
haviam lhe dito o mesmo conselho, mas naquele dia Kurt pareceu ouvir.
A diferença entre sobriedade e intoxicação nunca foi tão bem
ilustrada quanto no dia 30 de dezembro, quando o Nirvana fez um show no
Great Western Forum, perto de Los Angeles. O cineasta Dave markey estava
gravando em vídeo naquela noite, e observou uma exibição de embriaguez
tão extrema que desligou a câmera por piedade. E não era Kurt quem estava
drogado — era Eddie Van halen. O famoso guitarrista estava nos bastidores,
bêbado e de joelhos, suplicando a Krist que o deixasse participar da Jam
session. Kurt chegou e ficou surpreso ao ver seu outrora herói
desmoronando em sua direção com os lábios enrugados, como um Dean
Martin tostado em um esquete malfeito de uma gangue de transviado. "Não,
você não pode tocar conosco", anunciou Kurt, categórico. "Nós não temos
guitarras extras."
Van Halen não engoliu esta obvia mentira e apontou para Pa
Smear, gritando: "bem, então me deixe tocar a guitarra do mexicano. O que
ele é, ele é mexicano? Ele é negro?". Kurt não conseguia acreditar no que
ouvia. "Eddie entrou naquela troça típica racista, homofóbica, reacionária",
observa Dave markey. "Foi surrealista." "Na verdade, você pode tocar",
prometeu ele. "Você pode entrar no palco depois do nosso bis. Simplesmente
vá até lá e toque sozinho!" E saiu dali com raiva.
Quando terminava o ano de 1993, Kurt escreveu várias reflexões
sobre o significado do ano que transcorrera. Ele redigiu uma carta para a
Advocate agradecendo a revista por publicar sua entrevista e listar suas
realizações: "Foi um ano frutífero. O Nirvana concluiu outro disco (do qual
estamos bastantes orgulhosos, embora agüentássemos a besteira de gente
que proclamava — antes de seu lançamento — que iríamos cometer "suicídio
comercial").
Minha filha, Frances, uma alegria querubica, me ensinou a ser
mais tolerante com toda a humanidade".
Ele também redigiu uma carta não enviada para Tobi Vail. Tobi
ainda estava esperando para concluir o projeto de gravação sobre o qual
tanto haviam conversado e isto convenceu Kurt — ainda magoado pela frieza
com que ela o tratava — de que ela só estava interessada nele para avançar
em sua carreira. Ele lhe escreveu uma carta amarga: "Faça-os pagar
enquanto você ainda é bonita, enquanto assistem a sua ruína e queimam
você". Referindo-se a In utero, ele declarou: "Nenhuma canção nesse disco é
sobre você. Não, eu não sou seu namorado. Não, eu não componho canções
sobre você, com Exceção de "lounge act", que eu não toco, exceto quando
minha esposa não está presente". Por trás de sua ira estava a terrível mágoa
que ele ainda sentia por sua rejeição. Essas não foram as únicas palavras
mordazes que el dirigia a Tobi; e, outra ladainha não enviada, ele arrasava
com ela, Calvin e Olympia:
Eu ganhei cerca de 5 milhões de dólares no ano passado e não
darei nem um tostão furado aquele elitista e pentelho do Calvin Johnson. De
jeito nenhum! Eu colaborei com um de meus ídolos, William burroughs, e
não poderia me sentir melhor. Eu me mudei para Los Angeles por um ano e
voltei para descobrir que três de meus melhores amigos se tornaram
totalmente viciados em heroína. Aprendi a odiar o riot grrrl, um movimento
do qual fui testemunha desde o seu incipiente começo porque transei com a
garota que publicou o primeiro fanzine estilo grrrl e agora ela está
explorando o fato de que transei com ela. Não de um modo ostensivo, mas o
bastante para que me sinta explorado. Mas tudo bem porque decidi deixar os
brancos incorporados me explorarem alguns anos atrás e eu adoro isso. È
legal. E não vou doar um puto para porra nenhuma de regime fascista
independente necessitado. Eles que passem fome. Eles que comam vinil.
Cada canalha que se vire sozinho. Eu conseguirei vender meu rabo sem
talento e sem criatividade durante anos com base em meu status cult.
No inicio de janeiro, Kurt e Courtney se mudaram para sua nova
casa em Lake Washington Boulevard, 171, leste, no elegante Denny-Blaine,
um dos bairros mais antigos e exclusivos de Seattle. A casa ficava logo no
começo da colina á beira do lago, em um área de propriedades luxuosas e
mansões imponentes da virada do século. A casa em frente tinha uma placa
em francês de "proibido estacionar", enquanto o vizinho da casa ao lado era
Howard Schultz, diretor executivo da Starbucks. Embora Peter Buck do
R.E.M. possuísse uma casa na quadra seguinte, ele e os Cobain eram
exceções no bairro, que era ocupado por herdeiros da classe alta, matronas
da sociedade e o tipo de pessoas com cujos nomes são batizados os edifícios
públicos.
A casa havia sido construída em 1902 por Elbert Blaine — a partir
de cujo sobrenome o bairro fora batizado —, e este reservara para si a
melhor e maior faixa da terra. Ela tinha quase 3 mil metros quadrados e era
luxuriosamente ajarinada com rododentros, bordos japoneses, comisos,
cicutas e magnólias. Era uma propriedade deslumbrante, embora tivesse a
estranha característica de estar diretamente ao lado de um pequeno parque
municipal, o que lhe conferia menos privacidade do que muitas das casas do
distrito.
A casa em si era um monolito de 725 metros quadrados, três
andares, cinco lareiras e cinco quartos. Com frontões e telhados de cavacos
em tom cinzento, parecia mais bem adaptada á costa do Maine, onde poderia
ter servido de residência de férias para um ex-presidente. Tal como a maioria
das casas grandes e antigas, ela tinha muitas correntes de ar, embora a
cozinha certamente fosse confortável — havia sido totalmente remodelada e
era dotada de um refrigerador de aço inox traulson, um forno Thermador e
piso de carvalho. O andar principal continha uma sala de estar, sala de
jantar, cozinha e uma biblioteca que se tornou quarto para o babá Cali. O
segundo andar tinha um quarto para Frances, dois quartos para hóspedes e
uma suíte principal, como seu próprio banheiro privativo dando vista para o
lago. O andar superior consistia em um grande sótão sem calefação,
enquanto o porão tinha outro quarto e várias despensas fundas, fracamente
iluminada. Os Cobain pagaram 1 milhão e 130 mil dólares pela casa; sua
hipoteca com o Chase Manhattan era de 1 milhão de dólares, com
pagamentos mensais de 7 mil dólares e taxas de 10 mil dólares por ano. Na
parte traseira da casa havia uma estrutura independente, abrigando uma
estufa e uma garagem. O Valiant de Kurt — que já fora sua casa — logo
encontrou um lugar na garagem. Cada membro da família descobriu um
pequeno canto da casa para chamar de seu: o quintal norte se tornou o
playground de Frances, com direito a trepa-trepa: a coleção de xícaras de
Courtney entrou em exibição na cozinha, ao passo que seu sortimento de
ligerie encheu um closet inteiro no quarto; o porão se tornou o depósito de
todos os prêmios de discos de outro de Kurt — que não eram exibidos,
apenas empilhados. Em um canto no andar principal havia um manequim
completamente vestido, como um estranho sentinela cadavérico. Kurt não
gostava de espaços amplos e sua parte favorita da casa era o closet do lado
de fora do quarto principal, que ele usava para tocar guitarra. Logo Kurt
descobriu outros lugares para se esconder. Ele tinha um mês de folga antes
da excursão In Utero seguir para a Europa e pareceu tomar uma decisão
consciente de passar o máximo desse tempo de descanso como possibilidade
para tomar drogas com Dylan. O relacionamento entre os dois se
aprofundou mais do que seus vícios mútuos: Kurt realmente amava Dylan e
foi mais intimo dele do que de qualquer um dos poucos amigos de Kurt a
serem do Jesse Reed. Dylan também era um dos poucos amigos de kurt a
serem bem-vindas á casa do lago Washington — Courtney não tinha muito
como expulsá-lo, já que quando ela ocasionalmente tinha uma recaída,
Dylan era sua principal conexão com as drogas. Havia cenas quase cômicas
quando Dylan fazia avião para marido e mulher: Kurt ligava atrás de drogas,
enquanto Courtney esperava na outra linha, em busca de seus próprios
tóxicos, e cada uma pedia a ele que não contasse para o outro cônjuge.
Em 1994, Cali estava pegando pesado em cocaína. Eles o
mantinham na folha de pagamento, já que áquela altura ele basicamente
fazia parte da família, mas passaram a maior parte dos cuidados com
Frances á supervisão de outros e falaram com Jackie Farry sobre sua volta.
Cali ainda fazia a maioria das compras — minipizzas congeladas da Totino
para kurt e tortas Marie Callender para Courtney —, já que, nas raras
ocasiões em que os cobain iam pessoalmente ao mercado, sofriam com esta
tarefa. Larry Reid teve a oportunidade de estar atrás de Kurt e Courtney na
Rogers Thriftway naquele mês de janeiro; "Eles iam jogando as coisas para
dentro da cesta, mas não havia lógica nenhuma no que eles estavam
comprando. Eram bobagens, tipo tempero, catchup e coisas assim. Era como
se um cego fosse até a mercearia e ficasse apenas jogando coisas na sua
cesta".
Quando Courtney tentou impedir que os traficantes aparecessem,
Kurt contratou amigos para esconder as entregas nos arbustos. O uso de
drogas por kurt havia se expandido no curso de seu vico: ele se ele não
conseguira encontrar heroína, injetava-se com cocaína ou metanfetamina,
ou usava narcóticos com receita, como Percodan, comprados na rua. Se
todas as outras fontes secavam, ele tomava doses maciças de
benzodiazepina, na forma de Valium ou de outros tranqüilizantes — eles
atenuavam seus sintomas de abstinência da heroína. Toda tentativa de
impedir que as drogas entrassem na Lake Washington Boulevard, 171, teria
tanto sucesso quanto um encanador que tenta conserta um cano que está
sendo crivado de balas; assim que um vazamento é consertado, surge outro.
E em meio a esses traumas cotidianos, o Nirvana seguia em frente
planejando a próxima excursão e programando ensaios, ainda que Kurt
poucas vezes aparecesse.
A banda havia sido convidada para se a atração principal do
Festival de Lollpalooza de 1994. Todos ao redor de kurt, desde a seus
empresários até os integrantes, achavam que o Nirvana deveria aceitar a
oportunidade, mas Kurt hesitou diante de mais excursões. Sua reticência
enfureceu Courtney, que achava que ele devia fazer a excursão para garantir
o futuro financeiro deles. A maioria das discussões sobre esta ou outras
oportunidades resultava em torneios de gritos e berros entre os dois.
Wendy ligou para Kurt na ultima semana de janeiro para anunciar
que seu próprio torneio de dez anos de gritaria com Pat O'Connor estava
finalmente encerrado — eles tinham se divorciado. Kurt, embora triste por
saber da aflição da mãe, regozijou-se ao ouvir que seu ex-concorrente na
atenção de sua mãe havia sido finalmente desalojado. Mas também ouviu
noticias que o entristeceram: sua adorada avó Íris vinha sofrendo de
problemas cardíacos e estava sendo internada no hospital em Seattle para
exames e tratamento. Leland ligou para Kurt assim que Íris se internou no
hospital em Seattle. Kurt comprou cem dólares em orquídeas e
apreensivamente se aventurou a entrar no hospital sueco. Foi difícil para ele
ver Íris tão frágil: ela tinha sido o assunto mais do que a de sua própria
morte. Ele ficou horas a fio sentado junto dela. Enquanto ele estava ali, o
telefone ao lado da cama tocou — era seu pai.
Ao ouvir a voz de Don, Kurt sinalizou que ia sair do quarto. Mas
Íris, mesmo em seu estado delicado, segurou-lhe o braço e passou-lhe o
telefone. Por mais que ele quisesse evitar o pai, não poderia recusar-se a
atender ao pedido de uma mulher agonizante.
Era a primeira vez que Kurt e Don conversaram desde seu terrível
encontro no concerto de Seattle. A maior parte da conversa foi sobre Íris —
os médicos previam que conseguiria superar a crise atual, mas ele tinha um
problema cardíaco irreversível. No entanto, alguma coisa em sua breve troca
de palavras pareceu derrubar uma barreira — talvez porque kurt
pressentisse na voz de Don parte do mesmo medo que ele sentia. Antes de
desligar, Kurt deu ao pai o número do telefone de sua casa e pediu para que
ele ligasse.
"Teremos de nos encontrar em breve", disse Kurt ao desligar o
telefone e olhou para a vó, que estava sorrindo. "Eu sei que grande parte
dessa coisa vem da minha mãe", disse Kurt a Íris e Leland." Agora seu que
grande parte disso era besteira."
Em janeiro de 1994 a personalidade de Leland estava radicalmente
mudada — Kurt sofria ao ver Leland tão humilde e assustado. Embora
Leland tivesse passado por muitas perdas — que remontavam á morte
prematura de seu pai e aos suicídios de seus irmãos —, a doença de sua
esposa após 49 anos de casados parecia ser a mais difícil de suportar. Kurt
convidou seu avô para passar a noite em sua casa, e, quando os dois Cobain
chegaram, Courtney estava vestida apenas com uma combinação. Este era o
traje habitual para uma artista que fazia da roupas intimas uma afirmação
de estilo, mas o antiquado Leland achou aquilo constrangedor: "Ela não
estava de calcinha; por certo isto não era nada apropriado a uma dama".
Leland trombou com Cali na sala de estar e ficou chocado quando Kurt o
informou que este jovem cabeludo com ar de bêbado era um dos que
cuidavam de Frances.
Courtney saiu para uma reunião e kurt levou o avô a seu
restaurante favorito; a Internacional house of Pancakes. Kurt recomendou o
rosbife I-Hop, que ambos pediram. Enquanto comiam, Kurt examinou o
itinerário para sua próxima turnê européia. A banda estava programada
para realizar 38 shows em dezesseis paises em menos de dois meses.
Embora não fosse tão estafante como a excursão "Heavier than heaven" com
o Tad, para Kurt parecia mais cansativa. Ele intencionalmente pedira uma
pausa no meio do caminho, durante a qual esperava visitar a Europa como
turista com Courtney e Frances. Kurt disse a Leland que quando voltasse
queria planejar uma viagem de pescaria. Durante o jantar, Kurt foi
interrompido três vezes por outros fregueses que pediam autógrafos. "Eles os
concedia e perguntava o que eles queriam que ele escrevesse", observa
Leland. "Mas ele me disse que não gostava de fazer isso." no caminho de
volta para casa, Kurt pediu para dirigir o furgão Ford de Leland e disse ao
avô que queria comprar um modelo semelhante. Naquele mês ele já estivera
procurando carros e comprara um Lexus preto. Jennifer Adamson, uma das
namoradas de Cali, lembra-se de Kurt ter passado por seu apartamento para
exibi-lo:? "Courtney quis comprá-lo, mas Kurt acho que era muito
extravagante e não gostou da cor. Eles acabaram devolvendo-o". Mais tarde,
Courtney explicou em uma mensagem pela Internet: "Saímos outro dia e
compramos um carro preto muito dispendioso, demos uma volta com ele,
olhavam para nós o tempo todo e nos sentimos mortificados como se
fôssemos traidores — por isso o devolvemos dezoito horas depois de comprálo!".
Na última semana de janeiro, o Nirvana tinha uma sessão de
gravação no Robert Lang Studios, ao norte de Seattle. No primeiro dia,
apesar de repetidos telefonemas, Kurt não apareceu. Courtney já havia
partido para o exterior com o Hole e ninguém atendia o telefone na casa dos
Cobain.
Novoselic e Grohl usaram o tempo para trabalhar em canções que
Dave havia composto. Kurt também não apareceu no segundo dia, mas, no
terceiro, um domingo, ele chegou, sem mencionar nada sobre o motivo por
que não havia ido para as sessões anteriores. Ninguém o questionou - fazia
muito que o grupo perdera a democracia e Krist e Dave tinham se
conformado em esperar, achando que seria um milagre ter alguma
participação de Kurt.
Naquele terceiro dia eles trabalharam durante dez horas e, apenas
das baixas expectativas, definiram trilhas para onze canções, Durante a
manhã, um gatinho preto no estúdio. O recém-chegado, que se parecia um
pouco com Puff, o gatinho de estimação da infância de kurt, deixou-o
consideravelmente mais leve. A banda gravou várias canções compostas por
Grohl (que mais tarde acabariam sendo regravadas pelo Foo Fighters) e,
nestas, Kurt tocou bateria. Uma canção de Kurt que eles gravaram era
intitulada "Skid-marcs", uma referência a manchas na cueca; "Kurt jamais
se livrou de obsessão por matéria fecal. Outra delas se chamava "Butterfly",
mas, como a maioria das canções novas, não tinha letra e não estava
completamente estruturada.
Uma composição singular de Kurt foi completada com vocais e
representa um dos pontos altos de toda a sua obra. Mas tarde ele a intitulou
"You Know You're Right" ["Você sabe que você tem Razão"], mas, na única
vez quem foi tocada ao vivo — em Chicago, no dia 23 de outubro de 1993 —,
ele a chamou de "On the Mountain" ["Na Montanha"]. Musicalmente, ele se
caracterizava pela mesmo dinâmica suave/pesada de "Heart-Shaped Box",
com versos tranqüilos seguidos por um estribilho barulhento dos gritos de
Kurt.
"Nós a bombardeamos juntos rapidamente", lembra Novoselic.
"Kurt tinha o tema e o introduzia e nós o definimos. Nós o nirvanizamos."
Em termos de letra, os versos foram rigidamente elaborados, com um
estribilho obsessivo e atormentado de "You know You're Right". O primeiro
verso era uma lista de declarações que começavam por "I would never bother
you/ I would never promise to/ If I say that word again/ o would move awa
from here" ["Eu nunca te aborrecerei/ eu nunca prometeria/ Se eu disse
essa palavra novamente/ eu me mudarei para longe daqui"]. Um dístico —
que só poderia vir de Kurt Cobain — era: "I am walking in the piss/ Always
knew it would come to this" ["estou andando em mijo/ Sempre soube que
acabaria nisto"]. O segundo verso se desvia para declarações sobre uma
mulher — "She just wants to love herself" ["Ela só quer amar a si mesma"] —
e se encerra com dois versos que têm de ser sarcástico:
"Things have been so sweel/ And i have never been so well" ["As
coisas nunca estiveram tão legais/ e eu nunca me senti tão bem"]. A lamuria
queixosa no estribilho não podia ser mais clara; "Pain" ["Dor"], gritava ele,
esticando a palavra por quase dez segundos, dando-lhe quatro silabas e
deixando uma impressão de tormento inevitável.
Próximo ao final da sessão, Kurt procurou o gato preto, mas ele
havia desaparecido. Começava a anoitecer quando terminaram e a banda
comemorou saindo para jantar. Kurt parecia animado e disse a Robert Lang
que queria agendar mais tempo no estúdio quando voltasse da Europa.
No dia seguinte, kurt ligou para seu pai. Conversaram por mais de
uma hora, a conversa mais longa entre os dois Cobain em toda uma década.
Falaram sobre Íris e seu prognóstico — os médicos a haviam mandado de
volta para Montesano — e sobre suas respectivas famílias. Don disse que
queria ver Frances e Kurt recitou com orgulho todas as coisas mais recentes
que ela conseguia dizer e fazer. Quanto á relação estressada entre os dois,
evitaram tocar novamente em seus desapontamentos recíprocos, mas Don
conseguiu proferir as palavras que tantas vezes lhe haviam fugido
anteriormente. "Eu amo você, Kurt", disse ele ao filho. "Eu também amo
você, papai", respondeu Kurt. Ao término da conversa, Kurt convidou o pai
para conhecer sua casa nova quando ele voltasse da excursão. Quando Don
desligou, foi uma das poucas vezes que Jenny Cobain viu seu marido,
normalmente estóico, chorar.
Dois dias depois, Kurt voou para a França. No primeiro show, o
Nirvana estava programado para apresentar um espetáculo de variedades.
Kurt propôs uma solução que lhe permitia livrar a cara: compraram ternos
pretos listrados — Kurt os chamou de seus "trajes engenhosos". Quando o
espetáculo começou, executaram versões bem-comportadas de três canções,
mas, vestidos em seus trajes, isto produziu o mesmo efeito de uma esquete
cômica. Em Paris, a banda participou de uma sessão de fotos com o
fotógrafo Youri Lenquette — uma das fotos mostrava Kurt apontando
jocosamente uma arma para sua cabeça. Já nesse inicio de excursão, os que
lhe estavam próximos notaram uma mudança em Kurt. "Naquele momento,
ele estava um caco", lembra Shelli Novoselic. "Foi triste. Ele estava
desgastado." Kurt viajou num ônibus de excursão separado de Novoselic e
Grohl, mas Shelli achou que a relação entre ele parecia melhor: " Não estava
tão tensa quanto na excursão anterior, mas talvez tudo tivesse apenas ficado
normal".
Os shows seguintes foram em Portugal e Madri, Na Espanha —
apenas três compromissos de uma excursão de 38 —, Kurt já estava falando
em cancelamento. Ele telefonou para Courtney furioso. "Ele odiava tudo,
todo mundo", disse Courtney a David Fricke. "Odiava, odiava, odiava. [..] Ele
estava em Madri e havia caminhado pela platéia. Os garotos estavam
fumando heroína em folha de alumínio e dizendo: "Kurt! Dá um tapinha!" e
erguiam os polegares para ele. Ele ligou para mim chorando [...] Ele não
queria ser um ícone de drogados."
Ele também não queria se separar de Courtney, mas suas brigas
cada vez mais constantes ao telefone — principalmente por causa de seu
consumo de drogas —, mais a separação provocada pela excursão, o faziam
recear pelos resultados. Ele queria que Courtney estivesse na estrada com
ele, mas ela estava terminando a pós-produção de seu disco. Kurt procurou
Jeff Mason e lhe perguntou o que aconteceria se ele cancelasse a excursão:
Mason lhe disse que, por causa dos cancelamentos passados, eles seriam
responsabilizados pelos prejuízos dos shows cancelados, exceto em caso de
doença. Kurt se fixou neste ponto e, no dia seguinte, no ônibus da excursão,
ficou brincando que, uma vez que o seguro apenas cobria doença, se ele
estivesse morto, eles ainda teriam de tocar.
Embora Kurt estivesse arrasado por ver os adolescentes europeus
o associarem ao abuso de drogas, ansiedade que o abateu brotava de fato de
seu vicio. Em Seattle, ele sabia onde e como encontrar heroína e sabia como
encontrá-la. Na Europa, mesmo que ele encontrasse uma conexão uma
conexão para a droga, ficava apavorado com a idéia de ser preso num posto
de fronteira. Por isso, Kurt contratou os serviços de um médico de Londres
bem conhecido pr sua prática liberal de receitar narcóticos legais mas
poderosos. Kurt obteve receitas de tranqüilizantes e morfina e usou ambos
para aliviar as dores da abstinência.
Quando ele sentia dificuldades na excursão, tudo o que precisava
fazer era dar um telefonema a este médico, que imediatamente escrevia as
receitas sem questionar e as enviava por serviços de encomenda
internacional para Kurt. No dia 20 de fevereiro, um dia de viagem, Kurt
completou 27 anos. John Silva, de brincadeira, deu a ele de presente um
pacote de maços de cigarros. Quatro dias depois, em Milhão, Kurt e
Courtney comemoraram seu segundo aniversário, mas o fizeram separados:
ela ainda estava em Londres fazendo a divulgação de seu disco.
Conversaram ao telefone e planejaram comemorar quando se encontrassem
uma semana depois. no dia 25 de fevereiro, na segunda das duas noites em
Milão, algo havia mudado em Kurt. Ele não parecia apenas deprimido - havia
derrotismo nele. Ele procurou krist naquele dia e disse que queria cancelar a
excursão. "Ele me apresentou uma razão besta, absurda, pela qual queria
pular fora", lembra Novoselic. Kurt se queixou do estômago, embora Krist
agora já tivesse ouvido centenas de vezes esse protesto. Krist perguntou por
que, em primeiro lugar, ele havia concordado com a excursão, e lembrou
Kurt que um cancelamento custaria centenas de milhares de dólares. "havia
algo se passando com ele em sua vida pessoal que realmente o estava
aborrecendo", observa krist. "Havia algum tipo de problema." Mas Kurt não
revelou nada especifico a Krist — havia muito que ele deixara de ser intimo
de seu velho amigo.
Kurt não cancelou a excursão naquela noite, mas o único motivo
pra não tê-lo feito, segundo Novoselic, foi porque o próximo compromisso era
na Eslovênia, onde muitos parentes de Krist estariam presentes. "Ele
esperou até lá por mim", lembra Krist. "Mas eu acho que já havia tomado a
decisão."
Durante seus três dias na Eslovênia, o resto da banda visitou a
zona rural, mas Kurt ficou em seu quarto. Novoselic estava lendo Um dia na
vida de Ivan Denissovitch, de Aleksandro Soljenitsin, e explicou o enredo a
kurt, achando que isso o distrairia; "È sobre um sujeito num gulag que
ainda tira o máximo de seu dia". A única resposta de Kurt foi; "Meu Deus, e
ele quer viver! Por que alguém tentaria viver?". Quando a banda chegou a
Munique para dois shows marcados para o Terminal Einz, começando no dia
1º de março, Kurt se queixou de que se sentia mal. Extraordinariamente,
ligou para Aberdeen para falar com seu primo Art Cobain, de 52 anos,
acordando-o no meio da noite. Art não via Kurt durante quase duas décadas
e não tinham intimidade, mas ele ficou contente ao ouvir Kurt. "Ele
realmente estava ficando de saco cheio do seu modo de vida", contou Art á
revista people. Art convidou Kurt para ir á próxima reunião da família
Cobain quando voltasse da Europa.
Todos que viram Kurt naquele dia relatam uma sensação de
desespero e pavor em cada uma de suas ações. Para agravar suas aflições,
havia o local transformado em clube e tinha uma acústica péssima. Na
verificação do som, Kurt pediu a Jeff Mason um adiantamento por conta de
suas diárias e anunciou; "Eu estarei de volta para o show", Mason ficou
surpreso por Kurt estar saindo, considerando o quanto ele havia se queixado
de estar doente e perguntou para onde ele ia. "Eu vou até a estação de trem",
respondeu Kurt. Todos na excursão sabiam o que isto significava; Kurt
poderia ter igualmente anunciado; "Eu vou comprar drogas".
Quando voltou, várias horas depois, o humor de Kurt não havia
melhorado em nada. Nos bastidores, ele telefonou para Courtney e a
conversa terminou em briga, como acontecera com todas as conversas entre
os dois nessa última semana. Kurt ligou então para Rosemary Carroll e disse
a ela que queria o divórcio. Quando desligou o telefone, ficou em pé na
lateral do palco e assistiu ao show de abertura. Kurt assistia a todas as
bandas que faziam a abertura para o Nirvana e para esta etapa da excursão
ele havia escolhido os Melvins. "Era isto que eu estava procurando", havia
escrito em seu diário já em 1983, quando viu a banda pela primeira vez e ela
transformara sua vida.
Em diversos sentidos, ele amava os melvins mais do que amava o
Nirvana — aquela banda havia significava a salvação numa época em que ele
precisava ser salvo.
Fazia apenas onze anos desde aquele dia fatídico no
estacionamento uma longa lista de problemas para Buzz Osborne. Buzz
jamais o vira tão atormentado, nem mesmo quando Kurt havia sido expulso
da casa de Wendy nos tempos do colégio.
Kurt anunciou que ia se separar da banda, demitir sua
administração e divorciar-se de Courtney. Antes de entrar no palco, Kurt
anunciou a Buzz: "Eu deveria estar fazendo isto sozinho". "Em retrospecto",
observa buzz, "ele estava falando sobre sua vida inteira."
Setenta minutos depois, o show do Nirvana estava encerrado,
prematuramente concluído por Kurt. Tinha sido uma apresentação-padrão,
mas, curiosamente, incluíra dois vocers do Cars — "My Best Friend Girl" e
"Moving in Streo". Depois de apresentar esta última música, Kurt saiu do
palco. Nos bastidores, agarrou seu agente, Don Muller, que por acaso estava
no show, e anunciou; "isso é tudo. Cancele a próxima apresentação". havia
apenas dois espetáculos até a pausa programada, para os quais Muller
organizou o adiamento.
kurt consultou um médico na manhã seguinte, que assinou um
atestado — exigido pelo seguro — declarando que ele estava muito doente
para se apresentar. O médico recomendou que tirasse dois meses de licença.
Apesar do diagnóstico, Novoselic acha que era tudo encenação: "Ele só
estava esgotado demais". krist e vários Membros da equipe voaram de volta
para Seattle, planejando retornar para a próxima etapa da excursão no dia
11 de março.
Kurt foi para Roma, onde devia se encontrar com Courtney e
Frances.
No dia 3 de março, em Roma, Kurt se registrou no quarto 541 do
hotel cinco estrelas Excelsior. Courtney e Frances estavam com reserva para
chegar mais tarde naquela noite. Durante o dia, Kurt explorou a cidade Pat
Smear visitando pontos turísticos, mas, principalmente, coletando suportes
para o que ele imaginava ser um encontro romântico — ele e Courtney
estavam separados havia 26 dias, o intervalo mais longo em sua relação.
"Ele tinha ido até o Vaticano e roubado alguns castiçais, dos grandes",
lembra Courtney. "Ele também chutou uma peça do Coliseu por mim." Além
disso, ele havia comprado uma dúzia de rosas vermelhas, lingerie, um
rosário do Vaticano e um par de brincos de diamantes de três quilates.
Enviara também um mensageiro do hotel para aviar uma receita de
Rohypnol, um tranqüilizante que pode ajudar na abstinência de heroína.
Courtney não chegou senão muito depois do esperado — ela havia passado o
dia em Londres fazendo publicidade para o lançamento de seu novo disco.
Numa dessas entrevistas, havia tomado um Rohypnol na frente do
jornalista. "Eu sei que esta é uma substância controlada", Contou ela á
Select. "Eu a consegui com meu médico, é como Valium." Courtney estava
indo ao mesmo médico de Londres que Kurt
consultara. Quando ela e Frances finalmente chegaram a Roma, a
família, suas babás e Smear tiveram um encontro afetuoso e pediram
champanhe para comemorar — Kurt não bebeu.
Depois de algum tempo, Cali e uma segunda babá levaram Frances
para o quarto e Smear saiu, Finalmente a sós, Courtney e Kurt se
entenderam, mas ela estava exausta da viagem e o Rohypnol a fez dormir.
Kurt tinha desejado faze amor, contou Courtney mais tarde, ma ela estava
muito cansada. "Mesmo que eu não estivesse no clima", contou ela a David
Fricke, "eu deveria simplesmente ter ficado deitada ali para ele. Tudo o que
ele precisava era transar."
Às seis da manhã ela despertou e o encontrou no chão, pálido
como um fantasma, com sangue saindo de uma narina. Ele estava
completamente vestido, usando seu casaco de veludo marrom, e havia um
maço de notas de mil em sua mão direita. Courtney tinha visto kurt perto da
morte por overdose de heroína em mais de uma dúzia de ocasiões, mas desta
vez não era uma overdose de heroína. Em vez disso, ela encontrou um
bilhete de três páginas amassado na concha rígida e fria da sua mão
esquerda.

DUMB

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