quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Kurt Cobain: A Lenda que não morreu! 17ª Parte


UM MONSTRINHO INTERIOR

Los Angeles, Califórnia,
Janeiro de 1992 - Agosto de 1992

Há um monstrinho dentro de sua cabeça que diz:
"Você sabe que vai se sentir melhor".

Kurt descrevendo o vicio para sua irmã, em abril de 1992.
FORAM TODOS AQUELE DESENHOS de "bebês golfinhos" que ele
havia feito durante anos que deixaram Kurt em pânico ao ouvir a noticia da
gravidez; isto e saber que eles estavam tomando heroína durante o período
em que a criança foi concebida, no começo de dezembro. O critico mais
severo de Kurt sempre foi sua própria voz interior, e essa gravidez maculada,
segundo observam seus amigos, fez com que sentisse uma das mais
poderosas vergonhas da sua vida.
Ao longo de toda a podridão que tinha sido sua vida — interna e
externa —, ele havia mantido duas coisas sagradas: um juramento de que
nunca se transformaria em seus pais, e uma promessa de que, se algum dia
tivesse filhos, daria a eles um mundo melhor do que aquele no qual crescera.
No entanto, no começo de janeiro de 1992, Kurt não conseguia parar de
pensar em todos os desenhos de "bebês golfinhos" que havia feito e de se
perguntar se estava recebendo um deles como retaliação divina.
Concomitantemente, mesmo com seu desespero, Kurt nutria
esperanças e torno da gravidez. Ele realmente amava Courtney e achava que
eles teriam um filho com muitos talentos, inclusive inteligência acima da
média. Ele acreditava que o afeto que sentia por ela era mais profundo que o
amor que ele presenciara entre seus pais. E apesar da piração de Kurt,
Courtney parecia surpreendentemente calma, pelo menos pelos padrões
Courtney. Ela disse a Kurt que o bebê era um sinal enviado por Deus e
estava convencida de que ele não nasceria com nadadeiras,
independentemente de quantos desenhos de fetos deformados Kurt tivesse
esboçado em sua juventude. Ela disse que seus pesadelos eram apenas
temores e que nos sonhos dela mostravam os dois tendo uma criança
saudável, linda. Ela sustentava essas convicções ainda que os outros ao
redor dela lhe sugerissem o contrário. Um médico especialista em
tratamento de drogas que ela consultou prontificou-se a "dar-lhe morfina" se
ela aceitasse fazer aborto.
Courtney não engoliu essa e procurou outra opinião.
Ela consultou um especialista em defeitos de nascimento de
Beverly Hills que lhe disse que a heroína, quando tomada no primeiro
trimestre da gravidez, implicava poucos riscos de defeitos de nascimento.
"Ele lhe disse que se ela seguisse um programa de tratamento e
gradativamente parasse de tomar a droga, não havia nenhuma razão no
mundo para que ela não pudesse ter um bebê saudável", lembra a advogada
de Courtney, Rosemary Carroll.
Com as imagens de "bebês golfinhos" desaparecendo da cabeça,
Kurt se juntou a Courtney na certeza de que a gravidez era uma bênção.
Quando muito, as atitudes de desaprovação dos demais apenas fortaleceram
a resolução de Kurt, do mesmo modo que havia sido no caso de sua união
com Courtney. "Sabíamos que realmente não era o melhor momento para ter
filho", disse Kurt para Michael Azerrad, "mas havíamos acabado de decidir
ter um."
Eles haviam alugado um apartamento de dois quartos em Los
Angeles por 1.100 dólares mensais na Spaulding, 448, norte, entre Melrose e
Fairfax. Era um bairro tranqüilo e eles estavam relativamente isolados,
porque nenhum dos dois podia dirigir: Kurt deixara de pagar algumas
multas de trânsito e havia perdido temporariamente sua habilitação;
Courtney jamais aprendera a dirigir um carro. Era a primeira vez que Kurt
morava fora do estado de Washington e se viu com saudades da chuva.
Mas logo depois de se mudarem, partiram para os conflitos de um
Holiday Inn. Eles tinham contratado um médico especialista em terapia
desintoxicação rápida que recomendou que se hospedassem em um motel —
o tratamento seria uma confusão, segundo ele lhe disserta. E foi. Embora
Kurt depois tentasse minimizar esse retiro, afirmando que "dormiu durante
três dias", outros traçavam um quadro bem mais sinistro da desintoxicação
que acarretava horas de febre, diarréia, calafrios e todos os sintomas que
normalmente se associam ao pior caso de gripe,
Eles sobreviveram mediante um uso pródigo de pílulas soníferas e
metadona. Embora ambos estivessem se desintoxicando por causa do bebê,
Kurt teve de partir após duas semanas para uma excursão no Extremo
Oriente. "[Eu] me vi percebendo que não conseguia drogas quando
chegássemos ao Japão e á Austrália", escreveu ele em seu diário. Na metade
de sua desintoxicação, Kurt teve de participar de um vídeo para "Come As
You Are". Ele insistiu para que todas as tomadas do seu rosto parecessem
escuras ou distorcidas.
Antes de partir para a excursão, Kurt ligou para sua mãe para dar
a noticia da gravidez. Sua irmã Kim atendeu o telefone, "Nós vamos ter um
bebê", declarou ele. "É melhor eu passar você para a mamãe", respondeu
Kim. Quando Wendy ouviu a noticia, declarou: "Kurt, você não pode me
chocar mais".
Os primeiros concertos na Austrália transcorreram normalmente,
mas no prazo de uma semana Kurt estava sofrendo de dor de estômago, o
que forçou o cancelamento de compromissos. Ele foi para uma sala de
emergência uma das noites, mais caiu depois de entreouvir uma enfermeira
dizer: "Ele não passa de um drogado".
Conforme escreveu e seu diário, "a dor me deixou imóvel, dobrado
no chão do banheiro, vomitando água e sangue. Eu estava literalmente
morrendo de fome. Meu peso estava abaixo de 45 quilos". Desesperado por
uma solução, procurou um médico australiano especializado em banda de
rock.
Na parede do consultório, orgulhosamente exposta, estava uma
foto do médico com Keith Richards. "A conselho dos meus empresários, fui
levado a um médico que me deu Physeptone", escreveu Kurt em seu diário.
"As pílulas pareciam funcionar melhor do que qualquer outra coisa que eu
tentara." Mas, algumas semanas mais tarde, depois que a excursão chegou
ao Japão, Kurt notou o rótulo no frasco.
"Dizia: "Physeptone — contém metadona". Viciado novamente.
Sobrevivemos ao Japão, mas aquela altura os opiatos e a excursão haviam
começado a cobrar seu preço sobre meu corpo e eu não estava muito melhor
de saúde do que eu estava de drogas."
Apesar de seus apuros físico e emocionais, Kurt adorou o Japão,
compartilhando a obsessão do pais pelo Kitsch. "Ele estava em um pais
totalmente estrangeiro e ficou fascinado com a cultura", lembra Kaz
Utsunomiya, da Virgin Publishing, que estava na excursão. "Ele adorava as
caricaturas e a "Hello Kitty." Kurt não entendia por que os Fãs japoneses lhe
davam presentes, mas declarou que só aceitaria presentes "Hello Kitty". No
dia seguinte, ele era inundado com quinquilharias. Antes de uma
apresentação nos arrabaldes de Tóquio, Utsonomiya teve de ajudar Kurt a
comprar pijamas novos.
Quando Kurt disse ao vendedor que queria os pijamas para usar
no palco, o sóbrio balconista olhou para o cantor como se ele fosse
realmente maluco. Em Osaka, numa rara noite de folga, o Nirvana se reuniu
com um de seus parceiros de excursão favoritos, o Shonen Knife, um grupo
popular composto por três japonesas. Elas deram a Kurt espadas de
brinquedo, um novo macaco Chim-Chim motorizado e o levaram para jantar
em um restaurante alemão que ele havia escolhido. Ele ficou desapontado ao
saber que o Shonen Knife tinha uma apresentação na noite seguinte, tal
como o Nirvana. Excepcionalmente, Kurt encerrou mais cedo o show do
Nirvana e anunciou do palco que estava planejando ir ver o Shonen Knife.
Afastando-se do local do show, seu táxi foi atacado por garotas japonesas
que agarravam, querendo apenas tocar o carro. No show do Shonen Knife, as
coisas eram igualmente surrealistas porque, como único rapaz louros de
olhos azuis ali, era fácil vê-lo. "Ele ainda estava usando o pijama", lembra
Naoko Yamano, do Shonen Knife.
Courtney tinha se juntado á excursão no Japão e eles passaram o
25º aniversário de Kurt voando para Honolulu para dois espetáculos
programados.
No avião decidiram se casar no Havaí. Eles tinham fantasiado
sobre um casamento no dia dos Namorados, mas não terminaram seu
acordo pré-nupcial a tempo. Kurt tinha sugerido um acordo pré-nupcial
depois de forte pressão do empresário John Silva, que jamais havia gostado
de Courtney. O acordo cobria principalmente ganhos futuros, porque, na
época do casamento, eles ainda eram "pobres fodidos", no termos de
Courtney. Quando Kurt fez sua declaração para o imposto de renda em
1991, graças ao modo enigmático como a indústria da musica paga os
direitos com tanto atraso e ao enorme percentual retirado pelos empresários
e advogados, sua renda total era de apenas 29.541 dólares. Como tivera
deduções de 2.541 dólares, restava-lhe uma renda tributável de 27 mil
dólares, num ano em que ele tocou diante de centenas de milhares de fãs e
vendeu quase 2 milhões de discos.
Courtney estava negociando seu próprio contrato de gravação com
a Dgc, que dava ao Hole um adiantamento de 1 milhão de dólares e uma
porcentagem de direitos autorais consideravelmente mais alta que a do
Nirvana, uma questão de grande orgulho para ela. COurtney ainda tinha
reservas quanto á possibilidade de não ser considerada artista por seus
próprios méritos estando casada com alguém tão famoso quanto Kurt. No
Japão, ela registrara apressadamente sua melancolia em seu diário: "Minha
fama. Ha! Ha!, é uma arma, me poupe, é igual a enjôo matinal.
[...] Poderia ser apenas efeito comercial de vendas em excesso e de
um acidente semi-improvável, semi-forjado, mas estou começando a pensar
que não posso cantar, não posso compor, que a estima está na maior baixa
de todos os tempos, e isso não é culpa dele. Meu Deus, como poderia ser. [...]
Não se atrevam a me desconsiderar só porque me casei com um ASTRO DO
ROCK".
Eles se casaram na praia de Waikiki, ao pôr-do-sol de uma
segunda feira, 24 de fevereiro de 1992. A cerimônia foi realizada por um
ministro leigo encontrado pela agência de casamentos. Kurt havia tomado
heroína, embora tenha contado para Azerrad que "não estava muito alto. Eu
só tomei um pouquinho e por isso não enjoei". Courtney usava um vestido
de seda que pertencera á atriz Frances Farmer, comprado em um antiquário.
Kurt usava um pijama xadrez azul e uma bolsa tecida na Guatemala. Com
sua magreza angulosa e seu traje bizarro, mais parecia um paciente de
quimioterapia do que um noivo tradicional. No entanto, o casamento não
deixava de ter significado para ele e Kurt chorou durante a breve cerimônia.
Uma vez que o casamento foi organizado ás pressas, a maioria dos
convidados, oito no total, era da equipe da banda, Kurt mandou Dylan
Carlson tomar um avião para servir de padrinho, embora isso em parte
tenha sido desencadeado por Kurt querer que Dylan levasse heroína para
ele. Dylan ainda não conhecia Courtney e seu primeiro encontro com ela foi
no dia anterior ao casamento. Ele gostou de Courtney e ela gostou dele,
embora nenhum dos dois conseguisse superar uma crença de que a outra
parte era uma influência negativa sobre Kurt. "Em certos sentidos, ela era
muito boa para ele", lembra Dylan, "e em outros, ela era terrível." Dylan
levou sua namorada e os dois eram os únicos que não constavam da folha
de pagamento do Nirvana.
Mas o mais importante foram os ausentes: Kurt não convidara sua
família (Courtney também não) e a ausência de Krist e Shelli foi muito
notada. Na manhã do casamento, Kurt tinha banido Shelli e alguns
membros da equipe porque achava que eles estavam fofocando sobre
Courtney — o efeito desse decreto também foi o de desconvidar Krist. "Kurt
estava mudando", lembra Shelli. Naquele mês, Kurt havia dito a Krist: "Eu
não quero nem ver Shelli, porque quando olho para ela, eu me sinto mal pelo
que estou fazendo", a análise de Shelli é a seguinte: "Eu acho que olhar para
mim era como olhar para a consciência dele".
Shelli e Krist partiram do Havaí no dia seguinte, supondo que a
banda estivesse dissolvida: "Achamos que era o fim", lembra Shelli. Krist só
estava triste e se sentindo rejeitado por seu velho amigo: "Kurt estava em
seu próprio mundo naquele momento. Depois disso, eu me senti muito
estranho com ele. Jamais foi o mesmo. Falamos um pouco sobre o destino
da banda, mas realmente não havia nenhum destino da banda depois disso".
Quatro meses se passariam até que o Nirvana tocasse novamente em público
e quase dois meses até que Krist e Kurt se encontrassem novamente.
Kurt e Courtney estavam em lua-de-mel no Havaí, mas a ilha
ensolarada não era a idéia de paraíso para Kurt. Eles voltaram a Los
Angeles, onde seu hábito de tomar drogas era mais fácil de abastecer. Kurt
mais tarde desqualificou o seu maior consumo da droga dizendo que era
"muito menos turbulento do que todo mundo pensa". Ele contou para
Azerrad que decidiu continuar a ser um viciado porque achava que "se eu
parasse na época, acabaria tomando de novo pelo menos próximos dois anos
o tempo todo. Imaginei que eu só iria me irritar com isso porque ainda não
tinha passado pela sensação de drogado total. Eu ainda era saudável". Sua
dependência química e psicológica já era grande naquela etapa, e seus
comentários eram uma tentativa de minimizar o que havia se tornado um
vicio debilitante. Sua própria descrição de si mesmo em seu diário era tudo
menos saudável, pelo menos do modo como ele imaginava que os outros o
viam: "Eu estou pesando como famélico, pele amarela, tipo zumbi, maligno,
viciado em drogas, drogado, causa perdida, á beira da morte, autodestrutivo,
porco egoísta, um perdedor que toma pico nos bastidores segundos antes de
uma apresentação". Isto era o que ele imaginava que as pessoas pensavam
dele: seu próprio diálogo interno era até mais obscuro, resumindo por uma
frase que surgia reiteradamente em seus escritos: "Eu me odeio e quero
morrer". No inicio de 1992, ele já havia decidido que este seria o titulo de seu
próximo disco.
A heroína se tornou, de diversas maneiras o hobby que ele nunca
tivera em criança: ele organizava metodicamente sua caixa de
"equipamentos" como um garotinho poderia embaralhar sua coleção de
cards de beisebol.
Nessa caixa sagrada ele guardava sua seringa, um fogareiro para
derreter as drogas (a heroína da Costa Oeste tinha a consistência de alcatrão
de telhado e precisava ser cozida) e colheres e bolas de algodão usadas na
preparação da heroína para injetar. Um submundo desagradável de
traficantes e entregas diárias se tornou lugar-comum.
Na primavera de 1992, ele não fez praticamente nada que
envolvesse a banda e se recusou a programar shows para o futuro. A banda
recebia ofertas de somas astronômicas para fazer uma excursão pelos
principais estádios — Nevermind ainda estava próximo ao topo das paradas
— mas Kurt rejeitava todas as propostas.
Embora Courtney tivesse se afastado das drogas durante a
desintoxicação que ambos fizeram em janeiro, com Kurt comprando heroína
diariamente e enchendo o apartamento com o cheiro de seu cozimento, ela
se viu escorregando ladeira abaixo novamente. A Combinação das fraquezas
de ambos ajudava a arrastar cada um deles para uma espiral de abuso e sua
dependência emocional mútua tornava quase impossível romper esse ciclo.
"Com Kurt e Courtney, era como se eles fossem dois personagens de uma
peça e simplesmente trocasse de papeis", observa Jennifer Finch.
"Quando um ficava sóbrio e melhor, o outro escorregava. Mas
Courtney conseguia se controlar mais do que Kurt. No caso dele, era o trem
desgovernado que iria se acidentar — todos sabiam disso e só queriam sair
da frente."
No começo de março Carolyn Rue, do Hole, visitou o apartamento
deles para se drogar. Quando Carolyn pediu uma seringa extra, Kurt
respondeu: "Nós quebramos todas elas". Num esforço para se controlar o
vicio dos dois, Courtney muitas vezes destruía todas as seringas da casa,
cujo efeito era apenas o de obrigar Kurt a comprar novas quando fosse
apanhar sua heroína diária. Mesmo para Carolyn, que enfrentava suas
próprias dificuldades, o vicio de Kurt parecia aceleração máxima. "Kurt
falava sobre tomar drogas como se essa porra fosse natural", lembra ela.
"Mas não era." Mesmo dentro das fronteiras da cultura da droga, o nível de
consumo de Kurt parecia aberrante.
A perspectiva do bebê dar a Kurt uma Pequena luz de esperança
no que havia se tornado uma existência cada vez mais vazia. Para assegurar
que o feto estava se desenvolvendo corretamente, eles haviam feito vários
testes de ultrason para chegar as imagens do bebê no útero. Quando Kurt as
viu, ficou visivelmente abalado e chorou aliviado porque a criança estava se
desenvolvendo normalmente.
Kurt apanhou uma das imagens e a usou como peça central de
uma pintura em que começara a trabalhar. Quando um segundo teste
resultou em um vídeo do ultra-som do feto, ele pediu uma cópia e a assistia
obsessivamente em seu videocassete. Segundo Jennifer Finch, "Kurt não
parava de dizer. "olha só essa pequena vagem".
Era assim que eles a estavam chamando, "a vagem" [the bean]. Ele
apontava para a mão dela. Ele conhecia cada detalhe isolado daquela
imagem gráfica". No inicio da gravidez, depois de ter sido determinado o sexo
da criança, eles haviam escolhido um nome: Frances Bean Cobain. O nome
do meio era o apelido que lhe deram, enquanto o prenome vinha de Frances
McKee, dos Vaselines, ou assim Kurt dizia depois aos repórteres. Mais tarde,
a foto do ultra-som foi reproduzida na capa do single "Lithium".
Em março, a preocupação em torno da crescente dependência de
Kurt em relação ás drogas e seu efeito em COurtney levou seus empresários
a tentarem uma primeira intervenção formal. Contrataram Bob Timmins, um
especialista em dependência de drogas cuja fama se construíra no trabalho
com astros de rock.
Courtney lembra que Immins era tão deslumbrado por Kurt que
prestava pouca atenção a ela. "Ele literalmente me ignorava e ficava babando
por Kurt", disse ela. Timmins sugeriu que Kurt considerasse sua internação
em um programa de tratamento de dependência química. "Meu conselho foi
aceito", disse Timmins. "O motivo pelo qual recomendei esse programa
especifico era que ele era desenvolvido no hospital Cedars-Sinai, e eu achava
que algumas questões médicas se evidenciaram em minha avaliação. Não se
tratava de dizer apenas "faça o tratamento, desintoxique-se e vá para as
reuniões." Havia muitas questões médicas envolvidas."
No inicio, a permanência de Kurt no Cedars-Sinai ajudou
consideravelmente, e logo ele parecia sóbrio e saudável. Mas, embora
concordasse em continuar com a metadona — uma droga que bloqueava a
síndrome de abstinência sem produzir euforia —, ele terminava o tratamento
cedo e evitava as reuniões dos 12 Passos. "Ele parte de sua personalidade
provavelmente atrapalhava o processo de recuperação."
Em abril, Kurt e Courtney viajaram para Seatle, onde procuraram
um casa para comprar. Uma noite foram até a Orpheum Records e
provocaram uma cena quando apreenderam todos os discos piratas do
Nirvana da loja.
Courtney corretamente declarou que os cds eram ilegais, mas o
balconista protestou que seria demitido se o proprietário desse pela falta dos
Cds. Ironicamente, Kurt havia entrado na loja procurando um cd da banda
Negativeland, que também tinha sido declarado ilegal depois de um processo
judicial. O Balconista perguntou se eles poderiam escrever um bilhete para
seu chefe e, por isso, Courtney escreveu: "Eu preciso que você pare de
ganhar dinheiro á custa de meu marido para que eu possa alimentar meus
filhos. Com amor, Sra. Cobain". Kurt acrescentou: "Macarrão e queijo para
todos."
O bilhete era tão estranho que o preocupado balconista perguntou
a Kurt: "Se eu perder meu emprego, posso trabalhar para você?". No dia
seguinte, a loja recebeu um telefonema de um homem que perguntava:
"Aquele rapaz de cabelo comprido que trabalhava ai ontem á noite ainda esta
empregado?".
Enquanto o casal estava em Seatle, os Frandenburg promoveram
para eles uma dupla recepção: chá de panela e chá de bebê. Seria a primeira
vez que os tios e tias de Kurt teriam chance de conhecer Courtney, mas
vários deles partiram antes que ela chegasse: a festa tinha sido marcada
para as duas da tarde, mas os homenageados só apareceram ás sete.
Courtney disse aos parentes de Kurt que eles podiam comprar uma mansão
vitoriana em Grays Harbor. "Então poderemos ser o rei e a rainha de
Aberdeen", brincou ela.
O casamento inicialmente pareceu amadurecer Kurt e Courtney.
Quando estavam longe dos refletores, e longe das drogas, sua relação tinha
muitos momentos de ternura. Despojados de sua fama, ambos voltaram a
ser assustadas crianças perdidas que haviam sido antes de serem
descobertas. Toda noite, antes de irem para a cama, eles rezavam juntos.
Depois de se deitarem, um lia livro para o outro. Kurt disse que adorava
dormir ouvindo o som da voz de Courtney — era um bem-estar de que
sentira falta durante grande parte de sua vida.
Naquele Mês, Courtney voltou as Los ANgeles para tratar de
negócios do Hole, Kurt ficou em Seattle e até chegou a fazer uma breve
sessão de um dia de gravação com o Nirvana, no estúdio caseiro de Barret
Jones. Eles gravaram "Oh, the Guilt", "Cumudgeon" e "Return of the Rat", a
canção final sugerida para o disco de tributo á banda Wipers, de Prtland. No
dia seguinte á sessão, Kurt dirigiu seu Valiant até Aberdeen para uma
primeira visita a Grays Harbor depois de meses.
Dois dias depois, Kurt voltou de carro para Seattle para buscar sua
irmã e trazê-la para Aberdeen. Ele tinha um subtexto para este longo dia de
viagem, um circuito de ida-e-volta de seis horas que não contou para Kim
até que passou pelo "Morro do Think of Me", a poucos minutos da casa de
Wendy. "Sabe a sua melhor amiga, a Cindy?", perguntou ele. "Ela contou pra
mamãe que você e Jennifer estavam tendo um caso."
"Não é um caso", respondeu Kim. "Somos namoradas. Eu sou
Gay." Kurt sabia disso, ou pelo menos desconfiava, mas sua mãe, não.
"Mamãe está meio irritada agora", disse ele para a irmã, e pediu que Kim
fizesse de conta que a mãe não sabia, Kurt, como Wendy, preferia um estilo
não confrontador — Kim, porém, disse ao irmão que não faria tal coisa.
Quando chegaram em Aberdeen, Kurt decidiu que eles precisavam
conferenciar antes de entrar em casa. Ele dirigiu o carro até o parque Sam
Benn, onde se sentaram em um balanço, e Kurt decidiu usar este momento
para soltar sua própria bomba. "Eu sei que você já experimentou e
provavelmente já tomou ácido e cocaína", Disse-lhe ele. "Eu nunca toquei em
cocaína", rebateu Kim. "Bem, você ainda vai", respondeu o irmão. A conversa
descambou para um debate sobre se Kim, apenas duas semana antes de
completar 22 anos, acabaria usando cocaína ou não. "Bem, você usará
cocaína", insistiu Kurt. "Mas se você alguma vez tocar em heroína, eu pego
um revólver e venho atrás de você e a mato." Não parecia que ele estivesse
brincando. "Você não precisa se preocupar com isso." Kim Percebeu que,
pelo jeito como Kurt havia construído a advertência, ele estava transmitindo
uma Mensagem sobre si mesmo.
Depois do silêncio longo que só é natural entre irmão, Kurt
finalmente anuncio: "Estou de cara limpa há uns oito meses". Eles não
especificava do que estava de cara limpa, mas Kim havia ouvido os rumores
como todos os demais. Ela também desconfiava que ele estava mentindo
sobre os oito meses de cara limpa — na verdade, fazia menos de um mês, e
ele ainda estava tomando uma dose diária de metadona.
"Eu não sei muita coisa sobre heroína", disse ela para o irmão.
Kurt suspirou e foi como se um porta tivesse sido aberta, e o irmão que Kim
sempre amara surgiu e mais uma vez se abriu com ela. Ele não escondia
atrás de seu ego construído ou de mentiras ou fama enquanto lhe dizia
sobre a dor que sentia tentando largar a heroína. Ele descreveu isso como
semelhante ao vicio de fumar, onde cada tentativa sucessiva da parar fica
cada vez mais difícil. "Quanto mais você tenta", explicou ele, "e quanto mais
você pára, mais difícil se torna parar na terceira, e n a quarta, e na quinta, e
na sesta vez. Há um monstrinho dentro de sua cabeça que diz: "Você sabe
que vai se sentir melhor, e você sabe que eu vou me sentir melhor". è como
se eu tivesse outra pessoa em minha cabeça que tivesse me dizendo que
tudo vai ficar bem se eu simplesmente tomar um pouco."
Kim estava muda. Ela sabia, pela menção que Kurt fazia do quarto
era difícil deixar na "quinta" ou na "sexta" vez, que ele havia sido muito mais
longe do que ele imaginava. "Não se preocupe nunca comigo, Kurt, porque
eu nunca vou tocar nessa droga", disse ela. "Nem vou chegar perto dela.
Você está de cara limpa há oito meses — isso é ótimo. Por favor, continue."
Ela estava ficando sem ter o que dizer e se recuperando do choque de
"descobrir seu irmão é um drogado", disse ela rememorando, apesar dos
rumores, Kim teve dificuldade em admitir que seu irmão, que havia crescido
com ela e passado por muitas das mesmas agruras, fosse um viciado.
Kurt trouxe de volta o assunto da sexualidade de Kim e do
preconceito que ele sabia que ela enfrentaria no porto. Tentou convencê-la a
deixar de ser Lésbica.
"Não desista totalmente dos homens", insistiu ele. "Eu sei que eles
são uns panacas. Eu nunca namoraria um cara. Eles são uns idiotas." Kim
achou muita graça — apesar de não contar seu segredo á família, ela sempre
soubera que era gay e sentia pouca vergonha disso. Mesmo com todas as
pichações de "O homossexualismo é o máximo" que Kurt havia feito em
Aberdeen, ele tinha dificuldade em admitir que sua irmã fosse Gay. à medida
que a conversa se atenuou e eles tomavam o rumo de casa, ele lhe deu um
longo abraço fraterno e garantiu que sempre a amaria.
No dia 16 de abril de 1992, o Nirvana apareceu pela primeira vez
na capa da Rolling. embora a matéria fosse ostensivamente sobre a banda,
até a manchete — "Inside the Heart and mind of Kurt Cobain"] ["Por dentro
do coração e da mente de Kurt CObain"] — era evidência de que tudo o que o
Nirvana fazia estava centrado em Kurt. Para a foto da capa ele usava uma
camiseta que dizia "Corporate Mgazines Still Suck" ["As revistas Corporativas
Ainda São um Saco"]. O fato mesmo de que a matéria tenha sido publicada
era um testemunho de como os empresários de kurt haviam se empenhado
para convencê-lo de que as revistas corporativas não eram um saco.
Kurt Havia recusado uma entrevista que a Rolling Stone tinha
perdido em 1991 e, no inicio de 1992, ele escreveu uma carta para a revista:
"neste momento de nossa, hã, carreira, antes do tratamento para perda de
cabelo e da falta de crédito, decidi que não tenho vontade nenhuma de dar
uma entrevista. [...] Não nos beneficiaríamos de uma entrevista porque o
leitor mediano de Rolling Stone é um ex-hippie de meia-idade que se tornou
critico, ama o passado como "os dias de gloria" e têm uma abordagem mais
cordial, mais suava e mais adulta em relação ao novo conservadorismo
liberal. O leitor mediano de Rolling Stone sempre acumulou musgo". Ele não
enviou a carta, e duas semanas depois de escrevê-la estava se encontrado
com Michael Azerrad, da revista, falando mais uma vez sobre desejava uma
camiseta tingida com o sangue de Jerry Garcia.
De início, ele havia dado uma gélida recepção a Azerrad, mas,
quando começou a contar os casos das surras que levara no colégio, Azerrad
se levantou e exibiu sua estrutura de 1,65 metro e brincou: "Eu não sei o
que é que você está falando". Depois disso, os dois se aproximaram mais e
kurt respondeu ás perguntas de Azerrad, conseguindo veicular pela
imprensa muitas de suas principais reformulações de vida, inclusive que
"Something in the Way" era sobre o tempo em que morou debaixo de uma
ponte. Quando indagado sobre a heroína, Kurt respondeu: Eu nem sequer
bebo mais porque isso destrói meu estômago. Meu corpo não me permitiria
tomar drogas, se quisesse, porque o tempo todo eu sou muito fraco. As
drogas são uma perda de tempo. Elas destroem sua memória e seu autorespeito
e tudo o que acompanha sua auto-estima. "Não há nada de bom
nelas".
Enquanto ele falava sentado na sala de estar do apartamento da
rua Spaulding, sua adorada "caixa de equipamentos" estava no closet como
uma relíquia familiar adornada.
Embora o artigo da Rolling Stone minimizasse as tensões internas
da banda, entre o momento da entrevista e sua publicação o Nirvana deixava
temporariamente de existir. Quando a banda assinou seu contrato inicial de
edição, Kurt havia aceitado dividir igualitariamente seus direitos autorais de
composição com Novoselic e Grohl. Isso era generoso, mas na época
ninguém imaginava que o disco venderia milhões de cópias, com o sucesso
fenomenal de Nevermind, kurt insistiu que as porcentagens fossem alteradas
para que ele ficasse com o grosso da renda — propôs uma divisão de 75/25
sobre a música, ficando com 100% das letras — e queria que o contrato
fosse retroativo. "Acho que uma vez que Nevermind estava se esgotando,
Kurt começou a perceber que [os contratos de edição] não eram apenas
documentos teóricos; que se tratava de dinheiro grosso", observa o advogado
ALan Mint. "As cotas sobre a edição significavam problema de estilo de vida."
Krist e Dave se sentiram traídos por Kurt querer que o novo
contrato fosse retroativo, mas acabaram concordando, imaginando que a
outra opção seria dissolver a banda. Kurt tinha dito resolutamente a
Rosemary Carroll — agora atuando simultaneamente como advogada de
Kurt, Courtney e do Nirvana — que dissolveria a banda se não fosse do jeito
que ele queria. Embora Grohl e Novoselic culpassem Courtney, Carroll se
lembra de Kurt ter sido irredutível na questão. "Seu Foco era de tipo laser",
observa ela. "Ele era muito claro e muito persistente e sabia, em nível de
centavos, do que é que estava falando. Sabia o que merecia e sabia que
merecia todo o dinheiro, {já que} ele compunha todas as letras e musicas."
Em última análise, as porcentagens não deixariam uma ferida tão funda
quanto a maneira como kurt escolheu lidar com o assunto: como acontecia
com a maioria dos conflitos, ele evitou a questão até que ficou furioso. Vários
membros da equipe da banda ficaram chocados ao ouvir Kurt falando mal de
Krist, que havia sido um dos maiores esteios de sua vida.
Em maio, kurt estava de volta novamente á heroína, depois de ter
conseguido permanecer sóbrio durante menos de seis semanas, seu vicio era
de conhecimento comum nos círculos do rock e os rumores acabaram
chegando ao Los Angeles Times.
No dia 17 de maio, em um artigo com o cabeçalho "Por que o
Nirvana está perdendo uma temporada excelente de excursão?" Steve
Hochman escrevia que "O comportamento retraído [do Nirvana] reacendeu a
especulação de que o cantor?Guitarrista Kurt Cobain tem um problema com
heroína". A Gold Mountain desmentiu os rumores, divulgando o que se
tornaria a negação-padrão, atribuindo a ausência da banda a "problemas
estomacais" de Kurt.
O velho amigo de Kurt, Jedde Reed, o visitou naquele mês e, no dia
em que estiveram juntos, Kurt teve de tomar a droga duas vezes. Em ambas,
ele entrou no banheiro para não fazê-lo na frente de seu amigo mais velho,
ou de Courtney, que estava sofrendo com o enjôo matinal e não queria ver
Kurt se drogando.
Mas Kurt não se retraia em relação a discutir seu vício com Jesse e
passaram a maior parte do dia aguardando a entrega de um novo
suprimento de heroína. Kurt havia claramente superado o medo de agulhas,
medo que Jesse se lembrava de quando era jovens — Kurt até pediu a seu
velho amigo que encontrasse para ele alguns esteróides injetáveis ilegais.
Jesse não achou que o apartamento rosa de Aberdeen — havia
grafites nas paredes, a mobília era barata e, no geral, "era um pardieiro",
mas um aspecto dele impressionou Jesse: Kurt havia começado a pintar
novamente e a sala de estar estava cheia de seus trabalhos. "Ele tinha quase
dez metros quadrados de telas", lembra Jesse. "Ele estava falando em
abandonar a música e abrir sua própria galeria." A arte que Kurt pintou em
1992 evidenciava grande amadurecimento. Uma das pinturas era uma tela
60 x 91 centímetros cor de laranja brilhante com um dente de cachorro
marrom pendurado num cordão no meio do quadro.
Outro quadro apresentava grandes manchas carmesim com flores
prensadas no centro das manchas de tinta. Ainda outro mostrava cruzes de
cor vermelho-sangue com imagens brancas fantasmagóricas de alienígenas
atrás delas. Uma tela gigantesca apresentava um alienígena pendurado
como uma marionete com uma protuberância minúscula de um pênis
exposto: um pequeno gato estava num canto olhando para o espectador e,
em outro canto, Kurt havia escrito: "abscessos reais, conjuntivite, espinha
bífida".
Os cheques dos direitos autorais de Kurt haviam começado a
chegar e o dinheiro para comprar telas e tinta já não era mais problema. Ele
contou a Jesse que estava ganhando o equivalente a quatrocentos dólares de
heroína por dia, um quantia extravagante que teria matado a maioria dos
usuários: parte da razão para essa cifra era que a maioria dos traficantes
cobrava mais caro de Kurt, sabendo que ele podia pagar. Jesse descobriu
que quando Kurt se aplicava, havia pouco prejuízo para suas funções
motoras. "Ele não ficava sonolento. Não havia nenhuma mudança".
Jesse e Kurt passaram a maior parte da tarde assistindo a um
videoteipe mostrando um homem dando um tiro na cabeça. "Ele tinha o
vídeo de um senador", lembra Jesse, "explodindo o cérebro diante da
câmera. O sujeito tinha uma Magnum 375 de um envelope de papel manilha
e detona seu cérebro. Era uma imagem muito nítida. Kurt conseguiu a fita
numa loja de rapé."
Na verdade o vídeo era do suicídio de R. Budd Dwyer, funcionário
do estado da Pensilvânia que, ao ser condenado por suborno em janeiro de
1987, convocou uma entrevista coletiva, agradeceu sua esposa e filhos,
entregou um envelope ao seu pessoal contendo seu bilhete de suicídio, e
disse aos repórteres: "Alguns que ligaram disseram que eu sou Jó dos
tempos modernos". Com as câmeras filmando. Dwyer enfiou um revolver em
sua boca e puxou o gatilho — o tiro arrancou a parte de trás de sua cabeça e
imediatamente o matou. Cópias piratas da cobertura da televisão ao vivo
haviam circulado após a morte de Dwyer e kurt tinha comprado uma. Ele
assistiu obs excessivamente ao suicídio durante 1992 e 1993 — quase
tantas vezes quanto as que assistiu ao ultra-som de sua filha.
Depois que a heroína foi entregue, Jesse acompanhou Kurt em
algumas tarefas de rua. Uma das paradas foi a Circuit City, onde Kurt
deixou quase 10 mil dólares ao comprar o mais recente equipamento de
vídeo. Jesse partiu naquela noite, para voltar a San Diego, e deu um abraço
de despedida no frágil Kurt. Eles continuaram em contato por telefone e,
embora nenhum deles soubesse disso na ocasião, seria a última vez que os
dois velhos amigos se veriam.
Em junho, o Nirvana iniciou uma excursão de dez shows na
Europa para compensar os cancelados em 1991. No primeiro show, em
Belfast, Kurt já estava reclamando de dor de estômago e foi levado ás
pressas para o hospital. Lá ele afirmou que a dor fora causada por não
tomar pílulas de metadona: em outros incidentes ele afirmaria que a
metadona provocava parte de sua dor de estômago. Por ser o primeiro
concerto da excursão, havia muitos jornalistas que tinham entrevistas
agendadas com Kurt: quando lhes disseram que ele não estava "disponível",
os jornalistas farejaram uma matéria.
O editor da banda no Reino Unido, Anton Brookes, viu-se na
posição quase cômica de tentar tirar os repórteres para fora do salão de
entrada para que nenhum deles visse Kurt sair do Hotel numa maca.
Quando um repórter declarou: "Acabei de ver Kurt em uma ambulância",
repentinamente se tornou difícil negar que ele tinha problemas de saúde.
"Lembro-me de ter voltado ao escritório e de que a Cnn estava na linha",
conta Brookes. "Eu disse: "Ele teve problemas estomacais. Se fosse heroína,
eu diria a vocês. Ele está tomando medicamentos." Para passar a perna nos
repórteres persistentes, Brookes mostrava os frascos dos remédios de kurt.
Depois de uma Hora no hospital, Kurt melhorou e foi tocar no show do dia
seguinte sem problemas. Mas a administração havia contratado dois
guardas para acompanhar Kurt — e imediatamente ele se livrou deles.
Antes de um show na Espanha, a banda concedeu uma entrevista
a Keith Cameron para a NME. O artigo de Cameron mencionava os rumores
de drogas e indagava se era possível ao Nirvana sar "do anonimato para o
estrelato e pôr tudo a perder no intervalo de seis meses". Era sua maior
condenação na imprensa até então, e parecia encorajar outros jornalista do
Reino Unido a introduzir alegações de abuso de heroína em suas matérias,
assunto anteriormente considerado tabu. mas, apesar da descrição que
Cameron fazia Kurt como "demoníaco", as fotos que acompanhavam o artigo
o mostravam com ar de menino, com cabelo curto oxigenado e usando
óculos de lentes grossas estilo Buddy Holly. Ele não precisava dos óculos,
mas achava que eles o faziam parecer inteligente: ele também usou um par
de óculos similar no vídeo "In Bloom". QUando sua tia lhe disse que os
óculos o deixavam parecido com o pai Kurt nunca mais os usou.
No dia 3 de julho, ainda na Espanha, Courtney começou a ter
contrações, embora a previsão fosse apesar, embora a previsão fosse apenas
para a primeira semana de setembro.
Levaram-na ás pressas para um hospital espanhol onde Kurt não
conseguiu encontrar um médico com conhecimentos suficientes do inglês
para compreendê-lo.
Finalmente, pelo telefone, localizaram o médico de Cortney, que
recomendou que eles tomassem o próximo vôo de volta. Assim fizeram e o
Nirvana cancelou dois shows na Espanha pela segunda vez.
Quando chegaram á Califórnia, os médicos lhe garantiram que
estava tudo bem com a gravidez, mas, apesar disso, eles voltaram para uma
catástrofe: o banheiro do apartamento havia inundado. Kurt tinha guardado
guitarras e diários na banheira e estavam todos arruinados.
Desanimados, ele e Courtney resolveram imediatamente se mudar,
embora ela estivesse grávida de oito meses, também havia traficantes de
heroína batendo á porta a todo momento, tentação a que Kurt achava difícil
resistir. Kurt foi ao escritório da Gold Mountains para insistir com Silva que
ele encontrasse um novo lugar para eles morarem.
Apesar de sua crescente riqueza, Kurt ainda não conseguira
consolidar crédito e entregava todos os seus assuntos financeiros aos seus
empresários.
Silva os ajudou a encontrar uma casa e eles se mudaram no final
de julho, deixando todo o seu lixo no apartamento da rua Spaulding e a
palavra "parricídio" escrita na parede acima da lareira. Sua nova casa no
Alta Loma Terrace, 6881, era algo saído diretamente de um filme: tinha sido
usado como locação para vários filmes, entre os quais Dead Again, e a versão
de Robert Altman para The Long Goodbye. Ela ficava num pequeno
penhasco na colinas de Hollywood Norte, com vista para Hollywood Bowl. A
única maneira de chegar ao penhasco, que tinha dez apartamentos e quatro
casas, era por meio de um elevador coletivo de aparência gótica. Os Cobain
alugaram a casa por 1.500 dólares por mês. "Era nojenta, em diversos
sentidos", lembra Courtney,"mas era legal. pelo menos, não era
apartamento."
Atormentado por sua dor de estômago cada vez pior, Kurt
considerou o suicídio. "Instantaneamente recuperei aquela conhecida
náusea de queimação e decidi me matar ou deter a dor", escreveu ele em seu
diário. "Comprei um revolver, mas preferi ficar com as drogas." Ele
abandonou a metadona e logo voltou para a heroína. Quando nem sequer as
drogas pareciam aliviar a dor, ele acabou decidindo tentar de novo o
tratamento, depois de pressionado por Courtney e pelos empresários. No dia
4 de agosto, kurt internou-se na unidade de reabilitação de drogas do
hospital Cedars-Sinai para sua terceira reabilitação.
Ele havia começando a se consultar com um programa de
desintoxicação intensiva de dois meses. Foram dois meses de "Fome e
vômito. Enganchado a uma intravenosa e gemendo alto com a pior dor de
estômago que eu jamais havia sofrido". Três dias depois da internação de
Kurt, Courtney deu entrada em um ala diferente do mesmo hospital, sob um
pseudônimo. De acordo com seus registros médico, que vazaram para o Los
Angeles Times, ela estava sendo medicada com Vitaminas pré-natais e
metadona. Courtney estava passando por uma gravidez complicada e por um
esgotamento emocional — naquela semana ela havia recebido um fax
contendo seu perfil a ser publicado na edição do mês seguinte da Vanity
Fair.

ANEURISM

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