quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Kurt Cobain: A Lenda que não morreu! 16ª Parte


ESCOVE SEUS DENTES

Seattle, Washington,
Outubro de 1991 - Janeiro de 1992

"Por favor, não esqueça de comer seus legumes
nem de escovar os dentes."

De uma carta que a mãe de Kurt escreveu ao Aberdeen Daily World.
O NAMORO DE KURT E COURTNEY realmente começou em
novembro de 1991, quando o Nirvana iniciou outra excursão pela Europa e o
Hole seguiu para lá duas semanas depois, tocando em muitos dos mesmos
locais. Os dois amantes se falavam ao telefone toda noite, enviavam fax ou
deixavam mensagens cifradas nas paredes dos camarins. Uma brincadeira
particular entre eles era a seguinte; quando ele ligava para ela, fingia ser o
roqueiro funk Lenny Kravitz: quando Courtney ligava, ela dizia ser a exesposa
de Kravitz, a atriz Lisa Bonet, do Cosby Show. Isso gerava muita
confusão para os gerentes noturnos do hotel, que podiam ser instruídos a
enfiar imediatamente um determinado fax sob a porta de um quarto que eles
sabiam muito bem não ser o de Lenny Kravitz.
"Foi quando começamos realmente a nos apaixonar — pelo
telefone", contou Kurt para Michael Azerrad. "Nós nos ligávamos quase toda
noite e trocávamos fax a cada dois dias. Minha conta de telefone era algo
como... 3 mil dólares." Entretanto, ao mesmo tempo que este caso de amor
por fax estava evoluindo, Kurt tinha assuntos inacabados para resolver, algo
diante do qual ele sempre se sentia infeliz. Depois que o Nirvana encerrou
seu primeiro show no Reino Unido, em Bristol, ele ficou espantado ao
encontrar Mary Lou Lord nos bastidores. Ela havia pegado um vôo para lá
para lhe fazer uma surpresa. Coisa que fez com pose.
No mesmo instante ela soube que alguma coisa estava errada: ele
estava diferente e não se tratava apenas do nível da fama, embora isto
também estivesse em marcante contraste ao que era ainda um mês antes.
No mês anterior, em Boston, Kurt podia caminhar pela rua sem ser
incomodado: agora, a todo momento havia alguém se agarrando a sua
manga. Em dado momento, um representante da gravadora agarrou Kurt
para anunciar: "Nós vendemos apenas 50 mil unidades esta semana". Para o
Reino Unido, esta era uma cifra extraordinária, mas Kurt reagiu mostrandose
perplexo: havia alguma coisa que ele devia fazer a respeito?
No dia seguinte, Mary Lou perguntou: "Você conheceu outra
pessoa?", "Eu só estou cansado", mentiu ele. Ela atribuiu isto ao seu
estômago, sobre o qual ele estava se queixando abertamente, afirmando que
doía mais do que nunca. Naquela noite, o telefone de seu quarto tocou ás
três da manhã: era Courtney, mas Kurt não deixou que transparecesse. Um
Dj havia dito a Courtney que "a namorada" de Kurt era Mary Lou Lord.
"namorada de Kurt?", havia gritado Courtney em resposta, quase chorando.
"Eu sou a namorada de Kurt." As primeiras palavras saídas da boca de
Courtney ao telefone foram: "Quem é essa tal de Mary Lou Lord e por que as
pessoas estão dizendo que ela é sua namorada?". A voz de Courtney
distorceu o nome de Mary Lou como se ele se referisse a um caso
particularmente grave de parasitose. Kurt conseguiu negar que tinha uma
relação com Mary Lou sem mencionar diretamente o nome da garota, já que
ela estava a pouco mais de um metro de distância enquanto ele falava.
Courtney disse a Kurt, sem deixar nenhuma dúvida, que se ela ouvisse falar
novamente de uma mary Lou Lord, estava tudo acabado entre eles. Na
manhã seguinte, Kurt perguntou friamente a Mary Lou como ela iria para
Londres — ela percebeu que, ao perguntar, ele estava quase anunciando que
estava tudo acabado entre eles.
Um dia depois, Mary Lou estava assistindo a um programa de
televisão chamado The Word, no qual o Nirvana estava fazendo uma
apresentação muito alardeada. Antes de tocar uma versão curta de "teen
Spirit", de noventa segundos, Kurt agarrou o microfone e, com uma voz
monótona e seca, que soava como se ele estivesse pedindo o almoço,
proferiu: "Eu só quero que todos nesta sala saibam que Courtney Love, do
grupo pop Hole, é a melhor transa do mundo". Suas palavras, como ele bem
sabia, iam muito além daquela sala.
Uma audiência de milhões de espectadores da televisão britânica
engasgou, embora os sons mais altos certamente viessem de Mary Lou Lord,
que ficou inteiramente descontrolada. Kurt já tinha considerável cobertura
da mídia no Reino Unido, mas esta única declaração lhe trouxe mais atenção
do que qualquer outra que ele tenha proferido em sua carreira — desde que
John Lennon havia dito que os Beatles eram maiores que Jesus Cristo,
nenhum astro do rock indignou tanto o público britânico. A intenção de Kurt
não era aumentar sua má fama — ao contrário ele simplesmente havia
escolhido este programa de televisão para dizer a Mary Lou que o caso deles
estava terminado e empenhar seu amor a Courtney. Sua sinopse das
habilidades sexuais de Courtney resultou em algo que ele certamente não —
levou-o da primeira página dos semanários de músicas para a primeira
página dos tablóides diários. Conjugado ás vendas fenomenais de
Nevermind, o que ele dizia agora se tornava noticia. Kurt aceitava e ao
mesmo tempo amaldiçoava esta reviravolta dos acontecimentos, dependendo
de ela estar ou não funcionando em seu benefício.
Três semanas depois, no dia 28 de novembro, dia em que
Nevermind atingiu a marca de 1 milhão de cópias vendidas nos Estados
Unidos, a banda apresentou um outro programa extremamente bem cotado
da televisão britânica, Top of the Pops. os produtores insistiram que o
Nirvana tocasse "Teen Spirit" e o programa exigia que os artistas fizessem os
vocais ao vivo sobre um playback de apoio — apenas um degrau acima da
dublagem. Kurt elaborou um plano com Novoselic e Grohl para fazer troça
da apresentação.
Enquanto o playback tocava, Kurt cantou os vocais numa versão
em câmera lenta, quase tipo-sala-de-estar-de-vegas — ele estava tentando,
conforme afirmou mais tarde, soar como Morrissey.
Os produtores ficaram furiosos, mas o nirvana escapou de toda a
ira partindo rapidamente para uma apresentação em Sheffield. Enquanto se
afastavam no carro, Kurt sorriu pela primeira vez naquele dia. "Ele estava
extremamente alegre", observa Alex MacLeod. Não havia dúvida de que eles
eram o maior acontecimento na música. E ele tirava partindo disso. Ele
sabia que tinha o poder."
Se audácia era o vício ocasional de Kurt, ela estava em órbita
diária ao redor de Courtney. Era essa a origem de uma pequena parte de sua
adoração por ela. Ela entrava na maioria dos ambientes sociais com toda a
graça de uma raposa num galinheiro, embora conseguisse, ao mesmo tempo,
ser perspicaz e engraçada. Mesmo aqueles da equipe do Nirvana que a
detestavam — e havia muitos nessa categoria —, achavam Courtney
divertida.
Por natureza, Kurt era um voyerur. Não havia nada de que ele
gostasse mais do que criar um tumulto, sentar-se e assistir ao seu
desdobramento. Mas quando Courtney estava por perto — particularmente
nos bastidores de um palco —, as pessoas simplesmente não conseguiam
tirar os olhos dela, muito menos Kurt. Poucos eram tolos o bastante para
levar Courtney a um jogo de disputa verbal, e aqueles que o faziam
descobriam que ela conseguia muito de ser um bad boy e,
conseqüentemente, exigia uma bad girl. Embora soubesse que na melhor
das hipóteses Courtney não passaria de uma heroína dark, ele a amava
ainda mais por isto. "Ele elaborou parte de sua agressão graças a ela",
explica Carolyn Rue, a baterista do Hole. "Ele conseguiu isso por intermédio
dela, porque não tinha a coragem para fazê-lo por si mesmo. Ele precisava
que ela fosse o seu bocal. Ele era passivo-agressivo." Courtney, por sua vez,
era simplesmente agressiva, um traço que lhe granjeava muitas resenhas
cruéis num mundo punk rock, que não obstante as declarações de
igualdade, ainda era de dominância masculina e tinha papéis definidos para
o modo como mesmo as mulheres liberadas deveriam se comportar. Quando
Courtney se juntou a Kurt, a imprensa a acusou de se agarrar a um astro
em ascensão. E embora essa acusação fosse essencialmente verdadeira, a
fofoca deixava de notar que as primeiras resenhas a respeito do Hole eram
tão apaixonadas quanto as recebidas pelo nirvana. Kurt era mais famoso do
que ela em novembro de 1991 e os amigos de Courtney a haviam advertido
para que não se envolvesse com ele por causa da probabilidade de que a
carreira dele obscurecesse a dela. mas, por ser senhora de si, ela não
considerava isso possível, e ficava ofendida quando essas sugestões eram
oferecidas. A verdade era que ambos eram ambiciosos, e isso em parte era a
causa da atração recíproca.
Embora fosse uma história de amor incomum, ela tocava em
pontos do sentimentos tradicional. Alguns fax trocados por eles eram
proibido para sentimento tradicional. Alguns fax trocados por eles eram
proibidos para menores, mas outros saíram diretos de um romance barato:
como compositores, cada um estava tentando conquistar o coração do outro.
Um fax de Courtney do inicio de novembro dizia: "Quero estar em algum
lugar fora de seu alcance com todo o chocolate em minhas mãos. Você tem
cheiro de Waffle e leite. [...] Eu amo e sinto saudade de seu corpo e de seus
beijos de vinte minutos".
Ambas as partes dessa união também se auto-anulavam a um
grau que beirava o do comediante que apresenta sozinho no palco. Amigos
íntimos contam casos sobre o senso de humor debochado dos dois, algo que
o público raramente via. Naquele outono, Courtney escreveu uma lista dos
"traços mais irritantes" de Kurt e suas percepções eram ao mesmo tempo
perversas e cortejadoras: "1. Faz-se de bonzinho com os jornalistas e eles
caem nessa o tempo todo. 2. banca o herói punk bonzinho e desamparado
para fãs adolescentes que já acham que ele é Deus — elas não precisam ser
convencidas. 3. Tem feito o mundo todo acreditar que ele é humilde, tímido e
modesto quando, na verdade, ele é um falastrão narcisista, razão pela qual,
no fim das contas, eu o amo, mas ninguém sabe disso a não ser eu. 4. É um
pisciano e o objeto de meus intensos desejos e repulsa ao mesmo tempo".
Ela encerrava outro fax prometendo comprar-lhe flores diariamente quando
ficasse rica. Muitos fax que ela lhe enviava continham versos que anos
depois terminariam em suas canções mais conhecidas. "Eu sou partes de
boneca, pele ruim, coração de boneca, vale dizer faca, para o resto da minha
vida, despele meu coraçãozinho e o absorva em sua mão esquerda e me ligue
hoje á noite", dizia o fax que ela lhe enviou no dia 8 de novembro. Outras
mensagens eram simples e carinhosas; "por favor, penteie o cabelo hoje á
noite e lembre-se de que eu o amo", escreveu ela certa noite.
Ele lhe enviou cópias de o retrato de Dorian Gray de oscar Wilde e
de O morro dos ventos uivantes de Emily Bronté, e vários fax que eram
igualmente românticos, embora, graças á estranheza que o caracterizava,
grande parte do que escrevia também fosse pura esquisitice. Muitas vezes
ficava obcecado por seus tópicos de mau gosto favorito: lixo humano,
"enrabamento", nascimento, bebês e drogas. Divertia-se com a possibilidade
de que suas indiscrições pudessem chegar aos tablóides. Um fax que ele
enviou em meados de novembro falava de uma verdade maior. Começava
com o nome de Courtney dentro de um coração e dizia: oh, porra de vida,
sangrenta. Eu estou alucinado com muitas freqüência. preciso de oxigênio.
Graças a Satã, descobrimos um médico com letra boa que está disposto a
preencher receitas sempre que o mensageiro não conseguir na rua. Acho que
estou pegando uma espécie de dermatite com fungo pegajoso porque
continuo desmaiando nas primeiras horas da manhã coberto do sangue de
menino e usando as mesmas roupas suadas que usei no show da noite
anterior. O pequeno Oliver, o menino indiano que eu comprei na semana
passada, está se tornando um completo enfermeiro profissional, só que as
agulhas que ele usa são tão grandes que fazem meus braços incharem como
bolas de golfe.
Ou melhor, bolas de bilhar. Ele também está muito melhor para
me chupar agora que arranquei fora seus dentes. Guido amanhã estará
enviando um peixe para a recepcionista do hotel. Espero que ela seja uma
boa nadadora. Eu te amo, Sinto falta de você.
P.S.: Consegui convencer Lenny Kravits que o bebê é dele e ele está
disposto a pagar o aborto. Ame-me.
Ele assinava a carta com um peixe. É claro que ele não tinha
nenhum garoto indiano como seu escravo de amor, e não havia gravidez
nenhuma em novembro. O vício a que se referia, porém, era real, e ele havia
mesmo encontrado um médico inglês para receitar morfina farmacêutica.
Courtney estava tão apaixonada que, no final de novembro, não
tendo visto Kurt durante duas semanas, ela cancelou uma apresentação do
Hole — o que não era de seu feitio — e voou para Amsterdã. Lá, eles
compraram heroína e passaram o dia eufóricos, fazendo sexo
demoradamente. Courtney não tomava drogas só porque amava Kurt — ela
tinha seus próprios demônios dos quais valia a pena fugir —, embora
raramente tomasse droga quando ele não estava por perto. Com Kurt, ela
deixava cair todas as barreiras, já que estava bem consciente de que manter
uma relação íntima com ele significava viver em um mundo de escapismo
saturado de opiatos. Ela escolheu Kurt, e, ao fazer isso, escolheu as drogas.
Depois de Amsterdã e de uma breve escala em Londres, ela voltou
a se juntar á excursão do Hole e o Nirvana continuou com seus
compromissos no Reino Unido.
Desde os Ses Pistols, nenhuma banda em turnê obtinha tamanha
atenção. Todo show continha algo de interesse jornalístico, ou pelo menos
algo que levava a banda para os jornais. Em Edimburgo, fizeram um show
acústico em benefício de um hospital pediátrico. Em Newcastle, Kurt
anunciou no palco: "Eu sou homossexual, uso drogas e transo com porcos
barrigudinhos", mais cobainismo clássico, embora apenas uma das três
afirmações fosse verdadeira. No momento em que a excursão chegou a
Londres novamente, Kurt estava incapacitado pela dor de estômago e decidiu
cancelar seis compromissos na Escandinávia. Considerando seu estado de
saúde e a escalada de seu vício, era uma sábia decisão.
Enquanto Kurt estava na Europa, sua mãe escrevia uma carta
para o Aberdeen Daily World. Essa carta era a primeira menção a Kurt no
jornal de sua cidade desde que seu time da Liga Mirim conquistara o
campeonato da Liga Madeireira no ano em que seus pais se divorciaram. A
carta vinha abaixo da manchete "Metaleiro" local faz sucesso, conta sua
mãe:
"Esta carta é dirigida mais ou menos a todos vocês, pais que têm
filhos batendo ou arranhando tambores ou guitarras na garagem ou nos
quartos de suas casas. Prestem atenção no que vocês dizem, pois podem ter
de engolir cada uma dessas palavras do sermão paterno preocupado.
Palavras como: "Vá ganhar a vida", Sua música é boa, mas as chances de
fazer sucesso se reduzem a nada", "Continue a estudar e, se ainda quiser
tocar numa banda, você pode, mas se isso não funcionar, terá alguma coisa
a que recorrer". Essa palavras soam familiares?
Bem, eu acabei de receber um telefone de meu filho, Kurt Cobain,
que canta e toca guitarra com a banda "Nirvana". Atualmente, eles estão
excursionando pela Europa.
O primeiro disco deles pela Geffen Record acaba de alcançar o
disco de "Platina" (mais de 1 milhão vendidos). Eles estão no quarto lugar
entre os discos da Top 200 da Billboard. Bem eu sei que as chances de
conseguir isto ainda se reduzem-a-nada para muitos, mas dois meninos que
nunca perderam de vista suas metas, Kurt e [Krist] Novoselic, têm realmente
um motivo para estar sorrindo hoje em dia. As horas e horas e horas de
prática compensaram.
Kurt, se por acaso chegar a ler isto, estamos muito orgulhosos e
você realmente é um dos melhores filhos que uma mãe pode ter. Por favor,
não esqueça de comer seus legumes nem escovar os dentes e, agora [que]
você tem uma empregada, arrume sua cama."
Wendy O'Connor, Aberdeen
Kurt não leu o Aberdeen Daily World, em toda a sua vida
raramente comeu legumes e seu vício nas drogas era tão grave em dezembro
de 1991 que normalmente ele pregava um aviso na porta do seu quarto de
hotel advertindo as arrumadeiras para que não entrassem — quando o
faziam, freqüentemente o encontravam desmaiado.
Curiosamente, ele também não escovava os dentes, um dos
motivos pelos quais contraiu uma infecção nas gengivas durante as sessões
de gravação de Nevermind "Kurt odiava escovar os dentes", disse Carrie
Montgomery. "No entanto, seus dentes nunca pareciam enodoados e ele
nunca tinha mau hálito." Carrie lembra de Kurt lhe dizendo que comer
maçãs funcionava tão bem quanto a escovação.
No dia 21 de dezembro, Kurt, Carrie e um grupo de amigos
combinaram uma viagem até Portland para ver os Pixies. Kurt tinha alugado
um Pontiac Grand Am para o longo trajeto receando que seu Valiant não
agüentasse. Ele raramente dirigia o Valiant, não chegando a rodar 5 mil
quilômetros no primeiro ano depois que o comprou. Em vez disso, ele o
usava como um quarto de hotel móvel, dormindo ocasionalmente no banco
traseiro e guardando todas as suas posses no porta-malas. Seus amigos se
encontraram com ele em Aberdeen, para onde Kurt tinha ido comer um
assado feito pela mãe.
A dinâmica na casa da rua First passara por uma mudança de
camadas tectônica desde a última visita de Kurt a Aberdeen: ele estava
sendo tratado pela primeira vez desde a infância, como a pessoa mais
importante na vida de Wendy. Mesmo Kurt ficou chocado com a hipocrisia
da situação, principalmente quando viu o padrasto, Pat O'Connor, beijando
todo mundo, inclusive ele: era como um episódio ruim de All in the Family,
onde Meathead ganha o adorado La-Z-Boy de Archie.
Quando seus amigos chegaram, permaneceram o tempo suficiente
para Kurt dar a sua meia-irmã Brianne, de seis anos de idade, alguns
materiais de arte — ele a adorava — antes de saírem apressadamente.
No dia seguinte Courtney chegou a Seattle, e Carrie foi recrutada
para agora como amortecedor quando ela fosse visitar a família de Kurt. Eles
se encontraram primeiro no Maximilien, um fino restaurante francês ni Pike
Place Market, para traçar a estratégia de controle dessa importante
apresentação. Quando Courtney se levantou para ir ao banheiro, Kurt
perguntou a Carrie o que ela achava do seu novo amor: "Vocês, rapazes, são
como um desastre natural", respondeu ela. Carrie era uma das únicas
amigas de kurt, por isso tinha uma rara perspectiva sobre a união dos dois.
"Eu gostava de ficar perto deles do jeito que se gosta de observar um
acidente de carros", observa ela.
Quando Courtney voltou, um freguês do restaurante perguntou;
"Ei, vocês são Sid e Nancy?". Kurt e Carrie se entreolharam, ambos sabendo
que Courtney estava a ponto de explodir. Courtney se levantou e gritou:
"Meu marido tem o disco que está em primeiro lugar no pais inteiro e ele tem
mais dinheiro do que nenhum de vocês jamais terá!
É claro que ele não era marido dela e também não tinha um disco
no primeiro lugar — estava em sexto lugar naquela semana —, mas o que
ela queria dizer era claro. O garçom veio correndo e o sarcástico freguês
fugiu para se esconder. Apesar dessa explosão, e em parte por causa dela,
Carrie achou Courtney brilhante e engraçada e julgou que eles formavam
um belo casal. A viagem até Aberdeen correu bem e Wendy gostou de
Courtney e disse a Kurt que ela era boa para ele.
"Eles eram como clones, colados um no outro", contou Wendy
depois para o escritor Tim Appelo. "Provavelmente ele era a única pessoa que
a amava totalmente e de forma incondicional." Uma semana depois, Kurt e
os outros membros do Nirvana voltaram para a estrada, com Courtney a
reboque, para uma outra excursão. Eles estavam tocando para suas maiores
platéias até então — auditórios de 20 mil lugares —, mas, considerando que
a excursão fora agendada antes da explosão do disco, eles entraram na parte
do meio de uma programação com três bandas. O Pearl Jam estava fazendo
a abertura — eles mesmo estavam apenas começando a se tornar astros —
enquanto o Red Hot Cili peppers era a atração principal.
Antes do compromisso do dia 27 de dezembro na Arena de
Esportes de Los Angeles, Kurt deu uma entrevista a Jerry McCully da revista
BAM. A matéria de McCully causou sensação, no mínimo porque sua
descrição de kurt condizia com os rumores sobre drogas que haviam
começado a circular. McCully escreveu que Kurt "de vez em quando apagava
no meio das frases". O artigo não chegava a mencionar a heroína, mas a
descrição que o jornalista fazia de Kurt — "pupilas fixas, faces encovadas e
pele encrostada e amarela" — era preocupantes. Ele dizia que kurt parecia
"mais ter quarenta do que 24 anos".
Quando não estava "apagando", Kurt era surpreendentemente
lúcido em relação a sua carreira. "Eu queria pelo menos vender discos o
bastante para poder comer macarrão e queijo, para que não tivesse de ter
um emprego", declarou ele. Ele mencionava Aberdeen — raramente dava
uma entrevista sem falar da cidade, como se ela fosse uma amante que ele
havia deixado para trás — e sentenciava: "99% das pessoas [de lá] não
tinham a menor idéia do que era música, ou arte". Ele afirmava que o motivo
pelo qual não se tornara um lenhador era porque "eu era um garoto muito
pequeno". Embora não conseguisse fazer sua frase "O punk rock é liberdade"
sair na imprensa, ele afirmava: "amadurecer, para mim... é pular fora espero
morrer antes de me transformar em Pete Townsherd". Ele estava fazendo um
jogo de palavras com o verso de Townsherd em "my Generation"; "espero
morrer antes de ficar velho" e, talvez em assentimento a isto, ele abriu o
show com a musica "baba O'Riley" do the Who.
Por mais chocante que fosse a aparência de kurt, o anúncio de
seus planos para o futuro era a verdadeira surpresa: "Vou me casar e esta é
uma revelação total — quer dizer, emocionalmente. Nunca me senti tão
seguro em minha vida, e tão feliz. É como se eu não tivesse mais nenhuma
inibição. É como seu estivesse esgotado de sentir-me realmente inseguro.
Imagino que casar tenha muito á ver com segurança e manter a cabeça no
lugar. A personalidade de minha futura esposa e a minha personalidade são
tão voláteis que eu acho que, se fôssemos entrar numa briga, nós nos
separaríamos da mesma forma. O casamento é uma dose extra de
segurança".
Ele terminava a entrevista com outra previsão; "Existem muitas
coisas que eu gostaria de fazer quando estiver mais velho. Pelo menos, ter
uma família, isso já me satisfaria".
Kurt e Courtney haviam ficado noivos em dezembro, enquanto
estavam na cama em um hotel de Londres. Antes de falar com McCully, Kurt
não havia feito um anúncio formal, mas todos na banda já sabiam.
nenhuma data havia sido marcada, já que, com noivado ou não, o negócio
do Nirvana não podia ser posto na espera por nada.
O Nirvana terminou 1991 com o show da véspera de Ano-Novo no
Cow Palace de San Francisco. O Pearl Jam abriu a noite com um trecho de
"Smells Like Teen Spirit" e Eddie Vedder brincou: "LEmbrem-se que nós a
tocamos primeiro". Essa brincadeira era um reconhecimento de algo que
todos ali sabiam: ao começar 1992, o Nirvana era a maior banda do mundo e
"Teen Spirit", a maior canção. Keanu Reeves estava no concerto e tentou e
tentou travar amizade com Kurt, que rejeitou os seus esforços. Mais tarde
naquela noite, no hotel, Kurt e Courtney foram tão incomodados por outros
hóspedes que puseram um aviso na porta: "Nada de gente famosa, por favor,
Estamos trepando".
No momento em que o grupo chegou a Salem, no Oregon, para o
último compromisso da excursão, Nevermind tinha vendas comprovadas de
2 milhões de cópias e estava vendendo a um ritmo cada vez mais acelerado.
Para todo lado que Kurt se virava, alguém estava lhe pedindo algo
— um contrato de patrocínio, uma entrevista, um autógrafo. Nos bastidores,
Kurt captou de soslaio o olhar de Jeremy Wilson, vocalista e líder do Dharma
Bums, uma banda de Portland que Kurt admirava. Wilson acenou para Kurt,
sem querer interromper sua conversa com uma mulher que tentava
convencê-lo a figurar num anúncio para encordoamento de guitarra. Quando
Wilson se afastava, Kurt gritou "Jeremy!" e caiu nos braços de Wilson, Kurt
não disse uma palavra, simplesmente se entregou ao abraço de urso de
Wilson enquanto este repetia "Vai ficar tudo bem". Kurt não estava
chorando, mas não parecia estar longe disso. "Não foi só um breve abraço",
lembra Wilson. "Ele ficou ali parado por trinta segundos inteiros."
Finalmente, um dos organizadores agarrou Kurt e o arrastou para
outra reunião. Depois de dois dias de descanso em Seattle, o humor de kurt
pareceu melhorar. Na segunda-feira, 6 de janeiro de 1992, o superfã Rob
Kader estava pedalando sua bicicleta pela rua Pine quando de repente ouviu
alguém gritar seu nome. Era kurt, que caminhava com Courtney. Kader
felicitou Kurt pelo sucesso do disco e pela noticia de que o Nirvana estaria
no Saturday Night Live. Mas assim que kader disse as palavras, soube que
havia cometido um erro - o cálido humor de Kurt se tornou azedo. Dois anos
antes, quando Kader havia felicitado Kurt pelo fato de que vinte pessoas
haviam comparecido a um show no Comunity World Theater — duas a mais
que em sua apresentação anterior —, Kurt saudara a noticia com um sorriso
radiante. No começo de 1992, a última coisa que kurt desejava ouvir era o
quanto ele era popular.
Na semana seguinte, a fama de Kurt se ampliou consideravelmente
quando a banda voou para a cidade de Nova York para ser a convidada
musical de Saturday Night Live. O humor de Kurt parecia otimista no ensaio
de quinta-feira, quando tocaram algumas das primeiras canções do grupo.
No entanto, todos sabiam que no show eles teriam de tocar "Teen Spirit", por
mais que Kurt estivesse cansado daquele hit.
Ele havia pago a passagem de avião para sua mãe e Carrie
Montgomery irem a Nova York com ele. Quando o restante da equipe do
Nirvana encontrou Wendy pela primeira vez, ele ficou novamente
incomodado. "Todo mundo sempre ficava dizendo: 'Uau, Kurt, sua mãe é um
tesão", lembra Carrie. Era a última coisa que kurt queria ouvir: era até mais
irritante do que lhe dizer o quanto ele era famoso.
Enquanto kurt ensaiava, Courtney, Carrie e Wendy foram comprar
roupas. Depois, kurt saiu para comprar drogas, que eram tão fáceis de
encontrar em Nova York quanto uma loja de roupas. Em Alphabet City, Kurt
ficou impressionado ao ver filas de clientes esperando o traficante,
exatamente como na canção do Velvet Underground. Ele estava agora
apaixonado pelo ritual do consumo e sedutoramente atraído para o
submundo sórdido para o qual este ritual o levava. A heroína branca chinesa
de Nova York (a heroína da Costa Oeste era sempre preta como piche) o fez
sentir-se sofisticado e era mais barata e mais eficaz. Kurt se tornou guloso.
Naquela sexta-feira, quando Wendy bateu á porta do quarto de seu filho ao
meio-dia, ele atendeu de cueca, parecendo um trapo. Courtney ainda estava
sob as cobertas. havia bandejas de comida por toda parte e, depois de
apenas dois dias na suíte, o chão estava forrado de lixo. "Kurt, por que você
não chama uma arrumadeira?" perguntou Wendy. "Ele não pode", respondeu
Courtney. "Elas roubam a cueca dele."
A semana marcou um ponto decisivo na relação de kurt com a
banda e a equipe. Até então, todos estavam cientes de que Kurt estava
viciado — e Courtney naturalmente havia sido o bode expiratório para a
atitude cada vez mais azeda de Kurt. Mas em Nova York ficou claro que era
Kurt quem se achava em um caminho autodestrutivo, e que era ele quem
tinham todas as marcas oficiais de um viciado ativo. Embora todos
soubessem que Kurt estava abusando das drogas — supunham que fosse
heroína —, ninguém sabia o que fazer a respeito. Já era muito difícil
convencer Kurt a fazer uma verificação de som ou pentear o cabelo, quanto
mais conseguir que ele ouvisse conselhos relativos a seus assuntos
particulares. Kurt e Courtney se mudaram para um hotel diferente do resto
do grupo; estavam a apenas alguma quadras de distância, mas a medida
funcionaria como uma metáfora para uma crescente cisão dentro da banda.
"àquela altura", lembra Carrie, "Já tinha havido uma separação no
acampamento do Nirvana entre as pessoas "boas" e as más". Kurt, Courtney
e eu éramos as pessoas más. Tinhamos essa sensação de que não éramos
bem-vindos, e isso se tornou mais negativo."
Os gerentes do Nirvana também estavam perdidos, não sabiam o
que fazer. "Foi um tempo muito sinistro", disse Danny Goldberg. "Foi a
primeira vez que me dei conta de que ele tinha problemas com drogas." Ao
mesmo tempo que a Gold Mountain estava se empenhando em chamar a
atenção para a apresentação da banda no Saturday Night Live, os
empresários de kurt estavam reservadamente rezando para que o problema
da droga não os envergonhasse ou descarrilasse seu crescente sucesso
financeiro. "Eu só esperava que as coisas não fugissem do controle
publicamente", lembra Goldberg.
E então, como se as coisas já não estivessem bastante turbulentas,
veio a noticia de que no próximo número da revista Billboard, Nevermind
chegaria ao primeiro lugar, derrubando o Dangerous de Michael Jackson.
Embora Nevermind tivesse oscilado pelo sexto lugar durante todo o mês de
dezembro, o disco tinha saltado para o topo com base nas 373.520 cópias
vendidas na semana depois do Natal. Muitas dessas compras aconteceram
de uma maneira incomum, de acordo com Bob Zimmerman, da Tower
Records: "Assistimos a um número incrível de crianças devolvendo os CDS
que seus pais lhe haviam dado de Natal e levando Nevermind em troca, ou
usando o dinheiro que haviam ganho de presente para comprar o CD".
Nevermind pode ter sido o primeiro disco a alcançar o primeiro
lugar apoiado por trocas. Naquela sexta-feira, Kurt e Courtney deram uma
entrevista para a matéria de capa de Sassy, uma revista para adolescentes.
Kurt havia recusado pedidos do new York Times e da Rolling Stone, embora
tivesse concordado com essa matéria porque achava que a revista era muito
idiota. Depois da entrevista, os dois saíram apressados para uma filmagem
na MTV. Mas Kurt não se sentia bem e o que estava programado para ser
um show de uma hora terminou depois de 35 minutos. Kurt perguntou a
Amy Finnerty: "Você pode me levar embora daqui?". Ele queria visitar o
Museu de arte Moderna.
Seu humor melhorou consideravelmente quando se viu lá dentro —
era a primeira vez que visitava um grande museu Finnerty encontrou
dificuldade para acompanhar Kurt enquanto ele corria de uma ala para
outra. Ele parou quando um fã afro-americano se aproximou e pediu um
autógrafo. "Ei cara, eu adoro o seu disco", disse o sujeito. Uma centena de
autógrafos tinham sido pedidos a Kurt nesse dia, mas esta foi a única vez
que ele respondeu com um sorriso. Kurt disse a Finnerty: "Nenhum negro
ainda havia dito que gostou de meu disco".
Depois do museu, Kurt voltou à NBC para mais um ensaio para o
Saturday Night Live. Desta vez, os produtores do programa queriam que a
banda tocase somente as canções que iriam apresentar no programa, e por
isso o Nirvana tocou "Teen Spirit" e "Territorial Pissing". Este segundo
número não era do gosto da rede de televisão e seguiu-se uma discussão.
Kurt já tivera trabalho bastante para o dia e foi embora.
Na tarde do sábado, dia do programa na televisão, a banda passou
por uma sessão programada de fotos no estúdio de Michael Lavine. Kurt
chegou lá, mas estava tão drogado que continuou dormindo, embora
permanecesse em pé. Reclamou que se sentia mal. "Ele estava tão drogado
naquele dia", lembra Lavine, "que não conseguia manter os olhos abertos."
No começo de janeiro, Kurt estava tão gravemente viciado em
heroína que uma dose normal já não fazia com que se sentisse eufórico:
como todos os viciados, ele precisava de um suprimento diário cada vez mais
simplesmente para conter os sintomas da abstinência, Mas a heroína de
Nova York era porosa e Kurt estava usando mais do que era prudente, numa
tentativa de obter a euforia, Ele havia decidido se drogar cedo naquele
sábado para estar atuante quando o Saturday Night Live começasse. Em sua
tentativa de regular corretamente a dose — uma tarefa impossível de um
papelote de heroína para o seguinte —, ele havia tomado demais e estava em
estado de estupor durante a tarde No momento em que a banda se dirigiu
para a NBC, Kurt estava do lado de fora do estúdio, vomitando. Ele passou
as últimas horas antes do programa deitado num sofá, ignorando o anfitrião
Rob Morrow e se recusando a dar um autógrafo para a filha do presidente da
NBC. Sua única alegria veio quando ele falou ao telefone com "Weird Al"
Yankovic e concordou com uma paródia de "Teen Spirit". Na hora do
programa, ele estava novamente sóbrio e infeliz.
Antes do primeiro número, silêncio no estúdio enquanto Morrow
apresentava a banda. Kurt parecia péssimo — seu rosto estava pastoso, um
trabalho de tintura malfeito deixara seu cabelo com cor de geléia de
framboesa, e ele parecia prestes a vomitar — o que era verdade. Mas, tal
como em muitas vezes em sua vida, com as costas contra a parede, ele
reagiu com um excelente desempenho.
Quando Kurt atacou o primeiro solo de guitarra de "Teen Spirit", G.
E. Smith, líder da banda do Saturday Night Live, voltou-se para o técnico de
som do Nirvana, Craig Montgomery, e disse; "Meu Deus, esse cara sabe
mesmo tocar". Embora não fosse a melhor versão de "Teen Spirit" que o
Nirvana já tivesse tocado, havia energia crua na canção o bastante para que
ela sobrevivesse até a um desempenho desbotado e ainda soasse
revolucionária. Ela funcionou na televisão ao vivo porque a presença da
banda contava metade da história da canção: Krist se agitava e dançava com
sua barba e cabelos compridos, parecendo um Jim Morrison maluco,
alongado; Grohl, sem camisa golpeava a bateria com o espírito de John
Bonham: e Kurt parecia possesso. Kurt pode não ter estado 100%, mas
todos que estavam assistindo ao programa sabiam que ele estava puto com
alguma coisa. O garoto que passara a juventude brincando com filmes
super-8 sabia como se vende para a câmera e, em seu alheamento e
densidade, era hipnótico assisti-lo.
Quando a banda voltou para o número seguinte, tudo se resumiu
em catarse. Tocaram "Territorial Pissing" contra a vontade do produtor, e
terminaram com a destruição de seus instrumentos. Kurt começou o ataque
perfurando um alto-falante com sua guitarra; Grohl derrubou os tambores
do pedestal e Krist os atirou para o ar. Aquilo certamente foi premeditado,
mas a raiva e a frustração não eram fingidas. Em um "foda-se" final para os
Estados Unidos, enquanto passavam os créditos do programa Kurt e Krist se
beijaram na boca (a NBC editou este final em todas as reprises do programa,
temendo que fosse visto como ofensivo". Mais tarde Kurt afirmou que o beijo
não fora idéia dele, feito para provocar "os reacionários e homófobos" lá de
Aberdeen, mas, na verdade, ele havia se recusado a voltar para a despedida
final até que Krist o puxou para o palco. "Eu caminhei direto até ele", lembra
Krist, "e o agarrei e prendi minha língua na boca dele, beijando-o. Eu só
queria fazê-lo sentir-se melhor. No final daquilo tudo, eu disse a ele: "Vai dar
tudo certo. Não é tão ruim assim. Certo?". Embora Kurt Cobain tivesse
acabado de conquistar os poucos jovens americanos que ainda não estavam
apaixonados por ele, não se sentia um conquistador. Como na maioria dos
dias, ele se sentia um lixo Kurt dispensou a festa do elenco do Saturday
Night Live e rapidamente saiu do estúdio. Ele havia assumido o
compromisso de dar uma entrevista, mas, como sempre, estava horas
atrasado. Amy Finnerty estava sentada no apartamento de Janet Billing nas
primeiras horas da madrugada quando Kurt ligou perguntando se ela podia
lhe emprestar algum dinheiro. Ele tinha um disco no primeiro lugar nas
paradas, tinha acabado de tocar no Saturday Night Live, mas disse que
estava sem dinheiro. Eles foram até um caixa eletrônico e Billing lhe deu
quarenta dólares.
Uma hora depois, quando Kurt apareceu na sala do Dj Kurt st.
Thomas, o clima era de conversa, e ele deu uma das entrevistas mais longas
de sua vida. O propósito da entrevista era criar um CD promocional para
emissoras de rádio. Kurt contou o caso das "armas no rio", as histórias de
comer espetos de salsicha quando morava com Dave e relatos de Aberdeen
como uma cidade de fazendeiros e reacionários. Quando Kurt partiu, duas
horas depois, Mark Kates da DGC se virou para St. Thomas e disse: "Uau,
não posso acreditar no quanto você conseguiu dele. Ele nunca fala assim.
Mas eu não sei tudo isso é verdade".
Varias horas depois, quando o sol estava se erguendo na manhã de
domingo, Courtney descobriu que Kurt estava com overdose de heroína que
ele havia tomado depois da entrevista. Se fora intencional, não se sabe, mas
Kurt era um viciado com fama de descuidado. Ela salvou sua vida
ressuscitando-o, e depois disso ele parecia tão bem como nunca havia
estado antes.
Naquela tarde, o casal participou de outra sessão de fotos com
Lavine para a capa da Sassy — uma foto mostrava Kurt beijando a face de
Courtney e a revista a usou para capa. Menos de oito horas antes, Kurt
estivera em coma.
Na entrevista com Christina Kelly, da Sassy, Kurt discutiu o
noivado dos dois: "Minha atitude mudou drasticamente e não posso
acreditar o quanto estou muito mais feliz e até menos voltado para a
carreira. Às vezes, eu até me esqueço de que estou numa banda, de tão cego
pelo amor. Eu sei que isto soa embaraçoso, mas é verdade. Eu poderia abrir
mão da banda agora mesmo. Ela não tem importância. Mas eu estou de
composição, Kurt foi ainda mais efusivo: "Eu estou tão arrebatado pelo fato
de estar apaixonado nessa escala que não sei como minha música irá
mudar".
Mas o comentário mais irônico veio quando Kelly perguntou se o
casal considerava ter um bebê. Kurt respondeu: "Eu só quero estar bem
situado e seguro. Quero ter certeza de que temos uma casa e dinheiro
guardado no banco". Ele não sabia que Courtney já estava grávida.

HEART SHAPPED BOX

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